Investigadores encontram população de lingueirão nos Açores

Por agora, a apanha do lingueirão nos Açores ainda é interdita. Direcção Regional decidirá como fazer o mapeamento e avaliar a viabilidade de exploração da população encontrada na ilha Terceira.

Foto
O investigador Alberto Machado segura um exemplar de Lingueirão encontrado na Praia da Vitória, Ilha Terceira Centro de Estudos Oceânicos
Ouça este artigo
00:00
02:53

Uma espécie de marisco acaba de ser encontrada pela primeira vez nos Açores: uma população de lingueirão de uma dimensão considerável cuja viabilidade de exploração "está agora a ser estudada pelo Governo Regional". Antes desta descoberta havia apenas alguns raros e antigos registos (do século XIX) que apontavam para a presença do lingueirão junto à ilha de S. Miguel. Desta vez, os investigadores encontraram uma população de Solen marginatus na baía da Praia da Vitória, na ilha Terceira.

A descoberta foi feita durante a expedição "Açores 2023" da associação Grupo de Estudos Oceânicos (GEO), com o apoio da Naturalist, uma empresa com sede no Faial na qual o turismo de natureza ajuda a financiar uma equipa de investigação.

A expedição permitiu descobrir uma população de lingueirão (Solen marginatus) na baía da Praia da Vitória, na Ilha Terceira, que foi encontrada pelo mergulhador Alberto Machado, fundador do Grupo de Estudos Oceânicos, detalha a Naturalist em comunicado de imprensa.

Foto
O investigador Alberto Machado segura um exemplar de Lingueirão recém descoberto na Praia da Vitória, Ilha Terceira Centro de Estudos Oceânicos

A expedição "Açores 2023" foi conduzida em parceria com a Naturalist, e em colaboração com o Okeanos - Instituto de Investigação em Ciências do Mar, da Universidade dos Açores. As entidades estão agora "empenhadas na coordenação dos trabalhos de mapeamento e viabilidade de exploração da espécie".

"Querem saber o que está lá e quanto se pode apanhar", explica ao Azul José Nuno Gomes Pereira, investigador Naturalist e colaborador do Okeanos - Instituto de Investigação em Ciências do Mar. "O Governo está interessado em que se faça uma boa gestão", sublinha.

Potencial de exploração

Apesar de só agora ter sido encontrada uma população significativa nos Açores, o lingueirão (Solen marginatus) é uma espécie conhecida em Portugal continental, presente em zonas como a Ria de Aveiro.

O mapeamento inicial feito pelos investigadores da Naturalist estima que esta população ao largo da ilha Terceira tenha "um tamanho considerável" - "resta saber quanto é que se poderá apanhar por ano e em que alturas", nota José Nuno Pereira.

Os investigadores acreditam que, a par com as amêijoas da Caldeira de Santo Cristo, na ilha de São Jorge, as lapas e o caramujo, "esta poderá vir a ser uma iguaria única, alvo de exploração e alternativa para a actividade de apanha comercial na região, se devidamente regulamentada".

Os investigadores da Naturalist, empresa fundada por investigadores da Universidade de Lisboa e dos Açores, já submeteram um artigo científico com os resultados da campanha inicial.

Segundo a empresa, a viabilidade de exploração desta população "está agora a ser estudada pelo Governo Regional dos Açores, através da Direcção Regional das Pescas". Entretanto, a Naturalist já fez uma proposta ao Governo Regional para financiamento de um estudo relativo à distribuição e abundância do lingueirão, que permita apoiar a tomada de medidas de gestão para uma exploração sustentável.

Por agora, a apanha do lingueirão nos Açores "é interdita", alerta a Naturalist. Os estudos de mapeamento e avaliação da viabilidade de explicação comercial podem demorar pelo menos um ano a serem concluídos. Com Lusa