O Porto/Post/Doc faz a festa dos dez anos a contar histórias

O festival de cinema do real inaugura esta sexta-feira a sua décima edição — é a primeira que decorre no Batalha, com uma programação que reivindica a dimensão de “serviço público”.

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Time Takes a Cigarette, de Aya Koretzky, rodado no Porto, encerra a décima edição do festival DR
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Sérgio Gomes, que com Dario Oliveira partilha a direcção do festival Porto/Post/Doc, tem a dizer o seguinte: “Um festival de cinema não é apenas ir ao cinema, é uma celebração. Um festival onde entro e saio, sem uma experiência suplementar, não é um festival de cinema.”

É essa “experiência suplementar”, essa construção de comunidade com vontade de tirar as pessoas do sofá, que o Porto/Post/Doc quer oferecer anualmente, abrindo espaço na Invicta para aquilo a que se convencionou chamar “cinema do real” — o documentário e as suas experiências contíguas, híbridas, injectando na forma documental ficção e experimentalismo.

O Porto/Post/Doc chega em 2023 aos dez anos de existência, abrindo esta sexta-feira, pelas 21h, no Batalha Centro de Cinema, com a projecção de Vai no Batalha, o novo documentário de Pedro Lino, e prolongando-se até dia 25, altura em que encerrará com a curta-metragem Time Takes a Cigarette, de Aya Koretzky, primeiro resultado da parceria de produção com a Filmaporto.

Ao longo desta década, o festival conseguiu já impor uma linha de programação muito pessoal, centrada em dois concursos principais (Competição Internacional e Cinema Falado, para filmes de língua portuguesa) e duas competições secundárias (Cinema Novo, para filmes de escola, e Transmission, para documentários musicais). A estes juntam-se um sem-número de secções paralelas, focos de autor (este ano María Elorza, Alessandro Comodin e a equipa formada por Éric Baudelaire, Claire Atherton e Claire Mathon) e programas educativos que pretendem fazer, nas palavras dos seus directores, “um serviço público” de “sensibilização dos jovens”.

É, aliás, nesse sentido que Dario Oliveira explica duas das escolhas da edição: o programa temático Por Onde Andam os Nossos Contadores de Histórias?, com documentários sobre Nam June Paik, Werner Herzog ou Jonas Mekas, a par de filmes de Paul Schrader ou Robert Frank; e Hip Hop 50: Uma Celebração, combinando documentários sobre o género musical com debates com a presença de rappers como Capicua, Serial ou Maze.

“Vejo no rapper um grande contador de histórias — um griot, um herdeiro da oralidade, do acto de contar histórias para resistir, continuar a resistir. E isso é algo que extravasa completamente [para] o cinema”, como define o director. “Um fã do festival escrevia outro dia numa rede social que 'ir ao cinema é um acto de resistência'. E cada vez é mais problemático conseguir que os mais novos percebam que o cinema é mesmo importante para a sua formação de cidadania. É para esses que estes programas são pensados.”

Este eixo de programação sobre “contadores de histórias” inscreve-se na lógica de sempre do Porto/Post/Doc, cujo slogan de lançamento foi “as nossas histórias são reais”. Mas também, segundo Dario Oliveira, “numa necessidade natural de centrarmos o olhar no grande ecrã”, “de explicar como podemos pensar a partir de um filme.” E argumenta: “Há uma reflexão social a fazer e um dos papéis de um festival de cinema deve ser chamar as pessoas para esta reflexão. Hoje em dia, o público de um festival já tem a noção de que vai à procura de uma certa vivência social.”

Daí que o mais importante para a equipa seja que o festival cresça de forma orgânica, e não forçada — “não em número de salas nem na dimensão mediática, mas sim na sua importância para a cultura da cidade e do Grande Porto, para não dizer da região”, diz Dario Oliveira. “O nosso trabalho tem crescido na ligação que temos com o tecido cultural da cidade, com a manutenção do público, com a inclusão na escola…”

No décimo aniversário, o Porto/Post/Doc instala-se também no renovado Batalha, novo “centro nevrálgico” do festival (mantendo-se o Passos Manuel como segunda sala), depois de em anos anteriores ter estado sediado no Rivoli, sala municipal mais virada para as artes performativas. Dario Oliveira aponta que, desde que o festival começou, “a cidade mudou muito”, apontando a “renascença” do cinema de rua com a reabertura do Trindade e, há um ano, do Batalha, como salas que propõem filmes “52 semanas por ano”.

“O Rivoli foi a melhor coisa que nos poderia ter acontecido na altura”, explica, “mas acredito que o cinema deve ser visto nas salas de cinema, e o Rivoli [tal como existe hoje] é uma sala multiusos. Dez anos depois, o Batalha é a melhor coisa que nos podia acontecer: podermos ter ali o quartel-general durante uma semana, poder receber ali as pessoas, num cinema histórico, é fantástico.”

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