A quantidade de gases com efeito de estufa na atmosfera do nosso planeta atingiu um novo máximo no ano passado e continuou a aumentar em 2023, diz um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Pela primeira vez em 2022, a concentração média global de dióxido de carbono (CO2), o mais importante destes gases, foi 50% superior à que existia antes da Revolução Industrial, uma fronteira que costuma ser marcada por volta de 1750.
A mais recente análise da rede de Vigilância Global da Atmosfera da OMM, com várias estações espalhadas pelo mundo, mostra que a concentração média de CO2 na atmosfera em 2022 foi de 417,9 partes por milhão. Outros dois gases existem em menor quantidade na atmosfera, mas são também importantes e estão a aumentar: a concentração de metano foi de 1923 partes por mil milhões e a de óxido nitroso foi de 335,8 partes por mil milhões.
Estes valores representam aumentos de 150% (para o dióxido de carbono), 264% (metano) e 124% (óxido nitroso) em relação aos níveis pré-industriais, diz um comunicado de imprensa da OMM.
De acordo com números da Agência Internacional de Energia, as emissões de gases com efeito de estufa relativas à produção energética de 2022 são de 36.800 milhões de toneladas de CO2, o que representa uma subida de 0,8% em relação às 36.500 milhões de 2021.
“Apesar de avisos da comunidade científica durante as últimas décadas, milhares de páginas de relatórios e dezenas de conferências climáticas, ainda estamos a seguir na direcção errada”, comentou Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, uma agência das Nações Unidas.
Os registos contínuos da concentração de dióxido de carbono na atmosfera começaram em 1958. Desde aí, a curva de Keeling, como é conhecido o gráfico que mostra essa concentração, não tem parado de subir.
“O actual nível de concentração de gases com efeito de estufa põe-nos na rota para um aumento da temperatura média global bem acima das metas do Acordo de Paris no fim deste século”, avisou Taalas, citado no comunicado de imprensa.
E não se trata apenas de aquecimento, a febre do planeta arrasta várias consequências: “Será acompanhado por episódios intensos de calor e chuva, derretimento dos gelos e subida do nível do mar, aumento da temperatura da água e acidificação da água dos oceanos. Os custos ambientais e socioeconómicos vão disparar”, acrescenta o secretário-geral da OMM.
Metano e óxido nitroso a crescer
Para pôr um travão nesses problemas – embora não seja possível evitá-los completamente, pois os gases com efeito de estufa perduram muitos anos na atmosfera – a receita, diz Petteri Taalas, é tão simples de constatar como difícil de pôr em prática: “Temos de reduzir o consumo de combustíveis fósseis com urgência”.
O dióxido de carbono, essencialmente proveniente da queima de combustíveis fósseis e produção de cimento, é o gás com efeito de estufa que mais contribui para o efeito de aquecimento do planeta: pesa cerca de 64%, diz a OMM. Da quantidade total de emissões resultantes da actividade humana no período 2012-2021, cerca de 48% acumularam-se na atmosfera, 26% no oceano e 29% em terra.
Se um pouco menos de metade das emissões de CO2 ficam na atmosfera, e podem lá permanecer 200 ou mesmo 300 anos, um quarto do dióxido de carbono é absorvido pelo oceano e menos de 30% por ecossistemas terrestres como florestas.
O metano, que fica durante uma década na atmosfera, é o segundo gás mais importante com efeito de estufa. Cerca de 40% das emissões de metano tem origem natural (provém de zonas húmidas, por exemplo) e 60% é de fontes antropogénicas (criação de gado ruminante, exploração de combustíveis fósseis, queima de biomassa). Em 2021, as emissões de metano relacionadas com a fermentação no sistema digestivo do gado bovino foram estimadas em 73,5 milhões de toneladas.
De 2021 para 2022 as emissões de metano cresceram menos do que no ano anterior, mas estão a aumentar a uma taxa anual muito maior do que a da última década.
O óxido nitroso é o terceiro gás de estufa mais importante, e ataca a camada de ozono. É responsável por cerca de 7% do aquecimento provocado pelas emissões destes químicos na origem das alterações climáticas. Há origens naturais deste gás, mas cerca de 40% tem origem em fontes relacionadas com o homem, como o uso de fertilizantes e outros processos industriais. As concentrações de óxido nitroso na atmosfera estão a aumentar como nunca se viu antes.