Caos na AG do FC Porto: “O que mais custou foi ver Pinto da Costa impávido e sereno”

Assembleia-geral marcada por falhas de organização e agressões. Sócios relatam ambiente de intimidação por parte dos Super Dragões, clube promete identificar responsáveis.

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Momento da AG de segunda-feira dr
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A noite deveria ter servido para votar a alteração dos estatutos do FC Porto, mas complicações de logística e agressões entre sócios obrigaram a um ponto final prematuro aos trabalhos da Assembleia-Geral extraordinária desta segunda-feira. Da desorganização ao clima de intimidação, os associados ouvidos pelo PÚBLICO que marcaram presença no Dragão Arena contam uma versão semelhante dos acontecimentos, coincidindo em pelo menos um ponto: estes incidentes são “uma página negra” na história do FC Porto.

“Passei pelo auditório e depois segui para o pavilhão. Estava preparado para o clima de intimidação e bocas, achei que era normal – não é só no FC Porto que acontece”, começa por dizer Rui Gouveia, sócio do FC Porto há quase 25 anos e com lugar anual no Dragão desde 2007. Faz questão de deixar claro que não apoia nenhum candidato para o próximo acto eleitoral – até porque, além de Nuno Lobo, ainda não os há oficialmente. Ficou no pavilhão até à interrupção dos trabalhos, relatando agressões a vários associados.

“Parecia um jogo contra um rival, com duas facções claramente definidas. Uma estava ali para apoio e a cantar em torno da actual direcção. Qualquer outra pessoa que ousasse não bater palmas, não se manifestar ou que dissesse alguma coisa em contrário era automaticamente ameaçada. Diziam: ‘Vou-te apanhar dentro do estádio e vamos conversar’”, relata o sócio “azul e branco”.

Apesar da tristeza perante os incidentes, a maior desilusão foi provocada pelo actual dirigente do clube, Jorge Nuno Pinto da Costa: “Há uma enorme admiração por Pinto da Costa que existe e subsiste. De tudo isto, o que mais me incomodou e custou foi ver o presidente e Vítor Baía sentados, impávidos e serenos. Não houve um que se dirigisse aos sócios, ninguém tentou acalmar os sócios. Estavam simplesmente a olhar”.

Villas-Boas: candidatura é "formalidade"

André Villas-Boas adiantou que a apresentação da candidatura à presidência do FC Porto é apenas uma "formalidade", adiantando estar apenas à espera de montar uma lista forte para se apresentar aos sócios "azuis e brancos". Já esta terça-feira, à entrada para a Web Summit, em Lisboa, o treinador sublinhou não poder "ficar indiferente ao apoio" sentido.

"Apresentar uma candidatura é quase um cumprir de uma formalidade. Quero dar passos seguros, transparentes e fortes, suportados em equipas de rigor, de alto nível e credibilidade, porque é o que o FC Porto merece. Quando tiver as minhas listas fechadas e o projecto completo, apresentarei a minha candidatura", afirmou Villas-Boas.

O apoio sentido pelo antigo treinador portista foi claro, sendo recebido junto ao Estádio do Dragão com palmas e pedidos de selfies. Após notar as falhas de organização, e num momento em que a reunião era movida do auditório no estádio para o Dragão Arena, Villas-Boas protestou o rumo da assembleia-geral e abandonou os trabalhos. Para os Super Dragões, porém, este foi um dos factores contributivos para a escalada na violência – aliada a uma suposta troca de insultos nas redes sociais antes da assembleia.

“No dia anterior, Villas-Boas convocou os apoiantes dele [para a assembleia] dizendo que ia lá estar. Depois, para espanto deles, dá uma entrevista e foge para casa”, acusou Fernando Madureira, em declarações ao PÚBLICO. “Não é digno de um homem, se ele pensa ser candidato tem de dar a cara e estar com os apoiantes. Depois era inevitável", considera o líder da claque portista, garantindo que, apesar dos ânimos exaltados, tentou travar algumas agressões físicas.

Clube promete identificar responsáveis

O FC Porto assumiu nesta terça-feira uma posição sobre os incidentes que marcaram e inviabilizaram a realização da Assembleia-Geral extraordinária destinada a discutir a renovação dos estatutos. Em comunicado, a direcção do clube considera as agressões "condenáveis" e garante que vai tomar providências para identificar e punir os responsáveis.

De acordo com os estatutos, a punição pode acarretar a expulsão de sócio do clube, nos casos mais extremos. O artigo 32.º engloba precisamente aqueles que "impeçam o normal e legítimo exercício" das funções dos órgãos sociais do clube. No lado dos castigos, a punição pode ir da simples advertência até à expulsão de sócio.

"Os desacatos entre associados, incluindo agressões físicas, que se geraram durante a intervenção de um membro da comissão de revisão dos estatutos e depois da participação de um associado são condenáveis e mancham uma história centenária de cultura democrática", aponta a direcção, sem explicar por que razão decidiu avançar com a reunião magna ainda com centenas de sócios fora do pavilhão.

AG começou com sócios no exterior

O único candidato oficial à presidência portista, Nuno Lobo, adianta ao PÚBLICO que centenas de sócios ainda estavam no exterior do Dragão Arena no momento em que foram iniciados os trabalhos no interior do pavilhão. “Fizeram aquilo à revelia, não houve respeito. Eram milhares de sócios, a minha indignação e revolta vai para isso.”

O candidato escolheu não entrar no Dragão Arena por motivos de segurança. “Houve situação de pancada e os trabalhos foram suspensos. Ia lá fazer o quê? Deitar mais pólvora? Estava no corredor e decidi voltar para trás”, relembra.

Nuno Lobo marcará presença no dia 20 de Novembro, nova data em que se realizará a Assembleia-Geral. Prevendo uma afluência ainda maior dos sócios, Nuno Lobo sugere a tentativa de realizar a reunião magna num sítio com maior capacidade, dando o exemplo do Pavilhão Rosa Mota.

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