Paquistão começa a deter imigrantes sem documentos antes do fim do prazo
Mais de 140 mil aceitaram o repatriamento voluntário. Centros de trânsito foram criados para os detidos sem autorização de residência. A maioria é afegã e muitos fugiram dos taliban.
As autoridades paquistanesas começaram a juntar estrangeiros sem documentos à medida que o limite das 23h59 (menos cinco horas em Portugal continental) desta quarta-feira, estabelecido para iniciar a expulsão se aproximava.
Os afegãos constituem a maior parte dos mais de 140 mil imigrantes que partiram voluntariamente até à data, segundo as autoridades, alguns dos quais vivem no Paquistão há décadas.
O Paquistão ignorou os apelos das Nações Unidas, das organizações de defesa dos direitos humanos e das embaixadas ocidentais para que reconsiderasse a sua decisão, tomada no mês passado, de dar um prazo até 1 de Novembro para os imigrantes sem documentos deixarem o país ou corriam o risco de expulsão.
“O processo de detenção dos estrangeiros… para deportação começou a 1 de Novembro”, anunciou o Ministério do Interior num comunicado, acrescentando que o regresso voluntário continuará a ser encorajado.
O mesmo comunicado refere que 140.322 pessoas deixaram até à data voluntariamente o Paquistão ao abrigo do plano. O Governo paquistanês havia avisado que as detenções começarão na quinta-feira.
Poucas horas depois do comunicado do Ministério, as autoridades começaram a deter estrangeiros sem documentos e a transferi-los para centros de trânsito.
Na cidade portuária de Karachi, no sul do país, que acolhe um grande número de migrantes e refugiados afegãos, o comissário-adjunto Junaid Iqbal Khan afirmou que até àquele momento cerca de 40 pessoas sem os documentos necessários tinham sido transferidas para um dos centros de trânsito.
A Reuters viu a polícia a trazer algumas pessoas para o centro, onde as autoridades montaram tendas para abrigar aqueles que forem detidos. A imprensa não foi autorizada a entrar.
Entre os repatriados voluntários, cerca de 104 mil cidadãos afegãos deixaram o país através do principal posto fronteiriço de Torkham, no noroeste do Paquistão, durante as duas últimas semanas.
“Alguns deles viviam no Paquistão há mais de 30 anos sem qualquer prova de residência”, disse Nasir Khan, o vice-comissário da área.
Um número ainda indeterminado de pessoas saiu pelo posto fronteiriço de Chaman, na província do Baluchistão, no sudoeste do país.
Dos mais de quatro milhões de afegãos a viver no Paquistão, o Governo calcula que 1,7 milhões sejam indocumentados.
Muitos fugiram do Afeganistão durante os vários conflitos que assolam o país desde o final dos anos 1970, enquanto o regresso dos taliban ao poder depois da saída dos Estados Unidos em 2021 levou a outro êxodo.
Mas o Paquistão adoptou uma posição dura, afirmando que os afegãos estão envolvidos em atentados fundamentalistas, contrabando e outros crimes no país. Algo que é desmentido por Cabul.
A administração taliban pediu aos países com refugiados afegãos mais tempo para preparar o repatriamento.
“Apelamos aos países para que não deportem os afegãos à força, sem preparação, mas que lhes dêem tempo suficiente e que sejam tolerantes ", afirmou a organização numa publicação na rede social X (o antigo Twitter).
Ao mesmo tempo, o Governo taliban assegurou aos afegãos que deixaram o país por motivos políticos que poderiam regressar e viver pacificamente no Afeganistão. Reuters