No vale da Boaventura, a vida é bela e a terra é mesmo bona

Maria João e Marco apaixonaram-se por um vale encantado e criaram lá um refúgio onde se faz vinho e se exalta a natureza pujante da costa Norte da Madeira. Eis o Terrabona.

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As "villas" foram construídas para se integrarem ao máximo na paisagem DR
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O exterior do Terrabona garante vistas privilegiadas sobre o vale da Boaventura DR
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O exterior do Terrabona garante vistas privilegiadas sobre o vale da Boaventura DR
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Um minuto. Basta um minuto para percebermos tudo. Assim que saímos do carro e olhamos em volta, fica claro como água. Quase não precisávamos de ouvir Maria João Velosa e Marco Noronha Jardim explicarem por que se perderam de amores por este vale encantado da Boaventura, no concelho de São Vicente, na costa Norte da Madeira. Mas ouvimo-los com prazer, embora o que aqui está não precise de legendas.

No princípio foi o vinho e, por isso, para arranque de conversa, Marco serve-nos um Terra Bona Family Harvest, que provamos de olhos postos na montanha forrada de um verde denso e intenso. “Há clientes, como os americanos, que são os mais expressivos, que chegam cá e dizem que isto parece o Parque Jurássico”, sorri Marco. Era aqui que queríamos chegar.

Marco e Maria João são ambos madeirenses – e estão, por isso, habituados a paisagens de assombro – mas nenhum deles ficou indiferente a este vale da Boaventura. “Um dia, passei por aqui e vi que o terreno estava à venda”, recorda Marco. “Apaixonámo-nos ambos por este lugar”, completa Maria João. Basta um minuto, dizíamos, para percebermos porquê: imagine-se uma montanha verde, verdíssima, de um lado; um mar azul, azulíssimo, do outro; e no meio uma garganta de terra que parece querer engolir, em golfadas, esta beleza agreste e primordial, território de implantação da floresta Laurissilva.

Apaixonaram-se por isto, é claro que se apaixonaram. Era 2014 e três anos depois saíam para o mercado os primeiros vinhos Terra Bona. Produzir vinho não era o principal objectivo do casal – ambos bancários, o que tinham perspectivado era terem um projecto hoteleiro – mas o vinho acabou por se intrometer e alterar ligeiramente os planos iniciais. A Quinta do Cardo, assim se chamava, tinha vinhas de Arnsburger, cruzamento de dois clones de Riesling introduzido na Madeira por técnicos alemães nos anos de 1980, e Marco e Maria João decidiram não as desperdiçar. Em boa hora o fizeram: o Terra Bona Family Harvest conseguiu uma avaliação de 90 pontos na Wine Advocate, a revista de Robert Parker, o famoso crítico norte-americano.

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Maria João Velosa e Marco Noronha Jardim, os proprietários do Terrabona DR

Vinho lançado, projecto alterado. Marco deixou o emprego na banca e dedicou-se a tempo inteiro ao Terrabona. A acompanhar os vinhos, sempre de pequenas produções, e a ver nascer as quatro villas que desde Junho recebem hóspedes – era suposto serem cinco, mas uma delas acabou sacrificada justamente por causa da vinha.

Habituados a viajar, Marco e Maria João quiseram fazer no Terrabona aquilo que gostam de encontrar quando vão “para fora”. “Para nós, o mais importante é não nos sentirmos apenas um número”, diz Marco Jardim. E, por isso, neste refúgio nada foi deixado ao acaso. Nem mesmo o nome que, explica o proprietário, vem do latim e alude à freguesia da Boaventura.

A construção das villas, com projecto de arquitectura a cargo de Nuno Vidigal e Teresa Góis Ferreira, foi feita de modo a que se integrassem ao máximo na paisagem. Exceptuando a única villa de tipologia T2, nenhuma das outras (todas T1) é visível do exterior, estando perfeitamente encaixadas nos socalcos do terreno. E cada uma delas está implantada num patamar diferente, o que garante maior privacidade aos hóspedes.

A nós calha-nos a Oak Wine House (há a Natural, a Clay e a Family, a única com dois quartos). Deslizamos a porta de correr e Marco sugere-nos que nos descalcemos. O chão das villas é de cortiça, para maior conforto térmico, e um tabuleiro destinado a recebê-lo convida a que o calçado fique à porta. Entramos na sala de estar e cozinha totalmente equipada e logo notamos um bom gosto despretensioso. “Foi tudo pensado por nós, horas e horas de trabalho e de pesquisa”, recorda Maria João. Um sofá e mesas de apoio completam a oferta. Televisão não há, que a ideia aqui é aproveitar o tempo de outra forma. Em compensação, há tabuleiro de xadrez, damas e gamão.

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No quarto, fale-se da cama, onde se prometem (e cumprem) horas de sono reparadoras, graças à qualidade do colchão e das almofadas, disponíveis em quatro versões, e dos lençóis de linho. Mas, é inevitável, é a banheira, estrategicamente colocada junto aos janelões com vista para a floresta, a estrela da companhia. Ao final da tarde, um banho aromatizado com os óleos essenciais de alecrim ou eucalipto fornecidos pelo Terrabona é garantia de relaxamento total. Na casa de banho contígua, moram amenities da marca 8950, “cuja produção tem em conta a preservação das plantas recolhidas” na serra do Caldeirão e que se pauta por não usar pesticidas. “Procuramos ao máximo usar marcas portuguesas de qualidade no Terrabona”, nota Maria João.

Nos apontamentos decorativos, sobressaem algumas peças da wicker_it, uma loja de artesanato do Funchal que reinventa um dos materiais mais tradicionais da Madeira, o vime, e há pinturas nas paredes do artista plástico que também assina os rótulos dos vinhos Terra Bona, Tony Kitchell, um surfista galês que há 30 anos se divide entre o País de Gales e a Madeira. Na Family House, são os desenhos de Teresa Gonçalves Lobo, artista madeirense com afirmação internacional, que ganham destaque.

Mergulho com cheiro a lavanda e alecrim

Está uma tarde soalheira, pelo que nos vamos entregar ao prazer mais valioso que oferece o Terrabona: a quietude contemplativa. Pegamos num livro, num copo de vinho e posicionamos o pufe para obtermos a melhor panorâmica. Não se ouve nada que não seja a natureza. Mais logo, à noite, escutaremos o canto (às vezes aflitivo) das cagarras.

Marco e Maria João convidam-nos para jantar, no espaço de acolhimento contíguo à adega novinha em folha. O Terrabona não serve refeições, mas, aqui e ali, os anfitriões gostam de juntar os seus hóspedes à mesa. Connosco, estão os “inquilinos” de duas outras villas, um casal vindo da Alemanha e mãe e filha belgas, que vemos agora pela primeira vez – o recato de cada uma das casas funciona mesmo. Partilhamos uma refeição caseira: para entrada, pepino com sal, à moda madeirense, batata-doce cozida e ceviche de atum; bacalhau com broa como prato principal, cortesia de Maria João; e tiramisu de ananás à sobremesa. Nos copos, desfilam, claro, os vinhos do portefólio do Terrabona.

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Quem resiste a um mergulho na piscina? DR

Na manhã seguinte, acordamos com uma bátega: a chuva cai sobre o vale da Boaventura, mas, já sabemos, não há-de durar muito. A esta hora, já o pão fresco nos foi deixado à porta dentro de uma caixa e preparamos tranquilamente o pequeno-almoço. Há iogurte fermentado num saco de cortiça, compotas da Choux, uma pâtisserie renomada do Funchal, granola preparada pelas mãos de Maria João, fruta fresca e, sempre que possível, biológica, queijo e fiambre guardados em embalagens de vácuo para manterem a melhor frescura. Lá fora, no jardim, podemos apanhar ervas para o chá – hortelã ou funcho, para dar só dois exemplos.

Comemos sem pressas e entretanto a chuva deu tréguas. Saímos para a rua. Uma curta caminhada, 15 minutos no máximo, deixa-nos num promontório sobre o mar bravio. As ondas batem com força na rocha escura, o azul-turquesa brilha ao sol e o branco da espuma dá contraste ao cenário. Se nos virarmos para trás, um capacete de nuvens sobre a floresta densa anuncia novo aguaceiro para breve. É tempo de voltarmos para a nossa terra boa. Poderíamos optar pela bio-sauna, mas preferimos um mergulho com vista para o silêncio e com cheiro a lavanda e alecrim. A vida é bela, esta terra é bona.

A Fugas esteve alojada a convite do Terrabona

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