China quer menos “slogans vazios” nas negociações da COP28 (mas foge a compromissos de reduções)
A China, o maior consumidor de carvão do mundo e o principal emissor de gases com efeito de estufa, tem-se mostrado relutante em comprometer-se com qualquer eliminação gradual de combustíveis fósseis.
Os países devem evitar "slogans vazios" e adoptar em relação às alterações climáticas uma atitude pragmática que reflicta preocupações como a segurança energética, o emprego e o crescimento, afirmou o director do gabinete para o clima do Ministério da Ecologia e do Ambiente da China, Xia Yingxian, esta sexta-feira.
A próxima cimeira do clima das Nações Unidas (COP28) tem início a 30 de Novembro, no Dubai, e vai centrar-se nas lacunas na implementação do Acordo de Paris de 2015, com base no relatório sobre a execução das contribuições nacionalmente determinadas (NDC, na sigla em inglês).
A China, o maior consumidor de carvão do mundo e o principal emissor de gases com efeito de estufa, tem-se mostrado relutante em comprometer-se com qualquer eliminação gradual da utilização de combustíveis fósseis.
Para o director do gabinete para o clima do Ministério da Ecologia e do Ambiente da China, os países mais ricos devem cumprir a sua promessa de disponibilizar 100 mil milhões de dólares de financiamento anual para os países mais pobres, criar um mecanismo financeiro para "perdas e danos" e duplicar os fundos de adaptação.
"Os países desenvolvidos têm uma responsabilidade inequívoca pelas alterações climáticas globais e, ao mesmo tempo, têm a capacidade efectiva de lidar com as alterações climáticas", afirmou Xia Yingxian numa conferência de imprensa em Pequim.
China recusa eliminar combustíveis fósseis
De acordo com um balanço global publicado pelas Nações Unidas em Setembro - o chamado global stocktake (acerto de contas) -, o mundo está atrasado em relação aos objectivos climáticos e são necessárias medidas "em todas as frentes" para manter o aumento da temperatura dentro de 1,5 graus Celsius.
Xia Yingxian afirmou que a reunião da COP28 deve respeitar os "diferentes pontos de partida e as condições nacionais de cada país". "Os slogans vazios que estão divorciados da realidade e o one size fits all [tamanho único] podem parecer ambiciosos, mas prejudicam o processo multilateral das alterações climáticas", afirmou.
"A COP28 deve promover uma coordenação eficaz entre a abordagem das alterações climáticas e a erradicação da pobreza, a segurança energética, a criação de emprego, o desenvolvimento económico e outras necessidades", acrescentou.
O responsável afirmou que a China já deu "contributos historicamente notáveis" para a luta contra as alterações climáticas, reduzindo a intensidade de carbono em 51% desde 2005, aumentando a percentagem de energia proveniente de combustíveis não fósseis para 17,5% do consumo total (consumo este que continua a aumentar) e contribuindo para a cooperação multilateral em matéria de clima.
O principal enviado da China para o clima, Xie Zhenhua, afirmou, numa mesa redonda com diplomatas no mês passado, que a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis era "irrealista", mas disse que a China estaria aberta à definição de um objectivo global de energias renováveis durante as conversações.