“Fortes perturbações” nos serviços públicos. Greve com adesão de 90%
Hospitais, escolas e serviços de recolha do lixo são alguns dos serviços afectados. Sector das Finanças, Segurança Social e lojas do cidadão também sentem efeitos da greve.
O coordenador da Frente Comum afirmou esta sexta-feira que a greve na função pública está a ser a “uma das maiores” dos últimos anos, com adesão em “todos os sectores”, antecipando que o dia será “demonstrativo da força dos trabalhadores”. “Estamos perante uma das maiores greves dos trabalhadores da administração pública, central, regional e local, de alguns anos a esta parte”, afirmou Sebastião Santana, em declarações aos jornalistas, junto da Escola Básica e Secundária Passos Manuel, em Lisboa.
Sebastião Santana disse estar a haver uma “adesão [à greve] muito forte em todo o país”, apesar de ainda não conseguir indicar números concretos, alegando que “os trabalhadores se revêem nas propostas da Frente Comum”.
“Nós continuamos a não aceitar que o Governo continue a atirar muitos milhares de milhões de euros para cima de sectores que já são sobrefinanciados pelo Orçamento do Estado e se esqueça de quem assegura os serviços públicos e do reforço das funções sociais do Estado”, sublinhou.
"Governo tem condições para alterar isto"
A greve dos trabalhadores da administração pública registou, no turno da noite, uma adesão superior a 90%, tendo afectado a recolha de lixo e os hospitais, onde foram assegurados os serviços mínimos, disse à Lusa fonte sindical.
“Durante a noite, a greve foi bastante expressiva no sector da saúde e na recolha do lixo. Às 22h de quinta-feira já não houve recolha de lixo”, disse o coordenador da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública.
Questionado se, dada a adesão à greve, considera que o Governo vai ter de ceder, o coordenador da Frente Comum respondeu que o executivo “tem sido intransigente” e referiu que, apesar de, no início da maioria absoluta, ter afirmado que iria ser dialogante, “esse diálogo não tem acontecido até hoje de forma efectiva”.
“O Governo tem condições para alterar isto. A luta dos trabalhadores não vai ser menos intransigente do que o Governo se quer continuar a manter os trabalhadores a empobrecer e os serviços públicos a degradarem-se”, disse.
Segundo a dirigente sindical Luísa Silva, em Coimbra, o sector do lixo está “quase parado” e o dos transportes regista uma adesão de cerca de 70%.
Saúde e educação são sectores "mais visíveis"
Sebastião Santana realçou, por volta das 8h30, que foram assegurados os serviços mínimos nas urgências e nos blocos operatórios. Disse ainda que "várias escolas deverão fechar em todo o país", uma vez que sindicatos dos professores e do pessoal não docente anunciaram a adesão ao protesto.
A adesão no sector da educação à greve da função pública situa-se em torno dos 90%, disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), sublinhando a “grande resposta” dos trabalhadores às políticas do Governo.
“Na educação, aquilo que podemos dizer é que, praticamente, hoje será um dia sem aulas. São poucas as escolas que estão abertas. E das poucas que estão, a maioria vai encerrar dentro em pouco, porque os trabalhadores das cantinas e refeitórios também estão em greve”, afirmou à Lusa Mário Nogueira, assinalando que “a greve (…) andará na educação na ordem dos 90%”.
O secretário-geral da Fenprof salientou a conjugação da paralisação dos professores com a dos trabalhadores não docentes e notou que o efeito da greve é transversal entre ensino básico, escolas do segundo e terceiro ciclos e ensino secundário.“Esta é mais uma grande resposta dos trabalhadores da educação e, de forma mais geral, da administração pública a esta política, que tem tanto de infame para a administração pública, como de destrutiva e perversa. Ao desvalorizar a administração pública, não se está apenas a atacar quem lá trabalha; está-se a atacar os cidadãos”, resumiu.
A Frente Comum dos sindicatos da administração pública estima que, na região de Coimbra, a greve desta sexta-feira possa afectar mais os sectores da saúde e da educação, embora tenha repercussões em todos os sectores. “A saúde e a educação são os mais visíveis para o público, mas estamos convencidos de que todos os sectores vão mostrar que vão fechar”, disse aos jornalistas a dirigente sindical Luísa Silva. A coordenadora regional de Coimbra, que falava ao início da manhã à porta dos Hospitais da Universidade de Coimbra, salientou que perspectiva uma greve da administração pública “com forte adesão, com os trabalhadores muito cansados com o aumento do custo de vida”.
A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública (da CGTP) anunciou a 9 de Outubro a greve nacional de trabalhadores que decorre nesta sexta-feira, considerando que a proposta do Governo de aumentos salariais para 2024 é "miserabilista". Para o próximo ano está previsto um aumento salarial mínimo de 52 euros ou de 3% para os trabalhadores da administração pública.
ICNF em greve por melhores condições
Os trabalhadores do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) realizam nesta sexta-feira uma greve nacional por melhores condições laborais e para alertar o Governo para os problemas no organismo.
Segundo o Sindicato Independente dos Trabalhadores da Floresta, Ambiente e Protecção Civil (SinFAP), que convocou a paralisação, os trabalhadores do ICNF exigem a abertura de concursos para as carreiras de assistente técnico, vigilante da natureza, técnico superior, bombeiro sapador florestal e assistente operacional; o pagamento de trabalho suplementar e ajudas de custo em falta a todos os trabalhadores e a aplicação de isenção de horário aos trabalhadores cujo grau de complexidade assim o determine.
A distribuição a todos os trabalhadores, de fardamento e equipamentos de protecção, a distribuição de telemóveis por todos os trabalhadores que prestem serviço externo e a intervenção urgente nos edifícios e no parque automóvel estão também entre as reivindicações.
De acordo com o sindicato, os trabalhadores pedem igualmente a demissão do conselho directivo do ICNF, que considera "um organismo que não lida bem com a democracia pluralista, com a liberdade de escolha e de opinião". Além da greve, os trabalhadores do ICNF têm também prevista uma concentração junto à sede do organismo em Lisboa. De acordo com o sindicato, o ICNF tem cerca de 1050 trabalhadores.
Adesão mostra que trabalhadores "não baixam os braços"
Em declarações aos jornalistas, a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, considerou que a adesão à greve mostra que os trabalhadores “não baixam os braços perante as injustiças que estão a ser cometidas, perante os baixos salários e esta situação de empobrecer a trabalhar”.
“Os trabalhadores estão conscientes que é preciso fazer alguma coisa e exigir que o Governo altere as suas opções”, disse, criticando a proposta de Orçamento do Estado para 2024, que disse transferir “verbas imensas” para os “mesmos de sempre”.
Questionada se acha que esta mobilização vai forçar o Governo a ceder, Camarinha respondeu que “tem sido sempre com a luta que os trabalhadores têm conseguido alcançar resultados”.
“Está na mão do Governo e do patronato ver que não podem ter lágrimas de crocodilo a dizer que não conseguem contratar trabalhadores, e continuar a pagar baixos salários. (…) Parem com as lágrimas de crocodilo, e ajam, façam o que têm de fazer”, disse. defendendo um aumento geral de 15% de todos os salários, com um mínimo de 150 euros.