Um marco histórico: Terra com temperatura de 2 graus acima da média duas vezes em Novembro

Com a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28) prestes a começar, os dias 17 e 18 de Novembro bateram recordes, num ano que deve ser o mais quente desde que há registos.

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Moradora no Rio de Janeiro: o Brasil viveu este mês uma forte onda de calor Isabel Infantes/REUTERS
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No dia 17 de Novembro, foi ultrapassado um marco das alterações climáticas. A temperatura média global da Terra foi 2,07 graus Celsius mais elevada do que era antes da Revolução Industrial, quando começámos a atirar para a atmosfera gases com efeito de estufa. E no dia seguinte, 18 de Novembro, a temperatura deverá ter sido 2,06 graus mais elevada do que o ponto de referência, embora os dados não estejam ainda confirmados, diz o Serviço de Alterações Climáticas Copérnico (C3S) da União Europeia.

Estes valores, registados poucos dias antes de se iniciar a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP28, no Dubai), a 30 de Novembro, são mais uma prova de que o aquecimento acelerou durante este ano de 2023. No Verão, em vários dias foram batidos recordes de temperatura média mais elevada e foi ultrapassado o limiar de 1,5 graus acima dos valores pré-industriais. A temperatura média para os meses de Verão foi de 19,63 graus este ano, o que é 0,83 graus acima dos valores dos últimos 83 anos, disse o C3S em Setembro.

A partir do momento em que a temperatura da Terra subir mais 1,5 graus, de forma consistente e não apenas durante alguns dias, as alterações climáticas tornar-se-ão de facto perigosas, consideram os cientistas. O Acordo de Paris é um compromisso entre os países signatários para controlar as emissões de gases com efeito de estufa, como o dióxido de carbono, para que a temperatura média do nosso planeta não suba mais do que 1,5 graus – ou, no máximo dos máximos, dois graus Celsius.

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Vários relatórios produzidos pelas Nações Unidas e outras entidades publicados nos últimos dias indicam que a limitação das emissões de gases de estufa que os países estão a fazer não está bem encaminhada para conseguir esses objectivos de temperatura. Na COP28, vai ser feito um balanço sobre o cumprimento do Acordo de Paris.

“Temos dois dias em que a temperatura global excede os níveis pré-industriais em mais de dois graus. Que isto aconteça no mesmo mês em que os líderes mundiais se vão reunir na COP28 para avaliar o progresso que se tem feito para o cumprimento do Acordo de Paris envia uma mensagem muito clara: o tempo de agir de forma decidida para controlar as alterações climáticas é agora”, disse o director do C3S, Carlo Buontempo, citado num comunicado de imprensa.

“Ultrapassar o limiar de dois graus durante alguns dias não quer dizer que violámos as metas do Acordo de Paris. Mas, quanto mais frequentemente excedermos este limite, mais graves serão os efeitos cumulativos destes momentos de ultrapassagem”, explicou Buontempo.

O ano de 2023 deverá ser o mais quente desde que há registos. É “virtualmente certo”, disse o Serviço de Alterações Climáticas do Programa Copérnico da União Europeia no início de Novembro, ao revelar que o mês de Outubro de 2023 teve a temperatura média global mais elevada alguma vez registada para esse mês. É mais um marco neste que está a ser um ano de recordes de temperatura e que já está a ser o ano mais quente desde que existem registos climáticos.

Para se poder decretar oficialmente que este é mesmo o ano mais quente da história humana, fica a faltar apenas a confirmação oficial das poucas semanas que restam até terminar o ano — o que não parece gerar grandes dúvidas, porque se estima que as temperaturas estejam mais elevadas por causa do fenómeno climático El Niño e do aquecimento dos oceanos acima da média. Antes, 2016 tinha sido o ano mais quente.