Fazer babysitting, tirar cafés, comprar a Cueca Preta: onde acaba o trabalho dos produtores?

Numa profissão onde “as fronteiras estão esbatidas”, este projecto fotográfico quer lembrar que o trabalho dos produtores de artes performativas também tem fim.

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Cueca Preta é o projecto fotográfico que fala sobre os limites das produtoras Joana Meneses Photos
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Produtora não é “uma mãezinha”, não tem de “tirar cafés para a equipa, fazer babysitting ou passar figurinos a ferro”. Na teoria. Na prática, faz tudo isto e mais um bocado. É o que diz Mariana Dixe, produtora de artes performativas de 27 anos e uma das criadoras do projecto fotográfico Cueca Preta — um nome que é “a metáfora” da profissão. Porquê?

“Uma das tarefas considerada ser dos produtores é comprar a roupa interior que os actores ou bailarinos usam quando têm de se despir em cena. E achei graça a esta coisa de ser a metáfora perfeita da produção”, diz Mariana, referindo-se a uma frase de Ana Rita Osório n’As Produtoras, de Vânia Rodrigues, que dizia assim: “Nesta fase, já não procuro a cueca preta, para mim a cueca preta é a metáfora perfeita da produção.”

É um dos muitos preconceitos que, em conjunto com cinco colegas de profissão, quis mostrar através de fotografias. Santo caos, Em cima do joelho, Multi multi tasking, O tempo dos outros, Boa hora e Direito à ideia: cada uma das produtoras personifica uma destas ideias preconcebidas acerca de um trabalho que tem “as fronteiras esbatidas”.

“É o resultado de, durante anos e anos, as produtoras terem feito, se calhar, mais do que aquilo que lhes competia. Por um lado, porque estamos fora de cena e é mais fácil sermos nós a tomar conta de um bebé ou a tirar cafés. Por outro, porque às vezes também há falta de pessoas na equipa para assegurarem tarefas que precisam de ser feitas e, por falta de orçamento, não são contratadas.”

Boa hora (Patrícia Gonçalves) Joana Meneses Photos
Direito à ideia (Ruana Carolina) Joana Meneses Photos
Em cima do joelho (Belisa Branças) Joana Meneses Photos
O tempo dos outros (Mariana Dixe) Joana Meneses Photos
Santo caos (Andreia Fraga) Joana Meneses Photos
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Boa hora (Patrícia Gonçalves) Joana Meneses Photos

Mas, na teoria, o que compete realmente a uma produtora? É tudo “o que faz com que o projecto seja executado com satisfação, que toda a gente esteja feliz, e que ele aconteça dentro dos procedimentos no dia e hora marcados”, aponta. Para algumas, pode ir mais além: “Há pessoas que se identificam mais com o termo ‘produção criativa’, porque consideram que têm um papel na criação do objecto e no trabalho do ponto de vista criativo.” O que ninguém quer é ser “um calendário ambulante que tem de se lembrar quando é que a mãe de um actor faz anos”, por exemplo.

Ao “inverter os papéis da produção” e colocar as pessoas que normalmente estão “num lugar de invisibilidade” à frente das câmaras, o Cueca Preta quer colmatar a “falta de conhecimento acerca da profissão” e ajudar a estabelecer limites internos (parem lá de achar que têm de fazer tudo!) e externos (vão lá tirar o vosso próprio café!).

Além das fotografias, o projecto conta também com “uma zine sem exemplo”, que é uma espécie de diário (um bocadinho) mais organizado. Nasceu “de forma muito inesperada” — precisamente de um caderno que era quase um diário, onde a produtora de 27 anos ia “fazendo uns desabafos”.

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A equipa da Cueca Preta Joana Meneses Photos

São ilustrações, frases ou diálogos que iam acontecendo no dia-a-dia, que lhe ficavam na cabeça porque pareciam “preconceituosos ou ofensivos” sobre o seu trabalho, e que ia arquivando “de forma caótica” durante a viagem de autocarro. Agora, transformaram-se numa pequena revista, à venda no site, para ajudar a pagar as despesas do projecto.

Abrir o projecto a mais produtoras ou chamar outros profissionais da área são algumas das possibilidades para o futuro da Cueca Preta (que, depois disto, pode ou não continuar na lista de tarefas dos produtores).

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