Montenegro quer pacto na saúde para acabar com “hipocrisia assente em pés de barro”
Líder social-democrata diz que o que está em causa não é um entendimento “entre PS e PSD”, mas o “estabelecimento de regras de funcionamento” de um sistema de saúde que contemple os três sectores.
O presidente do PSD defendeu esta quarta-feira um pacto nacional para a saúde, que envolva Governo, partidos e os sectores público, social e privado, para acabar com a "hipocrisia assente em pés de barro" de que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) será suficiente. No final de uma audiência com o Presidente da República, Luís Montenegro defendeu que "o sector da saúde precisa de uma diligência forte com uma dimensão estratégica e estrutural".
"Precisamos em Portugal de um pacto nacional para a saúde, que envolva Governo, partidos políticos e todos os sectores de actividade, público, privado e social", afirmou.
Questionado sobre se irá procurar falar com o primeiro-ministro sobre este pacto, o líder do PSD clarificou que o entendimento que defende "não é entre PS e PSD", mas passa pelo "estabelecimento de regras de funcionamento" de um sistema de saúde que contemple os três sectores.
"É uma divergência que, durante muitos anos, foi estabelecida entre PS e PSD por capricho ideológico. Este capricho e ideologia deram mau resultado e assentam em pés de barro", defendeu.
Montenegro disse querer denunciar "uma hipocrisia em Portugal" no sector da saúde: "Toda a gente sabe que nos centros de saúde, nos hospitais, se não fossem os prestadores de serviços externos, os tarefeiros, o caos seria muito pior". "Já se percebeu que o SNS nunca vai ter os médicos que precisa, por este andar", insistiu.
Esta audiência a Marcelo Rebelo de Sousa foi pedida pelo presidente do PSD na terça-feira, com urgência, tendo até interrompido uma iniciativa em Vila Real por ter ficado preocupado com o alerta do director executivo do SNS para a possibilidade de um "Novembro dramático" no sector.
Sem revelar o teor da conversa com Marcelo Rebelo de Sousa, o líder social-democrata disse ter a percepção de que o Presidente da República compreendeu os argumentos que expôs.
Montenegro apelou a que o Governo não aumente ainda mais a intranquilidade dos portugueses e que "promova a paz e estabilidade com os médicos", acusando o ministro da Saúde e o director executivo do SNS de, nos últimos dias, terem confundido os seus papéis. "Acreditamos que é possível e é desejável que se chegue a um acordo com os médicos", disse.
Ainda assim, o líder do PSD avisou que nem todos os problemas do SNS dependem desse acordo. "É preciso falar verdade e não criar uma falta expectativa e evitar que o ministro da Saúde apareça a funcionar como director executivo e o director executivo a apresentar-se como ministro da Saúde", disse, estranhando duas entrevistas consecutivas de Fernando Araújo e Manuel Pizarro em que, considerou, interferiram nas competências um do outro.
Montenegro acusou o Governo de "completo erro da definição de políticas na área da saúde", com responsabilidade máxima para o primeiro-ministro, considerando que, neste momento, já não se coloca apenas o problema da falta de acesso dos portugueses aos serviços, mas da sua segurança.
"O doutor António Costa quis dar uma solução ao SNS que não resultou, foi um fracasso completo e desembocou no caos que está iminente", disse, apelando a que ainda tenha o bom senso de projectar o sistema de saúde dos portugueses para "as próximas duas ou três décadas".
Luís Montenegro não quis, à saída do Palácio de Belém, responder a perguntas sobre outros temas, como as declarações do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sobre o conflito entre Israel e o Hamas.