Índia não se compromete com acordo global sobre emissões de ar condicionado
A Índia e a China, duas das principais emissores de carbono, com uma população conjunta de mais de 2,8 mil milhões de pessoas, são fundamentais para o êxito do compromisso global sobre refrigeração.
A Índia considera não assinar o compromisso global para a redução das emissões relacionadas com a refrigeração que está a ser preparado para a cimeira do clima das Nações Unidas, COP28, alegando a necessidade de o país - o mais populoso do mundo - manter os aparelhos de ar condicionado a preços acessíveis, disseram à Reuters dois funcionários do governo indiano.
O compromisso de reduzir as emissões de dióxido de carbono relacionadas com a refrigeração em pelo menos 68% até 2050, em comparação com os níveis de 2022, foi desenvolvido pela Coligação para o Arrefecimento do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) e pelos Emirados Árabes Unidos, anfitriões da COP28. O compromisso exigiria grandes investimentos por parte dos países para mudar para tecnologias de climatização sustentáveis e também aumentaria o custo desses produtos.
Espera-se que os países anunciem a sua decisão sobre este Compromisso Global de Refrigeração na conferência anual sobre o clima que se realizará no Dubai de 30 de Novembro a 12 de Dezembro.
A Índia e a China, duas das principais economias mundiais e emissores de carbono, com uma população conjunta de mais de 2,8 mil milhões de pessoas, são fundamentais para o êxito deste compromisso.
Índia já tem plano de acção
A Índia, o país mais populoso do mundo, é "provavelmente o país mais importante para este compromisso", disse Brian Dean, director de eficiência energética e refrigeração da Sustainable Energy for All, que ajudou a desenvolver o compromisso. "Têm estado na vanguarda ao fazerem o que é necessário para o seu país em matéria de refrigeração com o Plano de Acção de Refrigeração da Índia. Seria um sinal global muito importante se assinassem o compromisso", afirmou.
O governo indiano, contudo, não parece disposto a assumir compromissos internacionais além dos assumidos em 1992 no âmbito do Protocolo multilateral de Montreal, que regulou a produção e o consumo de substâncias químicas que afectam a camada de ozono e de hidrofluorocarbonetos utilizados em frigoríficos, aparelhos de ar condicionado e espumas isolantes, afirmaram dois membros do governo, sob condição de anonimato, uma vez que a posição da Índia ainda está a ser considerada. O Ministério do Ambiente da Índia não respondeu às questões da Reuters.
O país pretende reduzir a quantidade de energia necessária para arrefecimento em todos os sectores em 20% a 25% até 2038, ao abrigo do seu próprio plano de acção de arrefecimento anunciado em 2019.
10% da electricidade para ar condicionado
"As emissões e o consumo de energia per capita da Índia são muito baixos", disse à Reuters um dos funcionários do Governo. "As necessidades de arrefecimento deverão multiplicar-se nos próximos anos e a Índia não pode correr o risco de se comprometer com investimentos que tornem o arrefecimento demasiado caro." Recorde-se que o consumo de energia per capita da Índia é baixo, mas a dimensão da população torna os números totais muito elevados.
O consumo de electricidade do país do Sul da Ásia para os aparelhos de ar condicionado domésticos deverá aumentar nove vezes até 2050, ultrapassando o crescimento de todos os outros grandes aparelhos domésticos, de acordo com dados publicados esta semana pela Agência Internacional da Energia (AIE).
Entre 2019 e 2022, o consumo de electricidade da Índia para ar condicionado aumentou 21% e quase 10% da sua procura de electricidade provém destes aparelhos. As suas emissões de carbono per capita são de cerca de duas toneladas métricas contra a média mundial de cerca de cinco toneladas métricas.
Para Brian Dean, da organização Sustainable Energy for All, este compromisso global de arrefecimento é uma oportunidade para os países receberem financiamento de outros países e filantropos. "Se a Índia não assinar, continua a ser uma oportunidade para outros países tirarem partido dos futuros fluxos financeiros", afirmou.