Hungria. Menores proibidos de entrar em exposição da World Press Photo por causa de conteúdo LGBT+

Mesmo com a autorização dos pais, jovens estão proibidos de entrar na exposição. Directora executiva da WPF diz que esta foi a primeira vez que uma das exposições enfrentou censura na Europa.

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Marcha pelos direitos LGBT+ em Budapeste, Hungria, em Julho de 2021 Reuters/MARTON MONUS
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A Hungria proibiu os jovens abaixo dos 18 anos de visitar a exposição da World Press Photo em Budapeste por causa do "conteúdo LGBT+ de algumas das fotografias".

O Governo nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán privilegia uma agenda cristão-conservadora e em 2021 proibiu a “exibição e promoção da homossexualidade” em livros e filmes acessíveis a menores de 18 anos, apesar das fortes críticas de grupos de direitos humanos e da União Europeia (UE).

A prestigiosa exposição, exibida no Museu Nacional da Hungria, recebe anualmente mais de quatro milhões de visitantes de todo o mundo. Apresentando fotojornalismo excepcional, a sua missão é levar a cobertura visual de uma série de eventos importantes para um público global.

No sábado, o museu parou de vender bilhetes para a exposição fotográfica aos jovens depois de o partido de extrema-direita Mi Hazank/Nossa Pátria fazer queixa ao Ministério da Cultura e ser iniciado um inquérito governamental por causa de um conjunto de cinco fotografias da fotojornalista filipina Hannah Reyes Morales. Mesmo que tenham a autorização dos pais, os jovens não poderão visitar a exposição.

“Com base na iniciativa de Mi Hazank, os jovens com menos de 18 anos não podem visitar a exposição no Museu Nacional porque viola a lei de protecção das crianças”, refere o partido de extrema-direita à agência de notícias estatal MTI. As novas regras foram publicadas no site do museu do passado sábado.

As fotografias – que documentam uma comunidade de idosos LGBTQ+ nas Filipinas que partilharam uma casa durante décadas e cuidaram uns dos outros à medida que envelheciam – retratam alguns membros da comunidade no seu alter-ego drag, a utilizar vestidos e maquilhagem.

À Associated Press (AP), Joumana El Zein Khoury, directora executiva da World Press Photo, disse ser preocupante que uma série de fotografias “tão positivas, tão inclusivas” tenha sido um alvo do Governo da Hungria e que foi a primeira vez que uma das exposições enfrentou censura na Europa.

“O facto de haver acesso limitado para um determinado tipo de público foi algo que nos chocou terrivelmente. É surpreendente que seja esta imagem específica, esta história específica, e é surpreendente que esteja a acontecer na Europa", referiu Khoury.

Tamas Revesz, ex-júri da World Press Photo e organizador de exposições na Hungria há mais de três décadas, disse que muitas das fotografias da exposição – como a cobertura da guerra na Ucrânia – são “mil vezes mais sérias e chocantes” do que a série de Morales.

A artista e fotógrafa disse em comunicado enviado por e-mail que os temas das suas fotografias servem como “ícones e modelos” para as pessoas LGBTQ+ nas Filipinas e que “não são perigosos ou prejudiciais”.

No início deste ano, alguns livreiros húngaros foram multados por venderem livros que retratavam a homossexualidade, que não estavam embrulhados em plástico, conforme exigido pela legislação. A lei de 2021, que o Governo afirma ter como objectivo proteger as crianças, tem revoltado a comunidade LGBT+.

Nos últimos anos, Viktor Orbán tem intensificado a repressão anti-LGBT no país que, entre outros aspectos, proíbe o casamento de pessoas do mesmo sexo, a adopção por casais homossexuais e permite que os cidadãos denunciem às autoridades famílias LGBT de forma anónima.

Por sua vez, o conservadorismo crescente e violação dos direitos LGBT no país levou a Comissão Europeia a agir e processar a Hungria no Tribunal de Justiça da União Europeia com o apoio de 15 Estados-membros, entre os quais França e Alemanha.