Orçamento de CO2 para evitar uma Terra 1,5 graus mais quente acaba em 2030

Humanidade só pode emitir mais 250 gigatoneladas de dióxido de carbono para ter 50% de hipóteses de evitar uma Terra 1,5 graus mais quente. Ao ritmo actual, orçamento gasta-se em 2030, diz estudo.

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Uma central de carvão na Alemanha FRIEDEMANN VOGEL/EPA
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O planeta poderá atingir os 1,5 graus Celsius de aquecimento acima dos valores da era pré-industrial antes de 2030 se não houver reduções rápidas de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), indica um estudo publicado nesta segunda-feira na revista Nature Climate Change.

O trabalho adverte que, por volta de 2029, sem reduções de emissões de dióxido de carbono (CO2), há 50% de hipótese de se registar um aquecimento superior a 1,5 graus em relação à época pré-industrial, um valor que foi estabelecido no Acordo de Paris sobre o clima como limite que não deve ser ultrapassado, por ter consequências nefastas no planeta e nos seus habitantes.

Conduzido por investigadores da universidade britânica Imperial College London, o estudo faz uma análise actualizada e exaustiva do orçamento global do carbono, que é uma estimativa da quantidade de emissões de CO2 que podem ser libertadas mantendo o aquecimento global abaixo de determinados limites de temperatura.

No documento, estima-se que para que haja 50% de hipóteses de limitar o aquecimento a 1,5 graus, restam menos de 250 gigatoneladas de CO2 no orçamento global de carbono. Se as emissões se mantiverem como em 2022, cerca de 40 gigatoneladas, o orçamento esgota-se em 2029, levando a um aquecimento global acima dos 1,5 graus.

Para uma hipótese de limitar o aquecimento a dois graus, o orçamento é de aproximadamente 1200 gigatoneladas de CO2, pelo que com as emissões aos níveis actuais, o orçamento esgotar-se-ia em 2046.

“A nossa descoberta confirma o que já sabemos: não estamos a fazer o suficiente para manter o aquecimento abaixo de 1,5 graus”, disse em comunicado Robin Lamboll, autor principal do estudo e investigador do Centro de Política Ambiental do Imperial College.

“A falta de progressos na redução das emissões significa que podemos ter cada vez mais a certeza de que a janela para manter o aquecimento a níveis seguros está a fechar-se rapidamente”, frisou o investigador, adiantando que as estimativas apontam para menos de uma década de emissões aos níveis actuais.

Segundo o documento, tem havido muitas incertezas no cálculo do orçamento do carbono devido à influência de outros factores e de outras emissões que não só CO2, afirmando-se que o actual estudo usou modelos melhorados e metodologia reforçada. Os investigadores dizem que é possível que o clima continue a aquecer devido a efeitos como a fusão do gelo, a libertação de metano e as alterações na circulação oceânica. No entanto, os sumidouros de carbono, como o aumento do crescimento da vegetação, poderão também absorver grandes quantidades daquele gás, conduzindo a um arrefecimento das temperaturas globais.

Mas todas estas incertezas realçam ainda mais a necessidade urgente de redução rápida de emissões, avisa Robin Lamboll.