Papa confirma que vai à Cimeira do Clima no Dubai: uma estreia de um pontífice

O Papa Francisco disse esta quarta-feira que irá participar na COP28, em Dezembro, no Dubai. É a primeira vez que um pontífice estará presente na cimeira das Nações Unidas, desde o seu início em 1995.

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Visita do Papa Francisco ao Santuário de Fatima durante a Jornada Mundial da Juventude, em Agosto de 2023 Nelson Garrido
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O Papa Francisco, que tem multiplicado os seus alertas face ao aquecimento global, anunciou esta quarta-feira numa entrevista que vai à cimeira do clima, COP28, que decorrerá no Dubai, Emirados Árabes Unidos, no início de Dezembro. "Vou ao Dubai. Acho que vou sair em 1 de Dezembro até 3 de Dezembro. Estarei lá três dias", afirmou o líder da igreja católica à emissora pública italiana Rai1.

A COP28 decorre entre 30 de Novembro e 12 de Dezembro nos Emirados Árabes Unidos, reunindo perto de 200 países para debater medidas e objectivos no contexto das alterações climáticas. "É muito importante ir à COP28 e obter resultados poderosos", disse o director-geral Al Suwaidi, numa entrevista à Europa Press em Outubro, para quem o processo climático precisa de pessoas com capacidades técnicas para avançar.

Francisco, de 86 anos, fez da protecção do ambiente uma das marcas do seu papado. Mais recentemente, num importante documento publicado no dia 4 de Outubro, Francisco apelou aos políticos hesitantes e aos negacionistas das alterações climáticas para que mudem de posição, afirmando que não podem ignorar as causas humanas ou ridicularizar a ciência enquanto o planeta "pode estar a aproximar-se do ponto de ruptura".

O documento, uma exortação apostólica intitulada Laudate Deum (Louvado seja Deus), surge na sequência da encíclica de 2015 de Francisco sobre o ambiente Laudato Si' (Louvado seja).

A exortação foi motivada pelos recentes fenómenos climáticos extremos e mencionou várias vezes os desafios enfrentados pela COP28. O fracasso em Dubai, disse Francisco no documento, "será uma grande decepção e porá em risco qualquer bem que tenha sido alcançado até agora". Na semana passada, encontrou-se com o presidente da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber.

Para muitos, a influência do Papa Francisco não deve ser subestimada, tendo como referência a pertinência da encíclica Laudato Si’ em 2015, ano da assinatura do Acordo de Paris.

"Presos" no ciclo político desde Paris

Na entrevista à Europa Press em Outubro, o director-geral Al Suwaidi, representante da cimeira mundial, natural dos Emirados Árabes, participou como negociador do seu país na COP21 de Paris, em 2015, na qual se alcançou o Acordo Climático, actual base da acção contra a emergência climática.

"De certa forma, estamos a ter as mesmas conversações que tínhamos na altura. Estou surpreendido porque quando saí de Paris pensei que já tínhamos alcançado o resultado político. Agora, para avançar, as cimeiras sobre o clima não precisam de pessoas como eu. O processo não precisa de negociadores, mas sim de técnicos que se encarreguem da implementação, e hoje não temos isso", alertou na mesma altura, insistindo na importância de a próxima reunião internacional "produzir resultados".

Majid Al Suwaidi criticou o facto de haver uma comunidade de pessoas, especialmente jovens, realmente interessadas em encontrar soluções para o problema climático, enquanto os países estão "presos" no ciclo político, apesar de já se saber que o planeta "não está no caminho para atingir os objectivos de Paris".

Limitar o aumento do aquecimento global a 1,5 graus centígrados, reiterou, é "possível", porque a receita é conhecida e inclui, por exemplo, a proposta defendida esta semana pela Agência Internacional de Energia, em Madrid.

"Sabemos o que temos de fazer para atingir o objectivo de Paris, temos a tecnologia. É por isso que é muito importante que as partes na COP28 tenham conversas honestas", argumentou.

Quanto à transição energética, salientou que é necessário reduzir 22 gigatoneladas de emissões de gases com efeito de estufa, razão pela qual alertou para a importância de se construir hoje o sistema energético do futuro.

"A descarbonização da energia não pode ser feita de um dia para o outro. O caminho traçado em Paris passa pela melhoria da eficiência energética através de diferentes fórmulas, como a captura e armazenamento de dióxido de carbono", sublinhou.

Majid Al Suwaidi considerou que os países desenvolvidos não estão a cumprir os investimentos prometidos no domínio climático e que o mundo está "no mesmo ponto em que estava em 2015", apelando também a uma transformação do sistema financeiro internacional e das instituições.

"Precisamos de nos concentrar nos problemas das pessoas, pensar em como nos podemos adaptar de uma forma que seja justa para todos", observou o diplomata dos Emirados, dizendo ser crucial conseguir um melhor sistema alimentar, melhor saúde, culturas mais resilientes e uma redução da vulnerabilidade das populações às alterações climáticas.

Relativamente à COP28, prometeu que nenhum grupo será excluído das conversações sobre o clima.