Chandler Bing, de 1994 até sempre

Não conseguimos escolher aquilo pelo qual vamos ser lembrados. Sabendo o que a série representa, de 1994 até hoje, apagar essa memória seria só mais uma batalha injusta.

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Megafone P3: Chandler Bing, de 1994 até sempre Reuters/Mario Anzuoni
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Tudo o que aconteceu até agora foi o oposto do que Matthew Perry queria. Soubemos em 2022 que não queria ser lembrado apenas como o “Chandler de Friends”, mas o que descobrimos no feed de qualquer rede social é que Chandler é muito maior que Matthew. O que apenas o torna numa eterna fonte de felicidade.

Parece uma homenagem ao contrário, mas não é. Ver a série, para Matthew Perry, era uma pequena tortura. Era a lembrança de um longo e sombrio período do qual conseguiu sair vivo. Por pouco. E é por isso que queria tanto ser lembrado por tudo, menos por aquilo que tanto o fez sofrer.

Infeliz, ou felizmente, não conseguimos escolher aquilo pelo qual vamos ser lembrados. Sabendo o que a série representa, de 1994 até hoje, e para sempre, para tantos milhões e milhões de pessoas, apagar essa memória seria só mais uma batalha injusta. Faltou-lhe tempo, mas nem o infinito poderia ajudar.

É claro que Matthew Perry é muito maior que qualquer personagem que tenha feito. Isso é inegável. Mas enquanto nos despedimos do Matthew, nunca teremos de dizer adeus ao Chandler. E isso, por muito que seja o oposto do que o actor queria, é a salvação para de muitas pessoas.

Se a missão do Matthew era ajudar pessoas, não tenho dúvidas de que o Chandler o vai continuar a fazer. Claro que a receita para largar a dependência de álcool e drogas não está numa série de televisão. Nem a depressão e os problemas de saúde mental se resolvem assim. Mas que Friends é uma séria que muda o estado anímico de quem gosta dela, não tenho dúvidas.

No prime time da minha adolescência disseram-me que era parecido com o Chandler. Sabia que já me tinha cruzado com ele, algures na RTP 2, em episódios soltos que não me lembro de ter visto. Sabia que a série era conhecida, mas não sabia mais nada. Fisicamente, não podia ser, mas também nunca concordamos com quem nos diz que somos parecidos com alguém, pois não?

Fiquei curioso, mas não o suficiente. Foi preciso ter uma amiga fanática que via Friends em loop e um grande desgosto amoroso para querer descobrir a série. Do início ao fim, para finalmente conhecer a história, os personagens e, principalmente, o porquê de ser uma série de culto.

Dizem que o tempo cura. Também acho que sim. E se ver a série me ajudou a recuperar de um coração partido? Sim, até porque dez temporadas, cada uma com vinte e muitos episódios, é muito tempo. Voltei a sorrir. A rir alto e sozinho em frente a um ecrã. Emocionei-me enquanto me tentava encontrar a mim próprio. Não foi a série que me deixou “curado”, mas ajudou. Muito.

Hoje em dia, ainda vejo Friends, aqui e ali, e é sempre voltar a um lugar feliz. É uma série que não me desgasta, só me alimenta. E tal como eu tive esta relação longa com a série, não faltam pessoas com histórias parecidas. Mais ou menos emocionantes, mais ou menos marcantes, mas que são, para sempre, parte de nós.

Podia terminar a crónica com mil e uma frases que sei melhor que o meu número de contribuinte. Mas não. Vou fazer lhe vontade e despedir-me com algo completamente diferente. We’ll always have Chandler. Obrigado, Matthew.

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