Greve nacional com mais de 80% de adesão, diz Sindicato Nacional dos Enfermeiros

O Sindicato Nacional dos Enfermeiros acusa o Governo de não responder aos “graves problemas que afectam os doentes” nem aos apelos “para que o ministro da Saúde se reúna com os sindicatos do sector”.

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Hospital de São José, em Lisboa. Greve nacional dos enfermeiros decorre esta segunda-feira Rui Gaudencio

O Sindicato Nacional dos Enfermeiros (SNE) iniciou às 8h desta segunda-feira uma greve de 24 horas devido à "ausência de resposta e indisponibilidade do ministro da Saúde em iniciar um processo negocial" com os profissionais. A adesão estimada a meio do dia, e quando já decorriam mais de cinco horas do início da paralisação, situa-se acima dos 80%, disse ao PÚBLICO o presidente do SNE, Emanuel Boieiro.

O dirigente sindical salienta a adesão significativa em unidades do interior do país, o que não é habitual nem costuma ser realçado, diz. "Está a acontecer com esta greve e isso é positivo para nós e negativo para o Governo", acrescenta, depois de indicar os dados transmitidos pelos delegados sindicais nas unidades hospitalares e pelos presidentes das delegações regionais do SNE repartidas em Norte, Centro e Sul, com quem esteve reunido ao longo da manhã.

Nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira, a adesão foi inferior, diz ainda, sem adiantar dados concretos por não ter ainda a informação toda reunida.

À espera de um telefonema

"Para nós, mais importante do que os números desta greve, é o que o Governo se propõe fazer", clarifica o presidente do sindicato que existe apenas há um ano e meio. "Certo é que o ministro [da Saúde] Manuel Pizarro, em 14 meses de mandato, desde que entrou em funções, nunca se reuniu com os enfermeiros, a maior classe profissional da saúde."

Em comunicado, o SNE acusara já o Governo de não responder aos "graves problemas que afectam os doentes" nem "aos apelos do Presidente da República para que o ministro da Saúde se reunisse com os sindicatos do sector".

Por isso, "dada a manifesta ausência de resposta e indisponibilidade do ministro da Saúde em iniciar um processo negocial com os enfermeiros", o SNE convocou uma greve nacional, "a que se juntarão novas formas de luta". Os enfermeiros reclamam "a negociação de um acordo colectivo de trabalho global aplicável aos enfermeiros e a revisão da tabela salarial".

"Vamos esperar até às 8h da manhã de terça-feira, quando terminar a greve de 24h, para sermos contactado pelo ministro a convocar-nos para uma reunião. E, se isso não acontecer, veremos o que fazer."

O SNE refere que "a maioria das reivindicações dos enfermeiros se relaciona com a defesa da qualidade da enfermagem e do acesso dos doentes a cuidados de saúde em tempo útil e de qualidade", e propõe "condições de trabalho dignas, planeamento e organização do serviço público e uma política correcta de gestão de recursos humanos", com "aumento da capacidade de resposta, desde os cuidados de saúde primários, passando pelos internamentos hospitalares, serviços de urgência, blocos operatórios e pela rede nacional de cuidados continuados integrados".

Deveres deontológicos

Aos enfermeiros, o SNE pede que "denunciem todas as situações de potencial falência de segurança clínica, que podem causar dano ou custar a vida aos doentes", aconselhando a entrega de "declarações de denúncia à Ordem dos Enfermeiros" e recomendando que não prestem serviço em condições de falta de segurança clínica, de acordo com as suas regras deontológicas.

Na quarta-feira, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, disse que o Governo está a examinar as condições para voltar a negociar com os sindicatos médicos, reconhecendo que, apesar de estar em plenas funções, "não pode olhar para o futuro como antes da crise política".

Notícia actualizada às 13h09