Astronautas-análogos simulam ambiente lunar na Gruta do Natal nos Açores

Esta é a primeira missão em Portugal que procura simular uma viagem humana à Lua. O interior de uma gruta da ilha Terceira é o cenário da estadia, durante uma semana, de sete pessoas de cinco países.

Foto
Gruta do Natal, na ilha Terceira (Açores) Marc Bluhm
Ouça este artigo
00:00
03:30

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Gruta do Natal, na ilha Terceira, Açores, composta por túneis de lava, vai ser palco de um treino de sete astronautas, que durante sete dias vão lá estar isolados a simular o ambiente lunar, foi revelado esta quinta-feira.

“O que vai acontecer é uma simulação lunar. Ou seja, é um treino espacial. Vamos passar sete dias, seis noites nesta gruta vulcânica a simular um ambiente lunar”, explicou à agência Lusa Ana Pires, investigadora do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) e comandante da missão.

Trata-se da primeira missão análoga lunar, que vai decorrer de 22 a 28 de Novembro, integrando uma equipa de sete pessoas, de diferentes nacionalidades.

O projecto é promovido pela Associação “Os Montanheiros”, que gere a Gruta do Natal, e pelo Inesc Tec. Será oficialmente apresentado a 8 de Novembro, nas instalações do Laboratório de Robótica e Sistemas Autónomos do Inesc Tec.

Foto
Gruta do Natal, na Ilha Terceira (Açores) Marc Bluhm

“É um orgulho enorme para a região oferecermos este local de experiência para termos finalmente em Portugal, nos Açores, e em concreto na ilha Terceira, um sítio para a comunidade nacional e internacional desenvolver missões análogas lunares”, destacou Ana Pires.

A investigadora adiantou que se trata da “primeira missão análoga lunar em Portugal”, explicando que a Gruta do Natal, que está aberta ao público, “oferece todas as condições e segurança” para o treino e a expectativa é que, em 2024, a Gruta do Natal seja um novo local para missões análogas.

“E, ao fazermos estes treinos, ao estarmos num ambiente confinado, conseguimos testar tecnologias, fazer ciência, realizar imensas experiências, mas também testarmos os nossos próprios limites como humanos", explicou à Lusa.

Foto
A Gruta do Natal (na ilha Terceira) é composta por túneis de lava Marc Bluhm

Esta é a primeira missão do projecto Camões – Caving Analog Mission for Ocean, Earth and Space Exploration – que “irá permitir tornar os Açores “um test bed para astronautas de todo o mundo”, realçou ainda a coordenadora da missão.

“A gruta é um tubo de lava fantástico que oferece todas as condições de segurança e logística. E, em termos geológicos e científicos, vai ser fantástico viver durante sete dias lá dentro", vincou Ana Pires.

“Os astronautas de diversas agências espaciais como a ESA [Agência Espacial Europeia] e a NASA têm procurado este tipo de estruturas e cenários para realizar os seus treinos de geologia planetária, isto porque existem similaridades com os tubos de lava existentes em Marte e na Lua”, realçou a investigadora.

A tripulação desta primeira missão é composta por uma equipa de sete pessoas, de cinco países e que falam oito idiomas. Serão realizados estudos em vários sectores, treinos, testes de tecnologias, recolhas de dados, entre outras actividades científicas.

Do lado de fora, especialistas em espeleologia, vulcanismo, microbiologia, geoquímica e medicina espacial actuarão como equipa de controlo da missão. Em permanência estará uma equipa médica multidisciplinar, voluntária no projecto.

Ana Pires revelou também que esta primeira missão será “comandada por duas mulheres”. Das sete pessoas na gruta, três são mulheres, precisou a investigadora, revelando que o projecto tem uma forte componente pedagógica, pois levará esta missão às escolas do Continente, Açores e Estados Unidos”, através de videoconferência, a partir da gruta”.

“Este será um marco no posicionamento de Portugal nesta área”, considera João Claro, CEO do Inesc Tec, frisando que se trata de uma iniciativa de “grande envergadura que demonstra o potencial do país, não só em termos de recursos naturais e geológicos, com altos níveis de fidelidade, mas também ao nível da capacidade das instituições e dos nossos investigadores”.