EDP espera custo “muito mais baixo” com a tarifa social da electricidade
Empresa espera começar a pagar menos para financiar desconto na factura aos consumidores economicamente vulneráveis.
O presidente da EDP, Miguel Stilwell de Andrade, espera que o novo modelo de financiamento da tarifa social da electricidade permita à empresa ter um encargo “muito mais baixo do que até agora” com esta medida de apoio aos clientes economicamente vulneráveis.
O Governo anunciou recentemente uma alteração ao modelo de financiamento da tarifa social e, além dos produtores, o encargo também vai passar a ser suportado pelos comercializadores de electricidade que presumivelmente poderão transferir este custo para as facturas dos seus clientes (uma possibilidade que o Governo não afastou, quando questionado pelo PÚBLICO).
Numa conferência com analistas para apresentação das contas dos primeiros nove meses do ano, o presidente da EDP referiu que ainda é preciso esperar pela publicação do diploma para conhecer todos os pormenores, mas mostrou-se convencido de que a EDP será beneficiada por um novo figurino em que “o fardo [do financiamento] é repartido por todos os operadores do mercado”, à semelhança do que acontece em Espanha.
A EDP, que detém a maioria dos grandes centros electroprodutores em Portugal, tem sido, até à data, a grande financiadora deste desconto de 33,8% no preço final de fornecimento de electricidade que se aplica aos beneficiários de prestações sociais e que em 2020 passou a incluir também as situações de desemprego.
Desde 2011 até 2022, os números da EDP indicam que já suportou cerca de 530 milhões de euros com o custo da tarifa social. No ano passado, a transferência relativa aos centros electroprodutores do grupo totalizou 74 milhões de euros.
O gestor lembrou que a EDP “foi a Bruxelas” em 2020 queixar-se de um modelo de financiamento da tarifa social, cuja existência “é compreensível”, mas que punha o custo todo do lado dos produtores (nas tarifas de 2023 está implícito um custo de cerca de 120 milhões de euros).
A partir do momento em que os comercializadores comecem a pagar a tarifa social, e tendo a EDP a maior quota de mercado na comercialização, poderá diluir parte do custo que lhe cabe por milhões de clientes, ficando com um encargo global muito menor.
Chuva ajuda contas
A EDP, que até Setembro registou um resultado líquido de 946 milhões de euros (mais 83% face ao período homólogo de 2022), beneficiou de um conjunto de factores que alteraram o “contexto extremamente adverso” de 2022 e que lhe permitiram tirar partido de ser uma empresa integrada, que actua na produção e comercialização de energia.
Depois das restrições devido à seca em 2022, a EDP tem conseguido produzir mais energia nas suas centrais hidroeléctricas em Portugal (5,6 terawatt hora, mais 58% face a 2022). Os preços do mercado grossista ibérico têm estado a descer face aos valores de 2022 (um preço médio de 91 euros por megawatt hora, comparável com os 186 euros do período homólogo) e o preço do gás no Mibgas caiu 63%, para 39 euros/megawatt hora.
A empresa tem conseguido beneficiar de menores custos de aquisição de electricidade para fornecer a sua carteira de clientes e, em simultâneo, de um menor custo de aquisição de gás natural para as centrais de ciclo combinado.
Segundo a EDP, os níveis das barragens estão actualmente a 70% da capacidade, “perto de um máximo de dez anos para esta altura do ano”, o que permite entrar em 2024 com “uma posição forte” em termos de capacidade de produção hidroeléctrica.
Na terça-feira, a EDP Renováveis já havia divulgado um resultado líquido de 445 milhões de euros até Setembro (mais 7% em relação ao mesmo período do ano passado), apesar de uma quebra de receitas devido à diminuição do preço médio de venda, que foi ainda assim parcialmente compensada com maior quantidade de energia produzida.
Nos primeiros nove meses do ano, o grupo EDP registou uma melhoria de 26% do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA), para 3800 milhões de euros.