Sem porem em causa apoio a Israel, EUA sublinham “necessidade moral e estratégica” de proteger os civis de Gaza

Administração Biden aumenta pressão sobre Netanyahu para que Israel permita mais ajuda humanitária e diminua o perigo para a população civil de Gaza, mas nega reajuste da sua posição sobre o conflito.

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Joe Biden (Presidente dos EUA) e Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) encontraram-se recentemente em Telavive Reuters/EVELYN HOCKSTEIN
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A Administração Biden mantém o seu apoio inabalável à resposta militar e ao “direito” do Governo israelita “de se autodefender”, mas, três semanas volvidas do ataque do Hamas contra Israel, há cada vez mais dirigentes políticos e diplomáticos norte-americanos a apelarem publicamente – e em privado – à necessidade de o Exército israelita proteger a população civil e permitir a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

“Ainda que Israel tenha o direito – e até a obrigação – de se defender, a forma como o faz importa”, disse na semana passada o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, perante a intensificação dos bombardeamentos israelitas e a iminência da operação de invasão terrestre do enclave.

“Isso significa que comida, água, medicamentos e outra assistência humanitária essencial têm de poder entrar em Gaza, para as pessoas que precisam delas”, acrescentou o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, citado pela Reuters.

Na mesma linha, numa entrevista publicada esta terça-feira no jornal francês Le Monde, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, afirmou que a protecção dos civis em Gaza “é uma necessidade moral e estratégica” e disse que o facto de o Hamas usar “civis como escudos humanos” não “diminui a responsabilidade” do Exército israelita “na distinção entre terroristas e civis inocentes”.

De acordo com o Governo de Benjamin Netanyahu, o Hamas matou cerca de 1400 pessoas no ataque de dia 7 de Outubro e tomou mais de 200 como reféns. Segundo as autoridades palestinianas de Gaza, a resposta militar israelita contra aquele território densamente povoado tirou a vida a mais de 8500 pessoas, incluindo 3542 crianças.

Com as críticas de muitos governos aliados dos EUA a crescerem de tom, por causa da irredutibilidade da Casa Branca em apoiar um cessar-fogo em Gaza, quer publicamente, quer no âmbito das Nações Unidas, Washington garante, ainda assim, que não está isolada e rejeita um qualquer reajustamento na sua posição sobre o conflito.

O New York Times compara, no entanto, as várias posições públicas de Joe Biden e das principais figuras do Governo americano ao longo nas “últimas três semanas” para concluir que “a mensagem do Presidente mudou drasticamente”.

O jornal nova-iorquino recorda as promessas iniciais que o Presidente dos EUA fez ao primeiro-ministro israelita, a 10 de Outubro, para assegurar que Israel teria todo o apoio para “vingar o dia negro” do ataque do Hamas, e sinaliza que, dias depois, Biden “estabeleceu um padrão de envio de mensagens cada vez mais críticas dos israelitas, primeiro em privado, e depois em público”.

“Se tiverem a oportunidade de aliviar a dor [da população civil], devem fazê-lo. Ponto final. E, se não o fizerem, vão perder a credibilidade ao nível mundial”, afirmou Biden, uma semana depois do ataque, na viagem de regresso de Telavive, assegurando que foi “muito franco com os israelitas”.

Para Timothy Naftali, historiador e professor no Instituto de Política Global da Universidade de Colúmbia, Joe Biden “tem perfeita consciência não apenas do quão polarizados” estão os EUA, mas “do quão polarizado está o mundo”, e que, por isso, está agora a “tentar seguir uma abordagem mais lógica num momento que provoca emotividade”.

Certo é que as críticas à posição da Casa Branca sobre o conflito não se remetem apenas ao palco internacional, pelo que poderá estar também em causa um reajuste da mensagem sobre o conflito no Médio Oriente para consumo interno.

Isto porque organizações civis de muçulmanos nos EUA, que têm como membros vários activistas e dirigentes políticos do Partido Democrata em estados importantes como o Michigan, o Ohio ou a Pensilvânia, dizem que vão mobilizar esforços para travar donativos e votos para o partido nas eleições de 2024, caso o Governo não apele e faça campanha por um cessar-fogo imediato em Gaza.

Numa carta aberta dirigida a Biden, intitulada 2023 Ceasefire Ultimatum, citada pela Reuters, o Conselho Nacional Muçulmano Democrático promete mobilizar o eleitorado muçulmano norte-americano para “reter o apoio ou votos a qualquer candidato que apoie a ofensiva israelita contra o povo palestiniano”.

“O apoio incondicional da sua Administração, incluindo financiamento e armamento, tem desempenhado um papel significativo para perpetuar a violência que está a causar mortes de civis e minou a confiança nos eleitores que depositavam a sua fé em si”, lê-se na carta dedicada ao Presidente democrata, que, segundo as organizações de muçulmanos do país, terá recolhido cerca de 70% dos votos daquela comunidade na eleição de 2020, contra Donald Trump.

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