António Costa tinha acabado de se demitir do cargo de primeiro-ministro quando falámos ao telefone com Bernardo Conde, fotógrafo, líder de viagens e mentor do Exodus Aveiro Fest. O turbilhão político em que o país mergulha agora é apenas mais uma acha na fogueira de instabilidade e conflitos internacionais que parece teimar em arder com cada vez maior intensidade. “Sentimos que, humanitariamente, o mundo está a viver um dos piores períodos de que há memória e toda a mediatização da situação ajuda a enfatizar isso ainda mais”, dizia Bernardo, “em nome da equipa” e talvez de “um sentimento global”. “Está cada vez mais presente na nossa vida.”
Por isso, o Exodus Aveiro Fest, um Festival Internacional de Fotografia e Vídeo de Viagem e Aventura que sempre foi muito mais do que isso, falando maioritariamente de valores, não podia ignorar “o que está a acontecer”. De regresso ao Centro de Congressos de Aveiro de 17 a 19 de Novembro, esta edição traz-nos uma vez mais muito mundo, algumas viagens do mais puro deslumbre, temas ligados à conservação da natureza e ambiente mas, sobretudo, “questão sociais e humanas”. “Sentimos que, este ano, o Exodus teria de primar verdadeiramente por falar daquilo que é a humanidade, daquilo que são as condições mínimas importantes para a vida humana, porque é essencial que a nossa sociedade se dê melhor, se compreenda melhor.”
A tónica marca o painel de oradores convidados, logo a começar pelo Warm-up, na noite de sexta-feira, um evento “aberto a toda a gente” para que “mesmo quem não tenha bilhete” possa ficar com uma ideia do que é o festival. O fotojornalista Doug Menuez será o único orador da noite, numa palestra “que, se calhar, vem falar de humanidade, de empatia, do que pode e deve acontecer quando se fotografa alguém, da conexão com as pessoas”. Haverá ainda tempo para dançar ao som do DJ João Nuno Silva e para duas surpresas tão bem guardadas que nem constam do programa oficial. Diga-se apenas, uma vez mais, que a “essência humana” será “o valor mais alto” desta edição.
No sábado, ao início da tarde, o primeiro dos dez oradores de renome internacional a subir a palco é Marcel Mettelsiefen, realizador e produtor alemão, vencedor de três prémios Emmy e quatro BAFTA, e nomeado para um Óscar em 2017, com vários documentários no currículo “sobre este lado humano nos países do Médio Oriente”. Já Ismail Ferdous, fotógrafo e cineasta do Bangladesh a viver em Nova Iorque, não só tem apelado “contra os efeitos devastadores da indústria da fast fashion com os seus documentários e projectos fotográficos”, como tem trabalhado as questões das “migrações e refugiados”, lê-se no site do Exodus.
“Temos fotojornalistas que têm acompanhado mais guerra e, se calhar, também vão trazer um bocado dessa realidade para dentro da sala. Temos pessoas que acompanham povos de países particulares, que vivem situações dramáticas naquilo que é a realidade local, de pobreza, mal nutrição, e outros desafios constantes à sobrevivência humana”, acrescenta Bernardo Conde.
Com trabalhos mais ligados às questões ambientais, destacam-se as fotógrafas Jen Guyton, “com uma paixão por contar histórias relacionadas com alterações climáticas mundiais e a cultura humana”; Rebecca Gaal, com trabalho no apoio a organizações para “fazer a ponte entre a saúde pública e o ambiente”; e Merche Llobera, na área de conservação e protecção dos habitats; além de Joan de la Malla, fotógrafo catalão “centrado na natureza, nas comunidades locais e ambiente”.
Entre os oradores principais estão ainda os fotojornalistas portugueses Arlindo Camacho e Rui Caria, e o “fotógrafo, contador de histórias, escritor de viagens e guia turístico” polaco, Jakub Rybicki, com aventuras por mais de 70 países e vários projectos ligados ao turismo sustentável. Esta edição volta, uma vez mais, a destacar talentos portugueses (Filipa Leite Rosa, João Bernardino, Ricardo Alves, e João Rodrigues), assim como a receber “pequenas tertúlias de grandes viajantes”, com as Travel Talks em parceria com a Associação de Bloggers de Viagem Portugueses (Wind Family, Mara Mures, Diogo Tavares e Bernardo Bacalhau). Regressam também as Exodus Inspirational Causes, lançadas no ano passado, dando palco à Cais e à Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino (AEPGA), causa apadrinhada este ano pelo festival.
Para o encerramento está agendada aquela que será uma das palestras mais aguardadas desta edição: Magnus Wennman, fotógrafo sueco com seis prémios World Press Photo no currículo, entre dezenas de outros galardões. Um dos últimos projectos que fez chama-se Where the children sleep, sobre “órfãos de guerra e como é depois a vida daqueles que cá ficam”.
“Começámos o Exodus com o mote Discover the world through image, que continua válido porque queremos partilhar o mundo a partir da imagem, mas queremos ir mais profundo. Queremos que estas palestras sirvam para alargar horizontes, para fazer pequenos despertares. E se der para semear coisas positivas para um mundo melhor, é isso que tentamos”, resume Bernardo. O “abanão” está prometido, numa edição que se espera ser “muito forte do ponto de vista emocional”. “Sentimos que está tudo revirado, a ficar num nível doentio, e as pessoas precisam de encontrar um rumo diferente. Estamos a tentar abrir consciências.”