Sunak reafirma apoio a Braverman mas não afasta demissão nos próximos dias
Ministra do Interior britânica publicou um artigo de opinião, à revelia do Governo, onde acusa a polícia de Londres de proteger os manifestantes pró-palestinianos, a quem acusou de serem anti-semitas.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, ainda não tomou uma decisão sobre o futuro político da ministra do Interior britânica, Suella Braverman, cuja posição no Governo ficou em risco, na quinta-feira, após a publicação de um artigo num jornal sem a autorização do executivo. No texto, publicado no The Times, Braverman acusa a polícia de Londres de favorecer os manifestantes pró-palestinianos e o movimento anti-racismo Black Lives Matter, em comparação com os protestos da direita radical e dos opositores do confinamento durante a pandemia de covid-19.
Nesta sexta-feira, uma porta-voz do Governo britânico veio a público dizer que Sunak mantém a confiança em Braverman — uma posição que, segundo o jornal Guardian, reflecte pouco mais do que uma declaração de circunstância, que irá ser repetida enquanto a ministra estiver formalmente ligada ao Governo.
Segundo os media britânicos, a porta-voz de Downing Street recusou-se a dizer se o caso está a ser alvo de uma investigação formal, referindo-se à iniciativa em curso como "um processo interno".
Em causa está a autoria de um artigo de opinião de Braverman no jornal The Times, na quinta-feira, sem a autorização expressa do Governo britânico, o que pode configurar uma violação das normas internas do executivo.
Segundo a BBC, o gabinete do primeiro-ministro teve acesso ao artigo antes da publicação, conforme as regras internas, e exigiu a Braverman que fizesse alterações — e terá sido surpreendido com a publicação do texto, que incluía algumas das passagens vetadas pelo Governo.
No artigo, que está a ser muito elogiado por figuras da direita radical britânica, dentro e fora do Partido Conservador, Braverman refere-se aos protestos contra os bombardeamentos israelitas em Gaza como manifestações "de ódio" e de anti-semitismo.
"Estas manifestações têm sido problemáticas desde o início, não apenas devido à violência nas franjas, mas também por causa do conteúdo altamente ofensivo dos cânticos, tarjas e autocolantes", diz a ministra do Interior britânica no artigo. "Temos visto os terroristas a serem valorizados, Israel a ser demonizado como um Estado nazi e os judeus a serem ameaçados com novos massacres."
Polícia "tem favoritos"
"Não acredito que estas manifestações sejam apenas um grito de ajuda a Gaza", diz Braverman. "São uma afirmação da supremacia de certos grupos — principalmente islamistas —, que estamos mais habituados a ver na Irlanda do Norte. A ligação de alguns organizadores do protesto de sábado a grupos terroristas, incluindo o Hamas, também nos remete para o Ulster."
Neste fim-de-semana vão realizar-se novos protestos pró-palestinianos, ao mesmo tempo que o Reino Unido comemora o Dia do Armistício, no sábado, e o Dia da Memória, no domingo.
A polícia da capital britânica já anunciou que os acontecimentos do fim-de-semana vão ser policiados por quase dois mil agentes no sábado e por cerca de 1300 no domingo.
Numa das passagens do artigo mais criticadas nos sectores moderados do Partido Conservador, Braverman acusa a polícia de "ter favoritos" na forma como actua em manifestações e protestos.
"Porque é que a polícia não deu descanso aos manifestantes anticonfinamento, durante a covid, e os manifestantes do Black Lives Matter puderam violar as regras e até foram recebidos por agentes ajoelhados?", questiona a ministra do Interior britânica no artigo no The Times.
"Os manifestantes nacionalistas da direita que cometem actos violentos são tratados, justificadamente, com agressividade, mas as multidões pró-palestinianas que se comportam quase da mesma forma são ignoradas, mesmo quando violam a lei."
Segundo os números da Polícia Metropolitana de Londres, citados nesta sexta-feira pela BBC, em 2020 foram detidos 374 manifestantes anticonfinamento e 281 pessoas em protestos do movimento anti-racista Black Lives Matter.
A BBC salienta que os protestos anticonfinamento levaram mais pessoas à rua, e durante muito mais tempo (seis meses contra um mês) do que os protestos anti-racismo.
Vários jornalistas e comentadores políticos no Reino Unido dizem que Sunak quer aguardar pelos desenvolvimentos dos próximos dias para decidir o futuro político de Braverman, cujo despedimento, a confirmar-se, poderá enfraquecer ainda mais a posição do primeiro-ministro junto da ala mais à direita do Partido Conservador.
Na próxima quarta-feira, o Supremo Tribunal britânico deverá pronunciar-se sobre a legalidade do programa de deportação de migrantes e refugiados para o Ruanda, promovido por Braverman; se a decisão for desfavorável ao Governo, Sunak poderá sentir-se mais liberto para despedir a ministra do Interior.