Liga contra o Cancro diz que acordo da CML com Champalimaud cria “confusão e ruído”
Para o presidente da LPCC, a iniciativa pode até ser prejudicial para as mulheres, uma vez que, por exemplo, se alguma fizer uma mamografia fica impedida de fazer outra nos seis meses seguintes.
O presidente da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC) alertou este domingo que o protocolo assinado entre a Câmara de Lisboa e a Fundação Champalimaud pode ter o efeito contrário ao pretendido, causando "ruído e confusão desnecessária".
Em declarações à agência Lusa na sequência da assinatura de um acordo entre a autarquia e a Fundação, na semana passada, Francisco Cavaleiro Ferreira lamentou não ter ainda conhecimento do protocolo e afirmou que "cria dispersão e vai ser mais difícil aumentar a taxa de participação" das mulheres no programa nacional de rastreio que a Liga tem em Portugal há mais de 30 anos.
"A Liga esteve na génese do programa de rastreio há 30 anos, já fizemos 5,3 milhões de mamografias e, só no primeiro semestre deste ano, fizemos mais de 200 mil mamografias", disse o responsável, lamentando que a Câmara de Lisboa tenha conseguido encontrar um espaço nas Olaias para a sua iniciativa e não tenha, "há mais de um ano, conseguido encontrar um espaço semelhante para o programa de rastreio" da LPCC.
A Câmara de Lisboa assinou na quinta-feira um protocolo com a Fundação Champalimaud para que todas as mulheres residentes na cidade possam fazer rastreios mamários gratuitos nos Serviços Sociais do município, nas Olaias, em complemento ao Serviço Nacional de Saúde.
"As mulheres acima dos 50 anos têm este rastreio pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, através do Serviço Nacional de Saúde, mas quem tem menos de 50 anos? Portanto, aquilo que queremos aqui é ir, neste caso muito em particular, para além do Serviço Nacional de Saúde", afirmou o presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), na altura.
Na cerimónia de assinatura do protocolo, o autarca justificou a decisão de disponibilizar rastreios mamários gratuitos a todas as mulheres residentes em Lisboa, independentemente da idade, com o facto de a incidência do cancro em pessoas abaixo dos 50 anos ter aumentado em 80% nos últimos 30 anos.
Para o presidente da LPCC, se o objectivo é realizar exames às mulheres com menos de 50 anos, nada há a apontar, até porque o alargamento da cobertura do programa nacional a mulheres com menos de 50 anos é uma das reivindicações da Liga há vários anos.
"O problema é que a iniciativa dificilmente pode ser apresentada como um rastreio, na medida em que um rastreio implica o cumprimento de uma série de regras e metodologia e organização; não vejo, por exemplo, como é que a Câmara tem a lista das mulheres, que recebemos das Administrações Regionais de Saúde, filtradas pelos critérios de elegibilidade", disse Francisco Cavaleiro Ferreira.
"Lamento que uma organização com uma vastíssima experiência de 30 anos e uma estrutura nacional não seja aproveitada, são opções políticas que não controlamos, mas, com a falta de recursos que há, devíamos ser complementares e adaptar o que existe para poder servir o máximo de mulheres possível", acrescentou.
Para o presidente da LPCC, a iniciativa pode até ser prejudicial para as mulheres, uma vez que, por exemplo, se alguma fizer uma mamografia fica impedida de fazer outra nos seis meses seguintes.
"Se chamarmos uma mulher para fazer uma mamografia e nas verificações de elegibilidade for constatado que fez uma mamografia há menos de seis meses, fica impedida de fazer outra ao abrigo do programa nacional, havendo mulheres que, em vez de entrarem num programa nacional que salva vida, vão simplesmente fazer uma consulta", concluiu o líder da Liga.