BCE parou de subir taxas de juro, 15 meses depois

Banco Central Europeu reforça expectativas de que as taxas de juro podem já ter atingido o seu pico. Contudo, o nível elevado actual, de 4%, ainda estará para ficar por vários meses.

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Christine Lagarde, presidente do BCE EPA/RONALD WITTEK
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Pela primeira vez desde Julho do ano passado, os membros do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) decidiram não alterar o nível das taxas de juro de referência na zona euro. Uma estabilização do custo do crédito pode passar a ser a norma nos próximos meses.

Confirmando as expectativas já existentes nos mercados, a autoridade monetária europeia manteve a sua taxa de juro de depósito (a principal referência para os custos de financiamento na zona euro) em 4%. Nas dez reuniões anteriores, na sua tentativa de travar a inflação, o conselho liderado por Christine Lagarde tinha optado por elevar esta taxa, levando-a dos -0,5% em que se encontrava em Julho de 2022 para o seu actual nível.

O recuo progressivo que se tem registado nos últimos doze meses na taxa de inflação e os riscos de recessão que se fazem sentir na economia da zona euro foram os motivos para que na reunião desta quinta-feira, realizada em Atenas, na Grécia, a opção tivesse sido, finalmente, a de manter o nível das taxas de juro. Christine Lagarde e os seus pares parecem agora acreditar que não será preciso ir mais longe no aperto da sua política monetária para garantir que a inflação na zona euro caminha mesmo para os 2% desejados pela instituição.

No comunicado em que anunciaram a decisão, os responsáveis do BCE repetem a frase que já tinha, no final da reunião de Setembro, sinalizado a intenção de realizar esta paragem: Com base na sua avaliação actual, o conselho considera que as taxas de juro chave do BCE atingiram níveis que, se mantidos por um período de tempo suficientemente longo, irão dar uma contribuição substancial para este objectivo [de garantir que a inflação regressa atempadamente à meta de médio prazo de 2%].”​

Com esta afirmação, o banco central reforça as expectativas de que, a partir desta altura e durante vários meses, as taxas de juro não irão, nem subir mais, nem começar a descer. Apesar de Christine Lagarde e outros membros do conselho do BCE salientarem que as suas decisões serão sempre, a cada reunião, baseadas nos dados conhecidos no momento, a maior parte dos analistas aposta que o banco central não deverá voltar a subir as taxas de juro neste ciclo económico e que o próximo movimento será já de uma descida. Até que isso aconteça, contudo, será preciso esperar ainda algum tempo, com a maior parte das projecções a não anteciparem descidas de taxas antes da segunda metade de 2024.

Este cenário está, é claro, sujeito a diversos riscos. O mais recente desses riscos encontra-se no potencial impacto que uma escalada do confito no Médio Oriente pode ter nos preços do petróleo e, por consequência no valor da inflação.

Uma coisa é certa, contudo: mesmo sem subir mais as taxas de juro, a política monetária do BCE, ao manter por um período prolongado de tempo o actual nível elevado de juros, irá continuar, para além de puxar a inflação para baixo, a ser um peso negativo na situação financeira das famílias e empresas endividadas da zona euro, limitando também a evolução da actividade nas diversas economias da zona euro.

Para os portugueses com contratos de crédito a taxa variável, o principal efeito prático desta nova fase da política monetária do BCE é que provavelmente se assistirá nos próximos meses a uma estabilização das taxas Euribor, algo que irá resultar - após as actualizações que levem em conta ainda as subidas dos últimos meses - numa manutenção do valor das prestações de crédito ao nível em que se encontram.

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