Londres taxa o congestionamento há 20 anos. Milão há dez. Trânsito caiu

Capital inglesa reduziu 30% do congestionamento, perdeu 18% do tráfego e impulsionou viagens de autocarro. Cidade italiana aplicou medida depois de um referendo em que 79% da população votou a favor.

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O congestionamento das cidades portuguesas não é único mas na Europa há quem tome medidas mais duras Nelson Garrido
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Os níveis de grande congestionamento que assolam o trânsito automóvel das cidades portuguesas não estão desligados da dificuldade política em executar medidas que procurem restringir o uso do carro. Várias cidades europeias, a braços com problemas semelhantes, avançaram há décadas para essas medidas.

A aplicação de taxas de congestionamento em Londres - uma espécie de portagem para quem entra no centro entre as 7h00 e 18h00 dos dias úteis - está a fazer o seu vigésimo aniversário e, explica o responsável pela representação da capital inglesa em Bruxelas, Ian Catlow, os resultados não se fizeram esperar. Logo no primeiro ano, as autoridades verificaram que o tráfego nas zonas taxadas diminui 18%, o congestionamento do trânsito caiu 30% e permitiu aumentar 33% as viagens de autocarro na zona central de Londres. Acresce que 10% das viagens foram transferidas para deslocações a pé, de bicicleta ou de transportes públicos.

O responsável britânico falava nesta quarta-feira, num painel em que era discutida a aplicação de taxas de congestionamento, na Tomorrow Mobility World Congress, que decorre em Barcelona.

Há outro número a ter em conta: se o pacote de medidas que Londres tem vindo a promover nas últimas duas décadas, no qual está a taxa de congestionamento, não tivesse sido posto em prática, haveria mais três milhões de viagens de carro por dia na capital inglesa.

A experiência de Milão é mais recente, mas também levou à redução do peso dos carros em perto de 40%, informou a responsável pela agência de mobilidade, ambiente e território daquele município do Norte de Itália, Roberta Righini, que falava no mesmo painel.

Milão tem também em vigor uma política de zonas de emissão zero que abrange toda a cidade, realçou Righini, que deixou um conselho: “Se querem introduzir medidas destas, têm de falar com as pessoas.”

No caso de Londres, a proposta já estava no programa do trabalhista Ken Livingstone, quando este concorreu a eleições, em 2000, explicou Ian Catlow, na conferência que é co-organizada pela EIT Urban Mobility, uma iniciativa do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia. No caso de Milão, a autarquia promoveu um referendo à aplicação da taxa de congestionamento, depois de um processo em que procurou explicar quais eram os objectivos e onde seriam aplicadas os montantes cobrados. Resultado da votação de 2011: 79% de aprovação dos milaneses.

Houve assim um processo informativo e legitimidade política que deram legitimidade às restrições. No caso das principais cidades das áreas metropolitanas portuguesas, nenhum dos candidatos tinha uma proposta semelhante no seu programa eleitoral.

O que funciona?

A aplicação de taxas de congestionamento é uma medida que resulta se o objectivo é diminuir as emissões de dióxido de carbono, sublinhou a CEO do EIT Urban Mobility, Maria Tsavachidis, numa conversa com jornalistas, à margem da conferência. Mas não é a única. A aposta na mobilidade activa também entra na lista de soluções que, comprovadamente, funcionam, exemplificou. A responsável pela iniciativa do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia, que promove investigação sobre mobilidade urbana, respondia a uma pergunta sobre a eficácia do transporte público gratuito.

“Não temos exemplos de grandes mudanças de carros para o transporte público [nas cidades onde essas políticas foram aplicadas], refere. Os estudos sobre o assunto mostram que a medida até pode aumentar o número de passageiros, mas isso não significa que estes sejam condutores de carros que os deixaram em casa. O desenho das medidas deve ser mais direccionado e estas devem ser aplicadas onde poderão ser mais eficazes, opina.

A responsável defende que, na mobilidade do futuro, os carros continuarão a fazer parte da equação, embora tenham de ser necessariamente eléctricos e o seu papel tenha de mudar. “Precisaremos de todos os modos, mas é necessário definir prioridades”, disse. E referiu que os transportes de grande capacidade, como autocarros e sistemas de metro, são “a espinha dorsal da transição verde”.

O PÚBLICO viajou a convite do EIT Urban Mobility

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