A iniciativa da AstraZeneca que promove a sustentabilidade no sector da saúde
O AstraZeneca Sustainability Summit deu a conhecer projectos que contribuem para a descarbonização dos sistemas de saúde e revelou os finalistas do programa Net Zero Health Systems.
A descarbonização dos sistemas de saúde foi o tema principal do AstraZeneca Sustainability Summit realizado no final de Outubro, na sede da farmacêutica. O evento contou com a partilha de vários oradores nacionais e internacionais sobre projectos que contribuem para tornar os sistemas de saúde ambientalmente mais sustentáveis. Por outro lado, foram conhecidos os finalistas da iniciativa Net Zero Health Systems – Accelerating the Descarbonization of Patient Care, um programa de aceleração de start-ups, que a AstraZeneca lançou em parceria com a Startup Lisboa e a Unicorn Factory Lisboa, focado no desenvolvimento de soluções tecnológicas que contribuam para este objectivo.
“Na AstraZeneca acreditamos que a ciência é um motor para o desenvolvimento e é aquilo que fará melhorar também a vida das pessoas, da nossa sociedade e do próprio planeta. E, quando associamos o planeta com as pessoas e com a sociedade, há um elemento-chave que está no nosso DNA, que é a sustentabilidade”, referiu no final do evento, Sérgio Alves, Country President da empresa, em Portugal. É possível ir mais longe, além do habitual foco na área da saúde. “Perante este cenário, questionámo-nos sobre o que poderíamos fazer, especificamente em Portugal, e criámos este primeiro fórum de sustentabilidade da AstraZeneca e acreditámos que seria possível ir à procura de melhores soluções, diferentes e inovadoras, para essa mesma descarbonização do sistema de saúde”, sublinhou.
Durante algumas horas, foram apresentados vários exemplos de “como os avanços na ciência e nos cuidados de saúde podem ajudar neste grande objectivo de criar sistemas de saúde mais sustentáveis”, referiu Rosário André, Medical and Regulatory Affairs Director da AstraZeneca Portugal. O peso que os cuidados de saúde representam no que respeita à pegada carbónica pode também ser visto como uma oportunidade. “De facto, quando nós olhamos para os hospitais, percebemos que as interacções do doente com o hospital levam a uma produção maior de CO2, associada a doença mais grave e a doenças descompensadas”, acrescentou.
Projectos relacionados com a optimização da jornada do doente, que permitem um diagnóstico mais precoce, uma maior proximidade dos cuidados de saúde – mas sem a necessidade de ir ao hospital – através de soluções de telemedicina ou monitorização à distância, p.e., contribuem para esta descarbonização, sublinhou a responsável. “É muito importante percebermos que, se conseguirmos melhorar os cuidados de saúde da nossa população, garantir diagnósticos mais atempados, tratamentos e jornadas de doente optimizadas, estamos também a ter um impacto benéfico na sustentabilidade ambiental e, portanto, estamos a ter um duplo ganho naquilo que é saúde, não só das pessoas, mas também do planeta”, defendeu.
Assista ao resumo do AstraZeneca Sustainability Summit:
Instituições portuguesas dão o exemplo
Depois de algumas palestras partilhadas por oradores estrangeiros, com exemplos de soluções de sustentabilidade que já beneficiam os sistemas de saúde em vários países, foram apresentadas algumas iniciativas nacionais. Bruno Calo Fernandez, Chief Finantial Oficer Germany na Alexion apresentou o tema “CO2 Care Pathway” e começou por dizer que esta é a fase da sua vida profissional, em cerca de quinze anos, em que mais tem assistido à sinergia entre vários stakeholders com a mesma missão: “tentar transformar e melhorar a vida dos pacientes, da sociedade e do planeta”. O orador partilhou o exemplo de uma doente e da sua jornada na Unidade Local de Matosinhos e referiu que é preciso pensar nas diferentes áreas do hospital na perspectiva das emissões de CO2.
“A boa notícia é que todos os tipos de emissões de CO2 podem ser mitigados”, referiu Bruno Calo Fernandez e exemplificou a forma como se pode descarbonizar os cuidados de saúde dos doentes. Desde logo, “pelo acesso universal ao diagnóstico precoce, a optimização da prevenção e do tratamento, bem como, a gestão adequada da doença, a promoção de estilos de vida saudáveis e a promoção da teleconsulta e da telemedicina”.
Maria João Quelhas, médica na Unidade Local de Saúde de Matosinhos dedicou a apresentação ao projecto relativo ao rastreamento de gases anestésicos no bloco cirúrgico. “A identificação do problema era óbvia para nós, uma vez que a exposição crescente aos gases anestésicos tem um grande impacto na nossa saúde [dos profissionais de saúde e, em particular, em mulheres, no que respeita à sua fertilidade] e tínhamos de fazer alguma coisa.” Era preciso mudar. “O meu hospital – que não é o maior no Porto nem em Portugal –serve uma população de cerca de 318 mil pessoas, opera, em média, 19 mil doentes por ano, tem 14 salas cirúrgicas e faz mais de 1600 nascimentos anualmente.
“Em 2017, uma médica anestesiologista do meu hospital decidiu criar um plano que permitiu quantificar o gasto de mais de 300 mil litros de gases anualmente”, explicou. A estratégia passou por reduzir ou mesmo eliminar o uso de óxido nítrico na anestesia. Foi instalado um sistema de captação conectado a uma máquina de anestesia para que o ar exalado do paciente seja capturado pelo mesmo, onde existe um filtro que selecciona e absorve este gás anestésico. “Fizemos a adaptação normal ao nível anestésico e tudo está a funcionar muito bem”, explicou a oradora, defendendo que este projecto não interfere com o normal workflow no bloco cirúrgico. No futuro, a equipa gostaria de incluir este sistema de filtragem em todos os blocos cirúrgicos no hospital, pois, neste momento, ainda só foi implementado em quatro.
Ivo Laranjinho, nefrologista do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, dedicou a sua apresentação à mitigação do CO2 e ao impacto nas unidades de diálise. “A diálise tem uma das maiores pegadas carbónicas nos cuidados de saúde, porque os doentes que necessitam de diálise fazem um tratamento crónico, três vezes por semana, durante anos e até décadas”, explicou. O número de doentes tratados em Portugal, em relação a outras doenças, é muito menor, “mas o seu impacto ambiental é muito elevado”. A própria pegada carbónica da hemodiálise tem um efeito nos próprios doentes, que são muito susceptíveis às alterações climáticas. “Uma sessão de diálise consome, em média, 350 a 500 litros de água, produz, em média, três quilos a três quilos e meio de lixo, dos quais, 1/3 são plásticos, e consome 9 a 10 kWh de energia. Um doente em hemodiálise faz, em média, 156 tratamentos por ano”, referiu o médico. Comparando a pegada carbónica – o consumo de água, de energia e a produção de resíduos – de um doente em diálise com a pegada carbónica de um habitante médio em Portugal, verificou-se que no primeiro, estima-se que sejam gastas entre uma e as quatro toneladas de CO2, por doente, ao ano, o que é dez a 36 vezes superior à pegada carbónica de um doente médio em Portugal. “Um doente que faz hemodiálise também é um habitante médio, pelo que duplica a sua pegada carbónica devido ao tratamento que faz.”
Os nefrologistas estão muito alerta para o consumo de água associado ao tratamento em hemodiálise. Dados da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, que o orador levou para a discussão do tema, apontam que “a prevalência de doentes em diálise tem aumentado consistentemente ao longo dos últimos anos, o que não é diferente do que tem acontecido no resto do mundo”. Estima-se que, actualmente, três milhões de pessoas façam diálise e que esse número possa chegar aos cinco milhões, em 2030. “Quando falamos em sustentabilidade de um sistema de saúde, temos de pensar na prevenção que deve ser o nosso primeiro passo”, explicou, apresentando alguns projectos em que está envolvido, nomeadamente, relacionado com a telemedicina com os arquipélagos da Madeira e dos Açores, que permitiu a redução de 17 a 25 toneladas de CO2 por ano, e uma poupança económica não displicente.
“Estamos também a desenvolver um outro projecto em colaboração com a Universidade de Lisboa que consiste em remover da urina, e do líquido da diálise, produtos nitrogenados – azoto, potássio e magnésio – e, a partir daí, produzir fertilizante, a partir de um produto que não tem qualquer valor comercial.” A sustentabilidade só será possível se todos os intervenientes estiverem conscientes da sua importância na redução desta pegada. “Na diálise, temos muitos intervenientes e todos eles terão uma palavra a dizer e, na minha perspectiva, se não alterarmos o paradigma de como é oferecida a diálise em Portugal, esta situação não será sustentável no futuro. Muito está a ser feito, mas ainda há muito a fazer”, concluiu.
Oito projectos nacionais e internacionais passam à próxima fase
A segunda parte do evento contou com a apresentação de pitchs por parte de jovens responsáveis por iniciativas que podem vir a ser revolucionárias na área da saúde e que foram escolhidas de entre mais de 70 candidaturas nas áreas de eficiência energética hospitalar, de mobilidade sustentável da saúde e de digitalização e saúde conectada.
Sérgio Alves confessa que de esta aliança firmada com a Startup Lisboa, o concurso Net Zero Health Systems deu a conhecer projectos que, estão ainda numa fase inicial, mas que considera como “excepcionais”. Todos eles “acabam por ser já premiados ao estarem presentes neste momento, não só na própria conferência, como no programa de aceleração que farão com a Startup Lisboa. Estou certo de que, durante os próximos meses e anos, iremos ouvir falar de alguns destes projectos, porque irão certamente contribuir para a descarbonização do sistema de saúde”.
Os critérios que o júri teve em consideração para a escolha de duas start-ups mais promissoras das oito finalistas, basearam-se na “qualidade da equipa, a capacidade de implementação da ideia, o impacto no sector da saúde, no potencial da descarbonização e, também, a sua capacidade de escala e de crescimento”, referiu Sílvia Garcia, presidente do júri e Vogal Executiva da Agência Nacional de Inovação. Em primeiro lugar, foi distinguida a Glooma, uma start-up com um projecto que desenvolve um dispositivo para detecção precoce de cancro da mama e, em segundo, a RUBYnanomed, que está focada em encontrar uma solução para monitorização não invasiva da progressão do cancro, nomeadamente, metástases do cancro da mama.
Não foi uma decisão fácil, confessou a presidente do júri, pois, “as ideias eram todas muito boas”, mas o que mais pesou na escolha foi o impacto na saúde e na descarbonização. “Acreditamos que, se estas ideias tiverem a capacidade de crescer, podem realmente ter um impacto grande na sociedade e nas pessoas”.
Para Gil Azevedo, também membro do júri e Director Executivo da Unicorn Factory Lisboa & Startup Lisboa, as próximas oito semanas serão de trabalho regular com os candidatos. “Vamos dar-lhes formação, por forma a conseguirem ter soluções mais desenvolvidas, o mais depressa possível. E, com isso, através da mentoria, de acesso à nossa rede de parceiros, esperamos que consigam avançar muito os seus conceitos, para poderem desenvolver pilotos, mais rapidamente, e terem impacto no mundo real”.
Os vencedores do programa de aceleração serão conhecidos numa cerimónia a acontecer em Janeiro do próximo ano.