Lagarde defende criação de um regulador de mercados na UE idêntico ao dos EUA

Líder do BCE criticou falta de avanço na união dos mercados de capitais na UE, medida necessária para financiar a transformação da economia.

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Christine Lagarde defende que união dos mercados de capitais na UE é necessária para financiar a transformação da economia Reuters/JOHANNA GERON

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, defendeu esta sexta-feira a criação na União Europeia (UE) de uma Comissão de Valores Mobiliários semelhante à SEC nos Estados Unidos.

Ao inaugurar um congresso da banca europeia em Frankfurt, Lagarde disse que actualmente a Autoridade Europeia de Valores e Mercados (ESMA, na sigla em inglês) desempenha algumas das funções, mas não está realmente unificada.

"A supervisão permanece sobretudo a nível nacional, o que fragmenta a aplicação da legislação na UE", os poderes estão divididos entre vários reguladores nacionais, advertiu.

"Criar uma SEC [Securities and Exchange Commission] europeia, por exemplo, ampliando os poderes da ESMA poderia ser a resposta. Necessitaria de um mandato amplo, incluindo supervisão directa, para mitigar riscos sistémicos colocados pelas grandes empresas transfronteiriças e pelas infra-estruturas de mercado", disse Lagarde.

A líder do BCE criticou que a união dos mercados de capitais na UE não avance e considerou que essa medida é necessária para financiar a transformação da economia.

Lagarde disse também que "é claro que as condições para o desenvolvimento dos mercados de capitais na Europa ainda não foram reunidas" e criticou que tenha faltado um objectivo comum nos últimos dez anos e que governos e empresas reduzam os seus investimentos.

Segundo a presidente do BCE, a Europa, tal como outras regiões, enfrenta problemas como a desglobalização, as alterações demográficas e a descarbonização e estão a aumentar os sinais de que a economia está a fragmentar-se em blocos concorrentes.

O envelhecimento da população vai tornar necessárias novas tecnologias para produzir mais com menos trabalhadores e o aquecimento global torna necessário avançar na transição verde sem mais atrasos, acrescentou.

A Comissão Europeia (CE) calcula que a transição verde exigirá investimentos adicionais de 620 mil milhões de euros anuais em média até 2030 e a transição digital outros 125 mil milhões de euros anuais.

Os governos têm agora os níveis de dívida mais elevados desde a Segunda Guerra Mundial e o fundo de recuperação europeia termina em 2026, lembrou Lagarde.

Os bancos são importantes no financiamento da transformação da economia, mas não se pode esperar que assumam tantos riscos nos seus balanços, considerou.