Ondas internas no Pacífico ajudam a prever comportamento de El Niño e La Niña

Estudo da Universidade do Porto sugere que a existência de ondas internas ao longo do Pacífico Equatorial ajuda a determinar a previsão de padrões climáticos como o El Niño e La Niña.

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O El Niño é um fenómeno climático natural em que as águas superficiais do Pacífico equatorial se tornam mais quentes que o normal, o que causa alterações nos padrões meteorológicos Sascha Thiele/Pexels

Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) concluem que a existência de ondas internas ao longo do Oceano Pacífico Equatorial ajuda a determinar a previsão de padrões climáticos como o El Niño e La Niña.

A instituição esclarece que o estudo, publicado no Journal of Physical Oceanography, descreve um conjunto de processos associados às ondas internas que podem afectar a variabilidade e previsibilidade do Sistema Climático El Niño/Oscilação Sul (ENSO, na sigla em inglês). O fenómeno El Niño pode exacerbar ondas de calor e episódios de seca hidrológica, contribuindo ao mesmo tempo para outros fenómenos meteorológicos extremos, como cheias e tempestades.

As ondas internas solitárias - ondas gigantes que se propagam no interior do oceano - são conhecidas por "aumentar a mistura vertical das águas dos oceanos" e potenciarem, por exemplo, o "arrefecimento da temperatura da superfície do mar".

"Numa zona já de si de grande instabilidade onde ocorrem estes fenómenos, os seus efeitos poderão ser ainda mais marcantes e intensificar o mecanismo de realimentação do ENSO (particularmente em regime La Niña), podendo resultar numa maior regulação da temperatura à superfície", salienta.

Uma língua fria do Pacífico Equatorial

O investigador José da Silva, da FCUP, esclarece que as ondas internas estão "numa longa banda zonal com milhares de quilómetros de extensão, conhecida por "língua fria do Pacífico Equatorial", onde estes fenómenos de anomalias térmicas geralmente se desenvolvem".

"Acreditamos que estas ondas podem intensificar a absorção de calor da atmosfera para águas mais profundas onde esse calor pode então desempenhar um papel importante na circulação oceânica e na variabilidade climática", afirma José da Silva.

De acordo com a investigação, as ondas internas solitárias poderão provocar "uma maior mistura vertical na língua fria", factor ainda não conhecido e não devidamente parametrizado nos modelos climáticos.

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Aumentar

"Esta mistura, que até agora não estava atribuída a estas ondas, pode, de acordo com os investigadores, regular e determinar a previsão de eventos El Niño (aquecimento anómalo das águas superficiais)/La Niña (arrefecimento das águas superficiais)", acrescenta.

Para os investigadores, estas ondas podem ter um impacto significativo "no arrefecimento da superfície do mar durante as transições para anos de La Niña, uma vez que ocorrem com maior frequência durante este fenómeno".

A investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pela Agência Espacial Europeia, contribui para um maior conhecimento sobre a mistura e transferência de calor na vertical numa região crítica do oceano para o clima.

O estudo, salienta a FCUP, pode "motivar mais investigações para compreender melhor como a absorção de calor da atmosfera dentro da "língua fria" pode retardar (pelo menos por algum tempo) as mudanças climáticas antropogénicas, como o aquecimento global".

Na sequência deste trabalho, uma equipa norte-americana está a preparar-se para efectuar medições com campanhas oceanográficas na região onde foram encontradas ondas internas.