Pedro Lino vai no Batalha abrir o Porto/Post/Doc
A mudança de instalações do festival, agora ancorado no Batalha Centro de Cinema, assinala-se com um documentário sobre a própria sala, mesmo que o filme não cumpra todas as expectativas.
Para um festival que desde sempre procurou mexer com a cinefilia e com o acto de ir ao cinema no Porto, era irresistível abrir esta primeira edição em que tem como sede o novo Batalha Centro de Cinema com um título sobre o próprio cinema Batalha. Ainda mais quando o seu autor é Pedro Lino, autor de um bem interessante documentário sobre o cineasta italiano Rino Lupo, ligado umbilicalmente aos primórdios do cinema em Portugal e no Porto.
Vai no Batalha, com que o Porto/Post/Doc abre esta sexta-feira a sua décima edição, às 21h, tem por isso um invejável peso aos ombros — e um peso do qual, dizemo-lo com alguma tristeza, não está à altura. Acreditamos que, com o material de arquivo que sabemos existir sobre o passado do edifício, o realizador não poderia fazer muito mais; mas o problema está menos no material e mais na direcção (ou melhor, nas direcções) que lhe dá.
Há uma história mais ou menos linear do edifício (e, mais latamente, da Neves & Pascaud, a firma de exibidores que é ainda hoje sua proprietária), da sua origem como Salão High-Life até à recente renovação e reabertura, passando pelos seus anos de glória. Há memórias pessoais de gente com ligações directas à sala — Alexandre Alves Costa, filho do cineclubista portuense Henrique Alves Costa e arquitecto responsável pelo actual projecto de renovação, e Margarida Neves, descendente dos fundadores da sala, que dialogam em off (com a actriz Paula Guedes a dar voz a Margarida). E há uma tentativa de explicar a importância da sala como marco cultural do Porto (talvez o lado mais fraco, mais forçado, do filme).
“Saltando” entre estas três linhas condutoras, Vai no Batalha é voluntarioso, sincero, mas fica “perdido” num limbo indeciso, exala um aroma de “compromisso”, parece resignar-se à linguagem de "audiovisual para televisão" que o parece nortear. São apenas 53 minutos (formato tradicionalmente dirigido à exibição televisiva ou nos canais de cabo) procurando satisfazer públicos locais e internacionais (o que explica a invocação repetida de Manoel de Oliveira e o lado de “pequena história do cinema português no Porto” que emerge a espaços).
Vai no Batalha está longe de ser desinteressante — objectos como este, que procuram recuperar a história sociocultural esquecida, são raros e merecedores de toda a importância que se lhes quiser dar. Mas deixa água na boca, bem como a sensação de que talvez este não fosse o filme que Pedro Lino queria fazer, antes o que acabou por poder fazer.