A portuguesa Virginia Dignum integra grupo de especialistas de IA das Nações Unidas

Virginia Dignum, natural de Lisboa, entra no grupo para partilhar a sua experiência em ética e inteligência artificial. A missão é desenvolver uma agência internacional para governar a tecnologia.

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Virgínia Dignum lecciona sobre ética da inteligência artificial na Universidade de Umeå, na Suécia Mikael Hansson/Universidade de Umeå
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Virgínia Dignum lecciona ética da inteligência artificial na Universidade de Umeå, na Suécia Mattias Pettersson/Universidade de Umeå
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A investigadora portuguesa Virgínia Dignum é uma das 38 especialistas internacionais escolhidas para integrar o novo grupo de discussão de alto nível das Nações Unidas dedicado à inteligência artificial (IA) que foi apresentado esta quinta-feira. O objectivo é ajudar a organização a desenvolver o formato de uma agência internacional para governar a tecnologia – uma espécie de equivalente à Agência Internacional de Energia Atómica, mas para inteligência artificial. A primeira reunião acontece já esta sexta-feira.

Virgínia Dignum, natural de Lisboa, vem adicionar a sua experiência em ética e inteligência artificial. Há anos que a portuguesa, com um doutoramento em Ciências da Computação, lecciona sobre o tema na Universidade de Umeå, na Suécia. Virgínia Dignum, que começou os estudos na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, é também uma voz frequente em debates sobre o tema, integrando o comité de especialistas de IA da União Europeia e do Instituto de Engenheiros, Electricistas e Electrónicos (IEEE). Em 2018, ajudou a fundar o ALL AI, uma organização nos Países Baixos para promover o desenvolvimento responsável desta tecnologia.

“É uma honra ser seleccionada para a discussão. É essencial definir um esquema de governação a nível internacional para a IA”, começa por dizer ao PÚBLICO Virgínia Dignum, que trabalha na área há mais quatro décadas. “Existe cada vez mais um discurso alarmista sobre a inteligência artificial a nível dos media. Há benefícios notórios, em particular, ao nível das ciências médicas e da educação, mas é preciso ter regulação e é preciso garantir que a tecnologia chega a todo o mundo”, salienta.

Para a investigadora, o estado da IA pode ser comparado a “um carro que segue sem cintos de segurança, sem travões, com um condutor que não tem carta de condução”. “É preciso começar a decidir quais são os travões que precisamos”, realça.

Na apresentação da iniciativa esta quinta-feira, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ecoou os benefícios da IA. “Desde a previsão e a resolução de crises até à implementação de serviços de saúde pública e de educação, a IA poderia aumentar e amplificar o trabalho dos governos, da sociedade civil e das Nações Unidas em todos os domínios”, reconheceu Guterres no discurso de apresentação do grupo. “Mas tudo isto depende de as tecnologias de IA serem utilizadas de forma responsável e tornadas acessíveis a todos incluindo os países em desenvolvimento que mais precisam delas.”

Regulação demorada

A regulação da inteligência artificial tornou-se um tópico premente no final de 2022 devido aos novos sistemas de inteligência artificial generativos, como o ChatGPT, o Bard e o Bing que são capazes de produzir conteúdo original (texto, vídeo, imagens ou áudio) a partir de enormes bases de dados. A tecnologia desencadeia preocupações sobre difusão de notícias falsas, fraude e conteúdo ilegal.

“A preocupação surge porque os sistemas estão acessíveis a qualquer pessoa. Qualquer pessoa consegue facilmente usar programas como o ChatGPT”, nota Virgínia Dignum. “Mas muitas vezes o problema não é a tecnologia em si, mas o enquadramento da tecnologia na sociedade. É preciso perceber como as pessoas interagem com a tecnologia e é preciso garantir que não há desigualdade no acesso e na compreensão destes sistemas.”

A regulação, porém, demora. A União Europeia começou a falar sobre um guia ético para a IA em 2019. Quatro anos depois, o debate sobre a legislação continua. “São temas complexos”, justifica Virgínia Dignum. “Só que se não começarmos o debate, nunca lá chegamos. Não existiu nenhuma tecnologia que fosse primeiro regulada e depois desenvolvida”, frisa. “Voltando à comparação com carros: só depois de existirem carros é que se desenvolveram sinais de trânsito e cintos de segurança.”

Além de reuniões online, o novo grupo das Nações Unidas deve reunir-se presencialmente a cada três meses. A equipa inclui membros do governo de vários países, especialistas em direito, antropólogos e profissionais de saúde.

“Os membros têm uma profunda experiência nos domínios da administração pública, das empresas, da comunidade tecnológica, da sociedade civil e do meio académico. Trazem para esta tarefa um vasto leque de perspectivas”, destacou António Guterres na apresentação do grupo.

Tendo trabalhado no terreno durante mais de 40 anos, já vi muitos ‘Verões e Invernos de IA’. É bom que a ONU tenha como objectivo a governação global da IA, reforça Virgínia Dignum. Não só devido aos desenvolvimentos recentes com a IA generativa, mas também porque precisamos de unir as iniciativas regionais e instrumentos de governação que já estão a ser desenvolvidos em todo o mundo.”

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