BBC diz que autoridades portuguesas pediram desculpa aos pais de Maddie, PJ nega
Suspeitas recaem agora sobre Christian Brueckner, de 46 anos, a cumprir cadeia por outros crimes na Alemanha.
A BBC noticiou que a polícia portuguesa pediu desculpa aos pais de Madeleine McCann pela forma como lidou com o desaparecimento da criança de três anos. Fonte da direcção nacional da Polícia Judiciária nega que isso tenha sucedido.
“No início deste ano, uma delegação de polícias graduados deslocou-se de Lisboa a Londres”, diz o programa de investigação BBC Panorama. “Encontraram-se com Gerry McCann, o pai de Madeleine, e pediram desculpa pela forma como os detectives investigaram o desaparecimento ocorrido em 2007 e pela forma como trataram a família.”
Contactada pelo PÚBLICO, fonte da direcção nacional da Polícia Judiciária nega qualquer pedido de desculpas, admitindo, no entanto, que possam ter existido eventuais contactos dos seus detectives com os pais, uma vez que a investigação incide agora sobre Christian Brueckner, “tendo havido reuniões sucessivas e frequentes com as autoridades alemãs e inglesas”. É possível que Kate e Gerry McCann tenham participado numa delas, admite a mesma fonte de informação.
Entretanto, em comunicado oficial esta força de segurança esclarece que "como é normal neste tipo de situações e corresponde às boas práticas, foram efectuados contactos presenciais com os familiares da criança desaparecida, transmitindo-se – apenas - o ponto de situação processual, no âmbito do inquérito em curso, pendente no Ministério Público da comarca de Faro".
Quatro meses após o desaparecimento, em Setembro de 2007, Kate e Gerry McCann foram constituídos arguidos. Os detectives da Judiciária acreditavam que tinham encenado um rapto e escondido o corpo de Madeleine após lhe terem provocado a morte de forma acidental. A progenitora garantiu que lhe foi proposto um acordo para admitir tudo isto em troca de uma sentença mais curta.
O estatuto de arguido do casal foi levantado em 2008, mas ambos permaneceram sob suspeita em Portugal durante anos. Gonçalo Amaral, o detective que conduziu a investigação, acabou por ser afastado dela, mas escreveu um livro em que acusa os McCann de estarem envolvidos no desaparecimento da filha, alegando estar a defender a sua reputação profissional.
No valor de meio milhão de euros, o processo por difamação movido pelos McCann contra o antigo detective, devido às afirmações que fez sobre eles no seu livro, foi rejeitado pelo Supremo Tribunal de Justiça. O casal recorreu para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, mas perdeu a causa em Setembro do ano passado.
“A polícia portuguesa afirma agora que a sua investigação inicial sobre o desaparecimento de Madeleine não foi conduzida correctamente, que não era dada importância suficiente na altura às crianças desaparecidas e que a situação dos pais enquanto estrangeiros num ambiente que não compreendiam não foi devidamente tida em conta”, refere a BBC.
As mais recentes suspeitas recaem sobre Christian Brueckner, de 46 anos, que está a cumprir sete anos de cadeia na Alemanha por tráfico de droga e pela violação, em 2005, de uma mulher de 72 anos na mesma zona onde Madeleine desapareceu. Entretanto já foi acusado de mais três violações e de dois crimes de agressão sexual a menores. Todos os crimes terão sido cometidos no Algarve, devendo o seu julgamento ter lugar em Fevereiro próximo. Terá espancado e violado três mulheres com 80, 14 e 20 anos, além de se expor sexualmente a duas crianças de dez e 11 anos numa praia e num parque infantil.
Brueckner vivia perto da estância balnear da Praia da Luz na altura em que a família McCann aí passou férias e as autoridades daquele país acreditam ser o verdadeiro assassino de Maddie. A BBC cita um dos procuradores alemães responsáveis pelo caso, Hans Christian Wolters, a congratular-se com o pedido de desculpas dos portugueses: “É um bom sinal. Mostra que, em Portugal, há uma evolução no caso”.
Wolters disse que a sua equipa espera poder concluir a investigação sobre Brueckner em 2024, cinco anos após esta pista ter começado a ser seguida. O suspeito tem negado o seu envolvimento no desaparecimento, tendo sido constituído arguido em Abril de 2022, a menos de duas semanas de o crime prescrever.
Kate e Gerry McCann não comentaram o pedido de desculpas da polícia portuguesa e assinalaram o 16.º aniversário do desaparecimento da filha, a 3 de Maio, dizendo que Madeleine “continua a fazer muita falta” e que “aguardam uma solução”.