Biden e Xi encontram-se em São Francisco para voltarem a ser capazes “de pegar no telefone”
Um ano depois do último encontro presencial, os presidentes dos EUA e da China reúnem-se à margem da Cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico.
Desde que os presidentes dos Estados Unidos e da China se encontraram pela última vez, em Novembro de 2022, as relações entre as duas potências arrefeceram ao ponto do corte das indispensáveis comunicações entre os sectores militares de ambos os países. Um ano depois do encontro de Bali, Joe Biden e Xi Jinping vão voltar a estar face a face esta quarta-feira, em São Francisco, à margem da Cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico.
Reduzir a tensão entre Washington e Pequim para um nível em que, pelo menos, os dois líderes possam voltar a comunicar directamente será, para o Presidente norte-americano, a medida do sucesso do encontro, o segundo presencial desde que Biden assumiu o cargo em Janeiro de 2021.
“Voltar a um curso normal, em que nos correspondemos e somos capazes de pegar no telefone e falar um com o outro durante uma crise, e em que somos capazes de garantir que os nossos militares mantêm o contacto”, disse esta terça-feira Joe Biden, antes de deixar a Casa Branca rumo à Califórnia.
A China cortou as comunicações militares com os Estados Unidos no ano passado, depois da visita a Taiwan da então presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi. As relações bilaterais resvalaram ainda mais quando os EUA abateram, em Fevereiro, um balão espião chinês que sobrevoou o espaço aéreo norte-americano, mesmo que Pequim tivesse dito que foi apenas um acidente.
Em declarações na segunda-feira, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, afirmou que Joe Biden acredita que não há substituto para a diplomacia face a face para gerir o que, admite, é uma relação complexa.
“Prevemos que os líderes discutirão alguns dos elementos mais fundamentais da relação bilateral EUA-República Popular da China, incluindo a importância contínua de fortalecer as linhas abertas de comunicação e administrar a competição de forma responsável para evitar um conflito”, disse Sullivan, para quem o caminho faz-se através de uma diplomacia intensa. “É assim que esclarecemos percepções erradas e evitamos surpresas”, referiu.
Washington pretende obter resultados concretos da reunião e espera ver progressos no restabelecimento dos laços militares com a China e na luta contra o comércio de fentanil, que se tornou um flagelo nos Estados Unidos.
Nesse sentido, os dois líderes deverão anunciar um acordo que prevê que Pequim reprima o fabrico e a exportação de fentanil, segundo noticiou esta terça-feira a Bloomberg. Segundo o acordo, que estará ainda a ser finalizado, a administração Biden levantaria as restrições ao instituto da polícia forense da China.
Do lado chinês, e para além das divergências sobre o comércio, tecnologia ou questões territoriais, Xi Jinping irá à procura de garantias de que os Estados Unidos “não pretendem alterar o sistema político chinês ou iniciar uma nova Guerra Fria”, segundo disse recentemente o embaixador chinês em Washington.
No encontro deverão também ser abordadas as sanções norte-americanas contra as empresas chinesas que limitam o acesso aos chips semicondutores, admitindo que estes componentes são essenciais para os planos da China de desenvolver empresas capazes de competir nas indústrias de futuro, incluindo veículos eléctricos, sistemas de inteligência artificial ou robótica.
Mas, antes de partir para São Francisco, Biden deixou um aviso: “Não vou continuar a apoiar uma posição em que, para investir na China, temos de entregar todos os nossos segredos comerciais.”
O líder chinês deve também discutir com o homólogo norte-americano a estratégia de Washington de reduzir os vínculos comerciais entre os dois países, sabendo-se que Biden manteve as taxas alfandegárias punitivas impostas pelo seu antecessor, o republicano Donald Trump, sobre bens importados do país asiático.
No que à política internacional diz respeito, o encontro entre os dois presidentes incluirá também a guerra Israel-Hamas, a invasão da Ucrânia pela Rússia, os laços da Coreia do Norte com Moscovo, os direitos humanos e, na que será a questão mais sensível, Taiwan, a ilha democraticamente governada que a China reivindica como sua.