Bem-estar dos portugueses volta a subir em 2022, mas valores são ainda muito baixos

Instituto Nacional de Estatísticas divulgou o Índice de Bem-Estar, com dados ainda preliminares. Educação e segurança pessoal são os indicadores com evolução mais positiva.

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A educação é o sector com evolução mais positiva, analisada neste índice Nelson Garrido
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Os efeitos da pandemia, que fizeram cair o Índice de Bem-Estar (IBE) dos portugueses, parecem ter-se esbatido e os dados preliminares recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) apontam para um aumento do bem-estar entre os portugueses, em 2022, com valores que ultrapassam até o ano de 2019, aquele que tinha obtido melhores resultados nos últimos 20 anos. A educação e a segurança pessoal são os indicadores com evolução mais positiva. Dificuldade em conciliar o trabalho com a família aumentou muito desde 2010.

O IBE indica que os portugueses avaliam melhor a qualidade de vida e as condições materiais que têm, mas, mesmo assim, não conseguimos sair do meio da tabela: numa avaliação entre 0 e 100, sendo este o valor máximo do bem-estar, não conseguimos ultrapassar os 50, ao longo de toda a série avaliada, entre 2004 e 2022. Para este ano, a estimativa é que tenhamos atingido 46,9, ultrapassando os 46,7 de 2019, que fora o melhor ano da série.

Ainda assim, a evolução tem sido positiva desde 2012, com excepção do ano de 2020, em que as condições trazidas pela pandemia da covid-19 fizeram diminuir o IBE e também os dois grandes grupos de itens avaliados, no âmbito das condições materiais de vida e da qualidade de vida. Estes dois grandes grupos apresentam, desde 2018, valores muito semelhantes, excepto em 2020, quando a avaliação das condições materiais de vida foi bastante mais negativa.

Quanto às condições materiais de vida, apesar de o índice global ter evoluído favoravelmente – 47,3 em 2022, quando o valor de 2019 era 46,4 –, há aspectos que clarificam como ainda há um longo caminho a percorrer. No domínio do bem-estar económico, por exemplo, os factores avaliados rondam, em média, os 30 pontos em 100, e há alguns que ficaram piores, como o rendimento monetário disponível ou o património dos particulares.

Por isso, para os bons resultados obtidos nesta matéria contam, sobretudo, as melhorias ao nível da vulnerabilidade económica (atinge 66 pontos em 100, melhor do que os 62,8 registados em 2019) e do emprego, que desde 2013 apresentam “uma das variações positivas mais acentuadas”, refere o INE. Neste campo, os indicadores referentes às taxas de desemprego (da população activa, jovem e com curso superior) são os mais relevantes.

Entre os diversos domínios avaliados no grande item da qualidade de vida, os que evoluíram de forma mais positiva, em comparação com o ano anterior, foram a educação, o conhecimento e as competências, a segurança pessoal e a saúde. Dentro de cada um destes ramos, contudo, há aspectos que continuam a não deixar os portugueses satisfeitos.

No domínio da educação (47,9 pontos em 100), por exemplo, factores como o abandono precoce do ensino e da formação ou a proporção de pessoas que completaram o ensino superior aparecem com valores muito positivos, mas a aprendizagem ao longo da vida ou o número de patentes pedidas ao Gabinete Europeu de Patentes continuam ainda muito abaixo do IBE global para esta área.

O mesmo acontece com a segurança pessoal (66,9 em 100) ou a saúde (50,1 em 100). No primeiro caso, a taxa de criminalidade registada tem evoluído positivamente, e acima da média do factor global, embora com um pequeno decréscimo em 2022. A mesma evolução positiva tem ocorrido com o grau de confiança na polícia, mas este item continua a apresentar o valor mais baixo de todos que foram avaliados dentro do tema “segurança” e está muito abaixo do valor global para este item.

Serviços de saúde melhores, mas ainda em terreno negativo

Na saúde, vários factores avaliados são claramente positivos e estão acima do valor médio deste tópico (como a taxa de mortalidade infantil, a esperança de vida à nascença, ou a taxa de suicídio). Contudo, o número de anos vividos com saúde ou a proporção de pessoas que avaliam o seu estado de saúde como bom ou muito bom continuam a apresentar valores baixos. Curiosamente, e apesar das muitas queixas e da elevada contestação no sector, a forma como os portugueses avaliam os serviços de saúde tem tido uma evolução positiva, embora continue ainda abaixo da média do índice na área global da saúde.

O que tem vindo a piorar desde 2010 é o balanço que os portugueses fazem entre a vida pessoal e o trabalho. Apesar de ter havido uma melhoria na proporção de pessoas que trabalham, por semana, 49 horas ou mais, este factor não consegue compensar o índice de conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares, que caiu a pique desde 2010, tendo apenas uma pequena estabilização, ainda que negativa, entre 2020 e 2021.

Factores como o ambiente também evoluíram favoravelmente, mas a participação cívica e a governação baixaram, desde 2018, e, apesar de ter aumentado a percepção da qualidade dos serviços públicos, o índice de participação eleitoral está, desde 2019, na sua pior fase, o que não augura nada de bom para as eleições legislativas que se aproximam.

No domínio das relações sociais e de bem-estar subjectivo, o IBE mostra-nos que os portugueses que se dizem sentir felizes ou muito felizes caiu muito entre 2018 e 2020, estabilizando depois disto, mas mantendo-se ainda em valores negativos em relação à avaliação geral deste tema. Já o grau de satisfação com a vida em geral subiu e está em terreno positivo, bem como a proporção de pessoas que têm com quem partilhar questões íntimas.

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