É um dueto entre duas artistas separadas por 60 anos: Maria Paz, portuguesa de 25 anos, e Joan Jonas, americana de 87, encontram-se na Galeria Municipal do Porto. Não literalmente.
“Quando a Filipa Ramos [curadora] me convidou para fazer a exposição com a condição de ser um dueto com um artista internacional que me inspirasse, sem pensar muito, lembrei-me logo da Joan. É uma grande referência no meu trabalho, uma pessoa que tem estado muito na minha mente”, começa por contar Maria Paz.
Natural do Porto, mas actualmente a viver na Suíça, a artista foca a sua criação artística na cerâmica, onde desenha e cria “tudo”. E vê no trabalho de Joan algo semelhante: “No fundo, o trabalho que ela cria é um trabalho que eu faço de outra maneira, ou aquilo que eu aspiro fazer.”
Monstros, animais, natureza, cor: “Múltiplas camadas e junção de sonhos, mitos e narrativas”. A criação das obras de Maria Paz para a exposição não foi “a olhar para as da Joan”, pioneira em várias áreas, como a performance, vídeo e instalação. Mas sendo esta uma das suas artistas de referência, “claro que há uma certa presença”.
A exposição é “essencialmente sobre a desconstrução de barreiras, principalmente em relação ao nosso corpo, e a proximidade com aquilo que são corpos não humanos”, descreve Maria. “Para descobrir mais sobre o que é que eu sou, o que é a minha energia e quais os limites.”
O entusiasmo de ter trabalhado com Joan Jonas não passa despercebido. “Ela é uma referência energizante, pulsante. É uma energia que potencia, cria energia dentro de ti e te faz pensar e sonhar”, aponta. A diferença de 60 anos não foi sinónimo de qualquer tipo de choque geracional: “A Joan sempre esteve muito para lá do seu tempo. Ela tratou-me como uma colega e sentiu-se, neste encontro, a desconstrução de barreiras, de hierarquias e gerações.”
Como um bom dueto pede, houve sintonia. O resultado desta dança pode ser visto na Galeria Municipal do Porto até 19 de Novembro. No dia 4, a artista vai fazer um workshop de criação de “uma monstra colectiva”, direccionado a crianças. A ideia é juntar numa criatura as criaturas interiores de cada um. “Com as crianças é fixe trabalhar sobre isto. São mais honestas.”