Cavalos-marinhos resgatados da Trafaria foram devolvidos ao estuário do Tejo

Em Março de 2022 foram recolhidos e enviados 23 animais para o Oceanário. No dia 31 de Outubro, foram devolvidos 19 ao estuário do Tejo e trabalha-se agora pela sua conservação no local.

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Os cavalos-marinhos passaram mais de um ano no Oceanário de Lisboa DR
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A 31 de Março foram devolvidos à liberdade, no estuário do Tejo DR
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Um ano e sete meses depois de 23 cavalos-marinhos de duas espécies terem sido retirados do seu habitat junto a um pontão na Trafaria, em Almada, 19 deles foram devolvidos ao estuário do Tejo, no mesmo concelho. Quatro não sobreviveram à sua estadia no Oceanário de Lisboa, mas os restantes vão agora continuar a ser monitorizados pelas equipas que os acompanham desde o ano passado. Já as cinco marinhas recolhidas na mesma altura, reproduziram-se, e foram devolvidas à liberdade, já em Março, com cerca de 100 indivíduos resultante dessa reprodução.

A operação de recolha de duas espécies de cavalos-marinhos (quatro cavalos-marinhos comuns, Hippocampus hippocampus, e 19 cavalos-marinhos-de-focinho-comprido, Hippocampus guttulatus) e das marinhas (Syngnathus acus) aconteceu ao longo de dois dias do final de Março do ano passado, depois de o pontão da Trafaria junto ao qual se tinham instalado ter desabado, obrigando a obras na estrutura. A intervenção foi coordenada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), com o apoio de investigadores do MARE-ISPA e do Oceanário. No passado dia 31 de Outubro, as mesmas entidades, com o apoio da Câmara de Almada, devolveram os cavalos-marinhos ao seu habitat natural.

Dos 23 cavalos-marinhos iniciais, um cavalo-marinho comum e três cavalos-marinhos-de-focinho-comprido, não sobreviveram, o que não é de estranhar, dado que "o ciclo de vida destes animais é relativamente curto", disse Rui Pombo, director regional de Lisboa e Vale do Tejo do ICNF. "Apesar de ainda se saber muito pouco, a idade destes organismos pode ir até aos 5 anos (6 em cativeiro), e não tínhamos a informação da idade de cada um dos indivíduos capturados", acrescentou, justificando assim as perdas que ocorreram.

Uma espécie protegida

Em Portugal, os cavalos-marinhos têm um estatuto especial de protecção da espécie e do seu habitat desde Maio de 2021, que faz parte de um decreto-lei que define o regime jurídico de protecção de espécies enumeradas nas convenções de Berna e de Bona. A maior concentração desta espécie no país é associada à Ria Formosa, mas nos últimos anos os dados dos investigadores apontam para uma redução da espécie nesta zona na ordem dos 96%. Uma situação não muito diferente da que se vive no resto do mundo, onde as alterações climáticas, a degradação do habitat e o comércio ilegal (é uma espécie muito procurada pela medicina tradicional chinesa) terão levado a uma diminuição da espécie na ordem dos 90%.

Por isso, o ICNF prefere não revelar o local exacto onde foram, agora, libertados os cavalos-marinhos recolhidos no ano passado, com Rui Pombo a dizer apenas que foi “no estuário do Tejo e no concelho de Almada”, num habitat “com a mesma tipologia” do anterior.

A zona foi previamente limpa, tendo sido retirada uma “rede fantasma” e outro lixo. A partir de agora as acções de monitorização e limpeza vão continuar, para garantir as melhores condições de sobrevivência possíveis para os 19 cavalos-marinhos que, ao contrário das marinhas, não se reproduziram no Oceanário. Algo que não surpreende Rui Pombo. “Esta espécie tem variadíssimos problemas de conservação, entre os quais o sucesso reprodutivo. E em cativeiro é menos provável que ocorra. Com a devolução ao meio natural terão uma maior capacidade de se reproduzir com sucesso”, diz.

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Dos 23 cavalos-marinhos recolhidos todos sobreviveram DR

Tudo isso será, agora, seguido pelos investigadores. Mas não só. A possibilidade de existir esta colónia de cavalos-marinhos na Trafaria foi transmitida ao ICNF em 2021, por pescadores que usavam aquele local. Agora, com o apoio da Câmara de Almada, está a ser "explorada" toda a costa do concelho, para identificar outras colónias, verificar o estado dos seus habitat e avaliar que medidas podem ser implementadas para os melhorar. “O estudo está a decorrer e não existem resultados definitivos, mas há algumas notícias interessantes. Digamos que existe potencial para ocorrência de outros núcleos”, adianta, apenas, Rui Pombo.

O trabalho deverá estar concluído dentro de alguns meses, permitindo ter um retrato mais abrangente dos cavalos-marinhos do Tejo, junto ao concelho de Almada.

Notícia actualizada, depois de o ICNF corrigir os dados que fornecera inicialmente, e que apontavam para a sobrevivência de todos os cavalos-marinhos inicialmente resgatados.