De novo no Éden

Olhava para ela como se olha para o oceano, com desejo de mergulhar e medo de se afogar.

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O Moisés sentou a Rosário no seu colo, a Rosário cuja boca o percorria. Olhava para ela como se olha para o oceano, com desejo de mergulhar e medo de se afogar. A Rosário provocava isso, dava sensação de mar. A São olhava com admiração para o modo como se relacionavam e se acariciavam, sempre espontâneos, sem receios e aparentemente sem qualquer pudor, revelando abertamente os seus sentimentos e beijando-se à sua frente, e, ao observá-los, apesar de sentir ser tudo aquilo errado ou criticável por contrariar a austeridade da sua educação católica, ou a ideia que tinha dela, parecia-lhe ser uma relação tão genuína e sincera que se situava num espaço e num tempo anterior ao pecado original. Quando eles se beijavam, voltavam a entrar no Éden. Os querubins e a espada de fogo que Deus colocou a guardar o Jardim para que o ser humano não tivesse acesso à árvore da vida não eram guardiões eficazes, não sustinham aquela paixão. Um beijo era a única coisa necessária para passar pelas chamas da espada e pela guarda querubínica. Ou assim pensava a São, na sua ingenuidade, não percebendo que as relações são muito mais complexas do que aparentam, em particular aquela. Era precisamente a sua leveza despreocupada, a mesma leveza que emprestava ao fenómeno algo de diáfano e, ao mesmo tempo, febril, que a mantinha sem profundidade. Assim, se o Moisés encontrava na Rosário o encanto contraditório do mar, o medo e o fascínio, é verdade que não pretendia nada mais daquela relação do que uns mergulhos esporádicos, em tardes de domingo. Era isso que ele fazia: boiava, esbracejava e pouco mais.

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