Três estudantes detidas na Faculdade de Psicologia, em Lisboa, durante palestra sobre clima
Estudantes dizem que as jovens foram arrastadas até junto das carrinhas da polícia à porta da faculdade, enquanto quem assistia entoava: “Que vergonha deve ser, deter estudantes num mundo a arder!”
Três estudantes activistas climáticas da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa foram detidas esta quarta-feira, 15 de Novembro, pela PSP na instituição, estando esta tarde duas dezenas de estudantes solidários em vigília junto da esquadra do Campo Grande, onde as jovens se encontram. De acordo com um comunicado do movimento Greve Climática Estudantil, de Lisboa, as jovens estavam a dar uma palestra sobre acção climática à qual assistiam várias dezenas de estudantes da faculdade. Duas foram detidas por estarem a dar a palestra e a outra detida estava apenas a assistir.
Imagens da acção divulgadas nas redes sociais mostram pelo menos uma dúzia de polícias dentro da faculdade a deter as três jovens, mas no comunicado afirma-se que entraram na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FPUL) "dezenas de polícias".
Esta tarde cerca de duas dezenas de jovens estão concentrados junto da esquadra da polícia do Campo Grande, em solidariedade com as três jovens, garantindo que ali vão permanecer até que elas saiam em liberdade.
"Nesta semana está-se a normalizar uma repressão da luta estudantil de uma dimensão que não se via há décadas. Como é possível estudantes que apenas estão a tentar lutar pelo seu futuro serem detidas?", questiona, citado no comunicado, André Matias, porta-voz do núcleo pelo "fim ao fóssil" da FPUL.
Catarina Bio, da Greve Climática Estudantil, disse à Lusa que o director da faculdade avisou os estudantes de que não seriam permitidas conversas políticas, pelo que as duas estudantes que estavam a falar estavam cientes do que poderia acontecer. A terceira estudante foi detida enquanto filmava, disse.
Na terça-feira, o director da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Telmo Mourinho Baptista, dizia ao PÚBLICO que, da primeira vez que foram feitos protestos pelo clima, os alunos puderam utilizar as instalações da faculdade para pernoitar. Mas, agora, a Faculdade de Psicologia e o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que partilham o edifício, tiveram outra posição. “Não temos a capacidade de estarmos continuamente a fazer isso, quando vemos a faculdade várias vezes vandalizada, com inscrições que depois têm que ser apagadas, quando vemos intervenções que têm custos para nós”, admitiu, referindo ainda que este é um período mais intenso, quando os alunos estão a defender os mestrados. “Quando se fecha a faculdade, quando se tenta impedir as pessoas de entrar em aulas, como aconteceu ontem, há uma perturbação do funcionamento.”
Segundo o relato dos estudantes, as jovens detidas foram arrastadas até junto das carrinhas da polícia à porta da faculdade, enquanto quem assistia entoava o cântico: "Que vergonha deve ser, deter estudantes num mundo a arder!"
Estudantes de várias instituições estão desde a passada segunda-feira a promover diversas acções nas escolas para reivindicar o fim aos combustíveis fósseis até 2030 e electricidade 100% renovável e acessível até 2025. Os estudantes querem que este ano seja o último Inverno em que o gás fóssil seja utilizado para produzir electricidade em Portugal.
Desde segunda-feira são já nove os estudantes detidos, depois de, na noite de segunda para terça-feira, terem sido detidos seis estudantes por se recusarem a sair da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH).
Na altura o movimento disse que os jovens foram alvo de violência e insultos por parte da polícia, algo que a PSP não comentou. Esta quarta-feira, Catarina Bio explicou à Lusa que a polícia "utilizou técnicas de tortura" para tirar os estudantes da FCSH, como pressionar os olhos, torcer os pulsos, arrastar pelo cabelo ou pressionar contra a parede.
À saída da faculdade, um carro da polícia chocou com um carro civil e um dos jovens que ia no veículo, com as mãos algemadas atrás das costas, teve de ser hospitalizado, segundo a fonte, que lamentou que a polícia não tivesse feito "o que devia", que no caso era se a pessoa ia algemada as mãos deviam estar na frente. Os jovens, disse, admitem apresentar uma queixa contra a PSP.