O que fazer em caso de tsunami? Correr para um ponto alto

Exercício em Lisboa testa esta segunda-feira o grau de prontidão do sistema de alerta para tsunamis implementado na região do Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e Mares Conexos.

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Placa em Lisboa: as pessoas devem correr para locais altos ou para o interior, longe da costa, se identificarem qualquer sinal de tsunami Daniel Rocha
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Um exercício de alerta de tsunami realiza-se esta segunda-feira, entre as 8h e as 14h30, em Lisboa, com a sirene a ser accionada na Praça do Império, em Belém. O objectivo é testar o alerta e o grau de prontidão do sistema de alerta para tsunamis implementado na região do Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e Mares Conexos — além de Portugal, os países pertencentes a estas regiões vão também participar no exercício.

Mas, em caso de tsunami, o que deve a população fazer? Numa nota divulgada no seu site, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) começa por salientar que as pessoas devem correr para locais altos ou para o interior, longe da costa, se identificarem qualquer sinal de tsunami.

Os sinais de alerta incluem sentir “um sismo muito forte ou de longa duração”; ver um “aumento ou diminuição súbita do nível do mar”; e ouvir “um barulho estranho e/ou alto vindo do mar” — além obviamente das mensagens de aviso e alerta de tsunami emitidas pelos centros de alerta e pelas autoridades nacionais.

O IPMA destaca que um tsunami “é uma série de ondas causadas pelo deslocamento súbito de um grande volume de água”. “Estas ondas podem chegar à costa em minutos, mas podem continuar por várias horas”, salienta. Os tsunamis podem ter várias origens, entre as quais grandes sismos costeiros ou submarinos longe da costa, deslizamentos de terra, erupções vulcânicas, perturbações da pressão atmosférica ou impactos de grandes meteoritos.

O instituto nota que “Portugal continental pode ser afectado por várias fontes conhecidas que se encontram junto da sua costa”, embora existam também “fontes distantes no Atlântico com possível impacto em Portugal continental, Açores e Madeira”. O arquipélago dos Açores, devido à sua “natureza vulcânica”, pode ser afectado por tsunamis de carácter local. Há também outros países igualmente expostos a tsunamis ao longo da costa do Atlântico, como Espanha e Marrocos.

Segundo o IPMA, “o catálogo nacional inclui um total de 11 tsunamis originados por sismos no oceano Atlântico nos últimos dois mil anos” e as “zonas costeiras foram ainda afectadas por três tsunamis causados por deslizamentos de terras”. Só no século XX, os Açores, a Madeira e Portugal continental sofreram os efeitos de três tsunamis causados por sismos de magnitude superior a 7 graus — mas estes efeitos só foram sentidos nos portos. É o caso, por exemplo, do sismo de 1969.

O terramoto de 1 de Novembro de 1755 gerou um tsunami que afectou as costas de Portugal, do Sul de Espanha e do Norte de Marrocos. Apesar de não ser possível quantificar o número de vítimas associadas ao tsunami, estima-se que tenham sido vários milhares, em particular na cidade de Lisboa.

Estudos recentes citados pelo IPMA indicam que “existe uma probabilidade de 100% de que as costas de Portugal continental, Açores e Madeira, assim como os países vizinhos, sejam afectadas por um tsunami com uma altura de pelo menos um metro, num tempo de exposição de 500 anos”. Além disso, Portugal, Espanha e Marrocos “poderão sofrer um tsunami com pelo menos cinco metros de altura no mesmo período de tempo com uma probabilidade de 50%”.

Nunca ir para as zonas costeiras

Em caso de tsunami, o IPMA aconselha ainda a não aguardar pelas ordens de evacuação oficiais, uma vez que “pode não haver tempo suficiente”. Outras recomendações incluem dirigir-se para um andar superior (pelo menos o terceiro andar) ou telhado de um edifício de betão armado — caso não se consiga deslocar para um ponto mais alto —; subir a uma árvore forte (em último recurso); preparar uma mochila com elementos essenciais (água, alimentos não perecíveis, rádio e lanterna); procurar algo para se manter à tona da água se for arrastado pelo tsunami; e nunca ir para a praia ou zonas costeiras.

Desde 2005 — o ano a seguir ao tsunami que atingiu o Sudoeste asiático e provocou a morte a mais de 200 mil pessoas — que a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO está a criar um sistema de alerta precoce de tsunamis no Atlântico Nordeste, Mediterrâneo e outros mares na região (NEAMTWS, na sigla em inglês).

Portugal encontra-se coberto pelo Centro Nacional de Alerta de Tsunamis do IPMA e pelo Centro Francês de Alerta de Tsunamis (CENALT), os quais integram a rede NEAMTWS. Estes centros emitem mensagens de aviso para os pontos focais nacionais, em particular para o sistema de Protecção Civil. As mensagens contêm informações preliminares sobre os sismos e indicam se há ameaça de tsunami e quais os países e regiões que poderão ser afectados.

Em Portugal, frisa o IPMA, quando se espera a ocorrência de um tsunami as mensagens indicam o nível de alerta para cada segmento da costa nacional, as horas de chegada da primeira onda e, se adequado, as observações do tsunami entretanto realizadas.

Portugal sem envio de mensagem directa de alerta ao cidadão

Fernando Carrilho, geofísico do IPMA, explicou posteriormente ao PÚBLICO, na tarde desta segunda-feira, que o exercício “correu bem” do ponto de vista dos emissores, ou seja, da transmissão de informação por parte do IPMA para o sistema de protecção civil. “Aproveitámos o exercício para correr um cenário como se fosse um acontecimento real”, afirmou, destacando que “o cenário foi injectado no sistema de processamentos e o analista de serviço trabalhou a informação e analisou tal como se estivesse a acontecer no momento”.

Embora a sirene tenha tocado em Lisboa, o exercício foi de âmbito nacional. “A saída de informação do IPMA em direcção ao sistema de protecção civil foi para toda a estrutura da protecção civil, tendo até sido directamente enviada para alguns municípios que foram seleccionados pela autoridade de forma que fossem alertados por duas vias” — uma via directa (IPMA) e depois através da própria Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), de acordo com o fluxo de informação que está definido — explica, Fernando Carrilho. “Estiveram envolvidos todos os municípios com responsabilidade costeira”, acrescenta.

No que diz respeito ao NEAMTWS, frisa, este é um sistema que funciona com base na actividade coordenada entre cinco entidades da Turquia, Grécia, Itália, França e Portugal (o IPMA, neste caso). “No IPMA e no CENALT, que é o nosso congénere francês, dividimos a responsabilidade pela vigilância do Atlântico Nordeste. Mas fazemos esta actividade de forma coordenada”, salienta o geofísico. Em jeito de balanço, Fernando Carrilho salienta que essa fase é da responsabilidade de “quem está a olhar para a informação e para os dados daquilo que está a acontecer” — uma parte que, diz, “está relativamente bem organizada e montada” e que se encontra em “pleno funcionamento”.

A fase seguinte do sistema de alerta precoce está relacionada com “o envio da informação para os decisores — que, no fundo, estão dentro dos vários sistemas de protecção civil de cada país — e aí as coisas estão um bocadinho mais atrasadas”. Ainda assim, “tem havido francos progressos nos últimos anos, inclusive em Portugal, com a definição de rotas de evacuação, realização de exercícios, colocação de sinalética e dispositivos de alerta à população local, nomeadamente sirenes” (que existem em Lisboa e em Cascais). “Estamos a progredir, assim como noutros pontos da Europa — em particular, como em Espanha, Itália e Grécia. O progresso não é tão rápido quanto eu pessoalmente gostaria, mas tem sido o possível porque é uma obra de grande dimensão”, conclui Fernando Carrilho.

Neste momento, segundo o geofísico do IPMA, “ainda não está implementado, na parte do sistema de protecção civil, o envio de mensagem directa [de alerta de tsunami] ao cidadão”. Para isso, serão necessárias “outras tecnologias que, mais tarde ou mais cedo, serão implementadas em Portugal”. Actualmente, é possível “o accionamento de sirenes junto à costa”.

Perante um cenário em que as pessoas se encontrem numa zona costeira e as sirenes sejam accionadas, Fernando Carrilho aconselha a “afastarem-se da costa o mais rapidamente possível e seguirem as rotas de evacuação que estão identificadas”. “O aviso directo ao cidadão é algo que penso que irá acontecer num futuro não muito distante com a utilização de outros canais, nomeadamente o chamado ‘Cell Broadcast’, que é algo que tira partido das tecnologias que já estão instaladas e ao dispor da população, nomeadamente os smartphones”, frisa.

As regiões em Portugal com maior risco de tsunami são a costa algarvia — em particular, a zona do Barlavento algarvio —, assim como a zona da baía de Cascais, Oeiras e Lisboa. “São zonas com alguma exposição ao fenómeno de tsunami e, em particular, aos tsunamis causados por sismos com origem a Sul/Sudoeste do território continental”, conclui Fernando Carrilho.

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