Corte ilegal de madeira na Lousã: campanha pede 34 mil euros para reflorestar a serra

Cortes na serra da Lousã pararam em Outubro. Enquanto o Ministério Público investiga suspeitas de furto qualificado, uma associação tenta recuperar as zonas despidas. Esforços começam segunda-feira.

Foto
A Associação Vale do Xisto lançou um crowdfunding na segunda-feira para recolher 33.750 euros Tiago Bernardo Lopes
Ouça este artigo
00:00
03:21

Uma associação ambiental lançou uma campanha de angariação de fundos para reflorestar a zona da serra da Lousã que foi sujeita a um corte raso entre Setembro e Outubro deste ano. É mais um capítulo de um conflito entre uma empresa que alega ser a proprietária da madeira nos espaços atingidos pelos cortes e outras duas entidades que dizem ser as proprietárias dos terrenos — a Câmara Municipal e a startup portuguesa Silveira Tech Regeneration Village.

O corte das árvores nos terrenos em causa, que ficam numa zona da Rede Natura 2000,​ parou no fim de Outubro — um mês depois do início das operações e após a exploração de sete hectares de área florestal. Os trabalhos foram suspensos na mesma altura em que o Ministério Público abriu um inquérito ao caso. Segundo a Procuradoria-Geral da República, "investigam-se factos susceptíveis de integrarem o crime de furto qualificado".

Na tentativa de reparar os danos infligidos no terreno, a Associação Vale do Xisto (constituída em 2020 para apostar na regeneração ambiental dos 230 hectares do Casal da Silveira na serra da Lousã) organizou agora um crowdfunding, lançado na segunda-feira, para recolher 33.750 euros. O valor será investido na reflorestação da área cortada a partir de um plano de emergência gizado por sete especialistas na área — incluindo os membros da Silveira Tech.

Vinte e quatro horas depois de a campanha ter sido lançada, 17 apoiantes doaram um total de 390 euros. A angariação de fundos prolongar-se-á até 19 de Janeiro de 2024. Em declarações ao PÚBLICO, Manuel Vilhena, um dos promotores do crowdfunding e director executivo da Silveira Tech, adiantou que, já na próxima segunda-feira, 27 de Novembro, dar-se-á início a uma plantação de árvores autóctones numa área de um hectare junto à sede da Silveira Tech.

Segurar a terra

De acordo com o orçamento publicado pela associação, são necessários 900 euros para a compra de árvores de espécies autóctones (como os castanheiros e os carvalhos, por exemplo), 23.350 euros para a instalação de 12000 metros quadrados de vedação, que protegem as plantas dos predadores; e 9500 euros para a ripagem do solo, de modo a permitir o plantio e a infiltração de água.

Segundo a calendarização da associação, se a campanha alcançar os fundos necessários, a ripagem do solo e o início da instalação da vedação começarão já no próximo mês. Em Janeiro deverá terminar a colocação da vedação para depois se avançar para a elaboração de um programa de plantação com recurso a voluntários. A plantação das árvores autóctones será realizada em Fevereiro.

As comunidades na Lousã estão preocupadas com os impactos ambientais do corte raso com a entrada na época das chuvas, sobretudo porque alguns dos terrenos atingidos têm elevadas inclinações. Em locais com essas características, "o topsoil [a camada superficial do solo] será arrastado pela água encosta abaixo, poluindo os ribeiros": "Os animais que habitavam a zona já abandonaram o local. O terreno está agora despido e à mercê das acácias", descrevem na página dedicada ao crowdfunding.

Entretanto, o proprietário da empresa madeireira que explorou os recursos naturais nas zonas afectadas, António Bandeira, assegura que agiu dentro da legalidade na operação em que se pretendia cortar cerca de 25 hectares de floresta. A madeira explorada "foi adquirida a uma outra empresa, que, por sua vez, a comprou a particulares, que tinham o terreno", argumentou o empresário, dizendo que tem um contrato e facturas que comprovam essas transacções.