Os níveis de armazenamento nas 35 barragens localizadas a norte do rio Tejo estavam entre os 60% e 100%. Em 25 das 47 barragens a sul do Tejo a reserva de água continua abaixo dos 50%. A tempestade atlântica que a segunda quinzena de Outono trouxe à Península Ibérica traduziu-se num acréscimo de água nas albufeiras portuguesas de 590 hectómetros cúbicos e de 1883 hm3 nas barragens espanholas.
Nos próximos dias os caudais vão continuar a afluir às albufeiras com volumes que irão aumentar as reservas das albufeiras. O rio Guadiana, por exemplo, debitou na tarde do dia 31 de Outubro 123 metros cúbicos (m³) de água por segundo, quando no início do mês o escoamento oscilava entre os três e os cinco metros cúbicos – um aumento considerável.
Na verdade, foi o centro e o Norte do país que mais beneficiaram com as tempestades Aline e Bernard que fustigaram a Península Ibérica entre o dia 19 e o dia 26 de Outubro. O mau tempo deixou, por outro lado, estragos muito avultados, sobretudo em Eepanha, e com intensidade acrescida na província espanhola de Huelva.
As reservas de água nas barragens espanholas registaram, entre 19 e 31 de Outubro, um aumento de 1883hm³ e as 82 barragens da rede pública portuguesa receberam 590hm³, precisamente o volume de água que Alqueva disponibiliza anualmente para o regadio. Percentualmente, e em território espanhol, o volume de armazenado representa um acréscimo de 3,3%. Em Portugal foi de 5% no mesmo período temporal.
No nosso país, a 30 de Outubro e comparativamente com o boletim semanal de albufeiras publicado pelo Serviço Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) datado de 23 de Outubro de 2023, verificou-se o aumento do volume armazenado em 13 bacias hidrográficas e a diminuição em duas. Das albufeiras monitorizadas, 43% apresentavam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 22% tinham disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
Assim, 25 das 26 barragens nas bacias do Lima, Cávado, Ave, Douro e Vouga armazenavam entre os 8% e os 100% da sua capacidade máxima. Só a barragem de Paradela é que apresentava o volume mais baixo (60%). Também as oito barragens da bacia do Mondego tinham uma reserva de água entre os 63% e os 99%.
A sul, das 19 barragens da bacia do Tejo, nove tinham um volume entre os 80% e 100%, três estavam entre os 73% e os 77% e apenas em quatro a sua cota estava abaixo dos 50%.
Pesadelo continua na bacia do Sado
Apesar dos temporais, das bátegas de água persistentes, o pesadelo da falta de água não larga os agricultores da bacia do Sado, onde os volumes de água armazenados continuam a descer. As albufeiras de Campilhas (6%) e Monte da Rocha (8%) que se mantêm no vermelho há anos, assim continuam. Nas restantes o seu volume encontra-se abaixo dos 50%. E só a pequena barragem de Monte Miguéis está a fazer boa figura, com 64% de água armazenada.
O mesmo quadro mantém-se nas nove albufeiras da bacia do Guadiana, com três excepções: Alqueva (70%), subiu 2 pontos percentuais em relação à semana anterior, Caia (67%) e Enxoé (64%). A barragem da Vigia (15%) mantém-se no vermelho. Na bacia do Arade é a barragem com o mesmo nome que está no vermelho, com 15% de água armazenada.
A fronteira do Tejo
Persiste uma nítida diferença entre os volumes de água armazenados a norte do rio Tejo, com cotas entre os 60% e os 100%, nas 35 albufeiras, e as 47 albufeiras a sul do Tejo. Com uma reserva de água abaixo dos 50% estão contabilizadas 25 albufeiras, um panorama que vem reforçar o número daqueles que reclamam pelo transvase de água da região nortenha para fornecer o regadio no Alentejo e o turismo algarvio. As auto-estradas da água passaram a fazer parte do léxico dos agricultores ribatejanos e alentejanos, sempre que surge a oportunidade para debater o aproveitamento dos recursos hídricos em Portugal.
A fraca pluviosidade no litoral alentejano está a pôr em causa a próxima campanha no Perímetro de Rega do Mira. O nível de armazenamento na albufeira da barragem de Santa Clara continua a descer. E este facto está contribuir para a eventualidade de um grave problema social e económico, se a água faltar para a rega das explorações de frutos vermelhos (framboesas, amoras e mirtilos), cenário em tudo idêntico ao que se observa na região de Huelva que continua a insistir no acesso à água de Alqueva.
As barragens do Chança e de Andévalo – que são vitais para o fornecimento de água para a rega, a produção mineira, a zona de protecção especial de Donãna e o turismo – detinham um volume de água armazenado que não chegava a um terço da sua capacidade máxima, longe de poder garantir os débitos necessários às solicitações que não param de aumentar. O temporal arrasou estufas, áreas arborizadas e zonas habitadas, mas não se traduziu num maior volume de água nas albufeiras da região de Huelva.