Benfica foi a Espanha com zero e com zero voltou

Os “encarnados” perderam por apenas 3-1 com a Real Sociedad. “Apenas”, porque foram três, mas poderiam ter sido quatro, cinco, seis, sete ou oito. E estão fora da Liga dos Campeões.

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Jogadores do Benfica desolados no País Basco EPA/Juan Herrero
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Nesta quarta-feira, na Liga dos Campeões, o Benfica misturou futebol, geografia e história, mas da forma errada: em San Sebastián, foi D. Sebastião. A equipa portuguesa “desapareceu” na “batalha” frente à Real Sociedad, "desapareceu" da Liga dos Campeões e resta saber se aparecerá a tempo do derby com o Sporting no próximo domingo.

Na viagem ao País Basco, o Benfica embarcou com nada e com nada voltou. Ou quase nada – pelo menos, já marcou um golo na Champions e perdeu “apenas” por 3-1. “Apenas”, porque foram três, mas poderiam ter sido quatro, cinco, seis, sete ou oito.

A celebração de já ter marcado um golo não valerá de muito, já que o mais relevante é saber outras coisas: que o Benfica mantém os zero pontos e, sobretudo, que acaba de vedar a si próprio a chegada aos oitavos-de-final da Champions, já matematicamente impossível. Porquê a si próprio? Porque ofereceu um golo, facilitou um outro e ainda “tentou” oferecer mais dois, em lances de bizarria individual e colectiva.

Em suma, tudo foi mau: a defesa, o ataque, o resultado e o significado para o futuro – num prisma “micro”, com a eliminação na Champions, e numa visão mais “macro”, já que o novo 3x4x3 foi “atropelado” no primeiro teste difícil que enfrentou.

E também fora do relvado o Benfica foi mau, com os adeptos a lançarem tochas nas bancadas, oferecendo à UEFA um castigo fácil a um clube que já esteve em Milão sem adeptos nesta temporada.

Caos total

O 3x4x3 do Benfica era uma novidade na Europa, mas havia dúvidas sobre de que forma a equipa iria pressionar, até pela inexistência de um sistema simétrico do lado oposto que facilitasse o jogo de pares e as referências de marcação e ocupação de espaços.

Como pressionou o Benfica? A resposta é: da forma mais caótica possível. Apesar de jogar com dois centrais, a Real teve sempre duas saídas: uma com Zubimendi a baixar para construir a três, outra com o guarda-redes a colaborar e Zubimendi entre linhas, atrás do bloco de pressão mais adiantado do Benfica – e falar de “bloco” é por mera facilidade linguística, que “bloco” é algo que raramente existiu.

O Benfica tinha dúvidas sobre se pressionava com dois ou três jogadores – Rafa e Di María estavam descoordenados – e tinha, mais atrás, problema para controlar o espaço à frente de Florentino e João Mário. Mais atrás ainda, outro problema: Morato, Otamendi e António Silva não tinham bem trabalhada a forma de saírem ao portador da bola entre linhas. É certo que a defesa a três permite “queimar” um defesa numa referência mais individual, mas mesmo isso deve ser feito com nexo.

Suplícios tácticos à parte, há uma forma mais simples de explicar o que aconteceu até ao intervalo: a Real Sociedad fez o que quis. Alternando apoios frontais com largura dos alas e alternando saída baixa a três com saída mais directa, os bascos confundiram uma equipa que, num sistema táctico novo, nunca soube como e onde pressionar.

É certo que o primeiro golo surgiu num lance confuso na área (marcou Merino aos 6’) e o segundo de um erro individual de Florentino (marcou Oyarzabal aos 11’), mas o terceiro, aos 21’, mostrou o quão pouco trabalhado está este sistema: Aursnes saiu em pressão individual e foi batido, Otamendi fez o mesmo – e também foi batido – e esse engodo criado entre linhas era aquilo de que a Real precisava para alargar o jogo num ala.

Nessa altura, João Neves já tinha sido obrigado a fechar por dentro e esteve largos segundos em um contra dois. Quando a bola lá chegou já era tarde: Barrenetxea encarou o indefeso português e driblou antes de um remate de qualidade.

Mas o 3-0 ao intervalo sabia a pouco. A Real ainda teve um golo anulado, falhou um penálti e desperdiçou um lance de golo evidente (este último com nova descoordenação na linha defensiva). Eram três, mas o nível de jogo e as oportunidades de golo sugeriam quatro, cinco ou seis golos.

É certo que o Benfica marcou a começar a segunda parte, num lance confuso que deu finalização de Rafa, mas o golo não teve um efeito agregador especialmente relevante - e muito menos a um nível que sugerisse reviravolta.

A Real ofereceu a iniciativa de jogo ao Benfica e explorou as transições que lhe permitiriam “matar” o jogo - se é que já não estava “morto”. O próprio Benfica começou, a dada altura, a pensar no fim-de-semana de derby e pouco mais conseguiu fazer do jogo.

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