“Nenhum preço é demasiado alto para salvar os reféns”

Terapeuta e activista pela paz, Irif Halperin é mãe e avó de sobreviventes do ataque do Hamas. Só quer que as bombas se calem e que os reféns voltem a casa.

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Membros do kibbutz Kfar Aza manifestam-se em Telavive Reuters/AMMAR AWAD
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Irif Halperin é psicoterapeuta e tem um diagnóstico: “Não estamos sãos, não temos os recursos mentais para fazer o que é preciso, para fazer a paz”. Depois de três semanas a cuidar da filha e das duas netas, que no dia 7 de Outubro escaparam ao massacre no kibbutz Re’im, junto ao festival de música electrónica onde foram mortas pelo menos 260 pessoas, começou a vir ao local onde nasceu uma espécie de concentração permanente de familiares e amigos dos reféns feitos pelo Hamas, ou de pessoas que apenas querem dizer “Tragam-nos de volta”.

Cada refém – há 242 confirmados – tem um poster com o seu rosto, uma imagem repetida nas paredes, as mesmas fotografias que se vão sucedendo em ecrãs publicitários no centro de Telavive. E cada pessoa que vai àquele pedaço da rua Kaplan, diante do quartel-general do Exército na cidade, tem um poster na mão.

Há uma mesa onde Alex, membro de uma organização não-governamental chamada Círculos de Acção, vai deixando mais cartazes, e há pessoas que chegam à procura da foto de alguém em particular. Ruth veio de Ein Horod, um kibbutz no Norte de Israel, e segura o poster com a imagem de Ofelia Roitman, a sua tia, de 77 anos, levada do kibbutz Nir Hoz. Um senhor que acaba de chegar quer encontrar o poster de Aviv, uma menina de dois anos.

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Irif Halperin exibe o cartaz com a imagem de Vivian Silver, uma activista pela paz de 74 anos, raptada do kibbutz Be’eri DR

Irif tem nas mãos a fotografia de Vivian Silver, uma activista pela paz de 74 anos, raptada do kibbutz Be’eri, e está a responder às perguntas de uma norte-americana judia. “As pessoas são pessoas, são pessoas”, repete. A interlocutora diz-lhe que o combustível que ela quer deixar entrar na Faixa de Gaza é roubado pelo Hamas. “Eu quero dar água e combustível às pessoas, às mães como eu, às avós como eu. Elas não são o meu inimigo. Só o Hamas é meu inimigo”, responde.

Professora, psicoterapeuta, activista pela paz, Irif, de 65 anos, considera Vivian um modelo. Depois de se dedicar aos direitos das mulheres na sociedade israelita, Vivian envolveu-se na vida dos beduínos no deserto do Neguev e a seguir na defesa dos habitantes de Gaza e na cooperação destes com os israelitas da fronteira. Nos últimos anos, tornou-se uma das vozes do movimento Women Wage Peace, formado para pressionar o Governo a encontrar “um acordo político aceitável” para israelitas e palestinianos.

Agora, a prioridade de Irif é ver Vivian de regresso. “Nenhum preço é demasiado alto para salvar os reféns. O que é que pode ser mais importante do que a vida?” E Vivian “faz falta”, é de pessoas como ela que Israel precisa para ser capaz dos “grandes gestos, gestos que vêm do coração, os gestos verdadeiros, de quem acredita que os palestinianos são pessoas e merecem os mesmos direitos do que quaisquer seres humanos”.

Irif começou o seu activismo depois de cumprir o serviço militar. “Como soldado, servi nos Territórios Ocupados, em Nablus. Achava que estava a proteger o meu país, mas depois percebi que as pessoas tinham medo de mim… Eu tinha 18 anos e via pessoas mais velhas a fugir de mim”, descreve. Desde então, diz, tem sido cada vez “mais radical na defesa da paz, como se defender a paz fosse radical”.

Agora, defende, os israelitas precisam de ajuda. “Nós não conseguimos resolver isto sozinhos. Precisamos da ajuda dos países europeus, dos Estados Unidos, que felizmente, estão a interferir, só espero que interfiram mais….”, diz Irif.

Não é só o seu trabalho de terapeuta que a faz pensar que “os israelitas não são nem nunca foram mentalmente saudáveis”, é a sua própria história: “A minha avó perdeu toda a família no Holocausto, nunca foi completamente sã. Os meus outros avós fugiram dos pogroms na Ucrânia e deixaram família para trás, nunca recuperam”.

“Por favor venham ajudar-nos, nós não conseguimos. Provámos que não conseguimos”, insiste. A prova, para Irif, é o que acaba de acontecer. “A minha filha esteve sentada no kibbutz com duas crianças de oito e quatro anos, durante 29 horas, e nenhum soldado israelita apareceu”, conta. “Pensei que as minhas netas estavam a ser mortas. Mas sobreviveram e é para que elas tenham um futuro seguro que temos de nos entender com os palestinianos.”

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