Mais de 50 deputados trabalhistas ignoram Starmer e votam a favor de cessar-fogo em Gaza
Moção foi chumbada pela maioria da Câmara dos Comuns, mas vários deputados do Labour com cargos importantes na oposição demitiram-se ou foram demitidos por causa do seu voto.
O conflito entre Israel e Hamas e a catástrofe humanitária na Faixa de Gaza estão na origem de uma pequena crise no Partido Trabalhista, a maior força política da oposição no Reino Unido e a grande favorita à vitória nas eleições legislativas previstas para o próximo ano.
Na quarta-feira à noite, 56 deputados do partido de centro-esquerda ignoraram a disciplina de voto imposta pela liderança de Keir Starmer e votaram a favor de uma moção, apresentada pelo Partido Nacional Escocês (SNP), que pedia um cessar-fogo imediato em Gaza.
Uma vez que o Partido Conservador, no Governo, tem a maioria dos deputados na Câmara dos Comuns, a moção dos nacionalistas escoceses foi chumbada, com 293 votos contra e 125 a favor.
Apesar de o número de militantes e de políticos trabalhistas descontentes com a posição oficial da direcção do Labour sobre o conflito estar a aumentar a cada dia, Starmer diz que ainda não está preparado para defender um cessar-fogo, argumentando que essa decisão teria como principal efeito o congelamento do conflito e o reforço do Hamas.
Por isso, o líder do partido exigiu aos deputados que se abstivessem na moção do SNP e tentou compensar, apresentando uma outra moção, que criticava as actividades militares israelitas no enclave. Para além disso, ameaçou (e cumpriu) com a demissão todos os frontbenchers que não cumprissem a disciplina de voto.
Os frontbenchers são os deputados que se sentam na fila da frente da bancada da oposição na câmara baixa do Parlamento de Westminster e que fazem parte de um “governo sombra”, liderado por Starmer, que tem como tarefa escrutinar e contestar os ministros do Governo em funções.
Antes da votação, alguns destes deputados do Labour com cargos importantes anunciaram que os abandonavam para poderem votar em consciência; depois da votação, outros dez que apoiaram a moção do SNP foram demitidos.
“Em conjunto com líderes de todo o mundo, tenho apelado ao cumprimento do direito internacional, a pausas humanitárias para permitir a entrada de ajuda, alimentos, água, serviços e medicamentos, e manifestei as nossas preocupações com a escalada de vítimas civis”, lembrou Starmer, num comunicado divulgado após a “rebelião”.
“Lamento que alguns colegas se tenham sentido incapazes de apoiar esta posição nesta noite”, lamentou. “Liderar significa fazer aquilo que está certo. É o mínimo que a população merece. E é o mínimo que a liderança exige.”