Metade das duas mil maiores empresas cotadas em bolsa do mundo estabeleceram uma meta de neutralidade carbónica até 2050, mas apenas uma fracção cumpre as directrizes específicas das Nações Unidas para o que constitui um compromisso de qualidade.
Um relatório publicado na segunda-feira pelo Net Zero Tracker, um consórcio de dados independente que inclui a Universidade de Oxford, mostra que as metas das empresas do índice Forbes2000 aumentaram 40% - de 702, em Junho de 2022, para 1103, em Outubro de 2023 -, cobrindo dois terços das receitas destas empresas (cerca de 27 biliões de dólares, ou seja, mais de 25 mil milhões de euros).
No entanto, apenas 4% dos objectivos cumprem os critérios estabelecidos pela campanha "Race to Zero" das Nações Unidas. A ONU recomenda, por exemplo, que os compromissos abranjam todas as emissões (e não apenas em algumas operações), comecem a reduzi-las imediatamente (ou seja, menos promessas e mais acção) e incluam uma actualização anual dos progressos realizados em relação aos objectivos intermédios e de longo prazo.
Das empresas que estabeleceram um objectivo, apenas 37% tinham um que abrangia as suas emissões de âmbito 3, ou seja, aquelas ligadas à cadeia de valor de uma empresa (fornecedores e serviços contratados). Apenas 13% tinham um limite de qualidade para a utilização de compensações de carbono, os chamados offsets que podem ser adquiridos nos mercados voluntários de carbono.
As empresas estão do lado certo ou errado da linha?
"Surgiu uma fronteira clara no que respeita à neutralidade das emissões. Inúmeras metas de emissões líquidas zero são pouco credíveis, mas agora podemos dizer com certeza que a maioria das principais empresas cotadas em bolsa do mundo está do lado certo da linha no que diz respeito às intenções de emissões líquidas zero", afirmou John Lang, coodernador de projecto do Net Zero Tracker.
"Com a definição de metas credíveis de neutralidade carbónica como um indicador para identificar empresas com visão de futuro, isso suscita uma pergunta simples: as empresas em que estamos a investir, a trabalhar e a comprar estão do lado certo ou errado da linha?"
Para além das empresas, o Net Zero Tracker acompanha os compromissos assumidos por nações, estados, regiões e cidades. Para além da Oxford Net Zero, o consórcio inclui a Energy & Climate Intelligence Unit (ECIU), o Data-Driven EnviroLab (UNC) e o NewClimate Institute.
O ritmo da transição climática de governos e empresas deverá ser uma parte central das negociações sobre o clima da COP28 no Dubai, que começam no final de Novembro. Nas semanas que antecedem as cimeiras do clima, é habitual ver-se publicados inúmeros relatórios que ajudam a traçar um retrato do panorama actual e das mudanças que se pretende alcançar.