“Irei a Paris de qualquer maneira. Se não for como atleta, já tenho hotel pago”

A nove meses dos Jogos, João Costa quer continuar a ser olímpico, João Ribeiro e Messias Baptista querem manter a canoagem portuguesa no topo e Iuri Leitão já se vê a acelerar na capital francesa.

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João Costa já esteve em cinco edições dos Jogos Olímpicos INÁCIO ROSA
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Já ninguém terá muito a ensinar a João Costa sobre Jogos Olímpicos. Desde Sydney 2000, o atirador português já esteve em cinco, mas ainda não tem garantida a presença naqueles que serão os seus sextos. E, no entanto, o João “Pistolas”, como ficou conhecido, foi um dos participantes num fórum organizado pela Comissão de Atletas Olímpicos sobre Paris 2024. O atirador português garante que vai estar na capital francesa, mesmo que não consiga a qualificação na prova de pistola de ar comprimido a 10m, para a qual ainda terá duas oportunidades de agarrar o bilhete.

“Irei a Paris de qualquer maneira. Se não for como atleta, já tenho o hotel pago”, reforça o atirador de 59 anos, lamentando que a qualificação agora seja mais difícil do que quando começou. “Reduziram o número de atletas e tiraram-me uma modalidade [pistola livre a 50m já não faz parte do programa]”, diz o militar de profissão. Para João Costa estar em Paris como atleta, terá ainda duas provas que dão lugares, os Europeus e o torneio de qualificação, ambos em 2024 e cada um a dar dois lugares, havendo ainda mais uma vaga a atribuir através do ranking mundial.

Seja na bancada ou na carreira de tiro, teremos mesmo João Costa em Paris, ele que “não sonhava com os Jogos Olímpicos quando era novo”. Já esteve em cinco e tudo começou há 23 anos, do outro lado do mundo. O atirador emociona-se e faz várias pausas no discurso quando lhe pedimos para ir buscar essa experiência à memória.

“Fomos bem recebidos pelos portugueses que lá estavam, ofereceram-nos um jantar, tivemos um bailarico, falaram connosco. Viram-nos como Portugal, faziam conversa connosco. Eu trouxe coisas para entregar à família… Era pessoal que não vinha a Portugal há 30 anos e que nos viu ali como família.”

“A bandeirinha”

A pouco menos de nove meses do início dos Jogos de Paris, cuja cerimónia de abertura está marcada para 11 de Agosto, ainda está muito por decidir no que diz respeito à qualificação. Para João Ribeiro e Messias Baptista, essa incerteza desapareceu com o título mundial em K2 500m conquistado a 27 de Agosto passado, em Duisburgo. Já não é de agora que a canoagem portuguesa está no topo do mundo, contando agora com mais uma embarcação que sabe como pagaiar para chegar à sempre desejada medalha.

“Quando comecei, sempre que aparecia a bandeirinha de Portugal nas ‘startlists’, era um bocado desvalorizada. Agora já não é assim. Quando aparece a bandeira, vêem que é um barco de nível”, conta João Ribeiro, o mais experiente da dupla, 34 anos e duas participações olímpicas (2016 e 2021). Quanto a Messias Baptista, dez anos mais novo, vai estar nos seus segundos Jogos, mas, ao contrário do seu parceiro, já entrou na canoagem com Portugal a andar na frente. “Cresci já com a canoagem em evolução, e a ver o João a competir. Partilhar o barco com ele é uma honra”, reforça.

E a diferença de idades, é um factor? Responde João Ribeiro, que já foi o “jovem” em outras embarcações. “É uma experiência diferente, nem sempre estamos de acordo, mas o mais importante é que nos respeitamos um ao outro. Não é por ter mais experiência que tenho uma opinião mais válida”, diz. Mas há algum chefe de equipa? “Hmmm… Não, não”, diz entre sorrisos o mais novo da dupla. “O chefe maior é o nosso treinador.”

A vertigem da pista

O ciclismo é uma modalidade com tradição e apelo popular em Portugal. Na estrada. O ciclismo em pista não era, nem uma coisa, nem outra, até há relativamente pouco tempo. Tudo mudou graças a atletas como Iuri Leitão, que, em Agosto passado, se sagrou campeão mundial no Omnium, disciplina que engloba quatro provas. Ele, Maria Martins e os irmãos Rui e Ivo Oliveira são os nomes que colocaram o ciclismo de pista português na rota dos grandes resultados. Se isso se vai traduzir em grandes resultados olímpicos? Primeiro, é preciso chegar lá.

“Temos de continuar a ter os desempenhos que temos tido até agora, a qualificação está bem alinhada, estamos em segundo no ranking nas nações, mas temos de manter os pés bem assentes na terra”, diz o ciclista de 24 anos, relembrando a qualificação falhada por pouco para Tóquio 2020 – Maria Martins qualificou-se, mas nenhum da equipa masculina esteve nesses Jogos “por um lugar”. Agora, é esperar que fechem os rankings de qualificação e, só depois, pensar em acelerar no velódromo olímpico.

E como se explica a evolução vertiginosa da modalidade em Portugal? Iuri Leitão diz tem tudo a ver com a competência de um homem, Gabriel Mendes, o seleccionador nacional. “Foi uma selecção que começou do zero. Não tínhamos nenhuma tradição e foi o nosso seleccionador que teve de procurar aprender e formar-se para nos passar o conhecimento.”

Última pergunta: estrada ou pista? “O que mais fascina no ciclismo de pista é a adrenalina. São corridas rápidas e intensas em que precisamos de tomar decisões em fracções de segundo. Temos de estar sempre muito atentos. Não é melhor que estar na estrada, é diferente.”

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