Orgia em paróquia da Polónia obriga bispo a demitir-se

Padre é acusado de organizar uma orgia num apartamento detido pela Igreja e de ter dificultado a assistência médica a prostituto que ficou inconsciente por overdose de estimulantes sexuais.

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A Polónia é um dos países da Europa em que mais pessoas se declaram católicas, apesar de um decréscimo nos últimos anos em número de fiéis e de vocações Nuno Ferreira Santos
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O bispo de uma diocese no Sul da Polónia demitiu-se do cargo depois de uma paróquia que estava sob a sua alçada se ter tornado no centro de um escândalo sexual que está a abalar a Igreja Católica naquele país.

Em Dabrowa Górnicza, uma pequena cidade nos arredores de Katowice, um padre está a ser acusado de ter organizado uma orgia que envolveu um prostituto que, a dada altura, se sentiu mal e precisou de assistência médica. De acordo com o jornal Gazeta Wyborcza, que revelou o caso em Setembro, os participantes na festa tomaram estimulantes sexuais em grande quantidade e o prostituto acabou por perder os sentidos devido a uma overdose.

Um dos presentes chamou então os serviços de emergência, mas os paramédicos terão sido impedidos de entrar no apartamento em que decorria a festa. Só a intervenção da polícia, que o jornal diz ter sido chamada pelos paramédicos, permitiu prestar socorro ao homem que se encontrava inconsciente.

A procuradoria polaca abriu um inquérito para investigar as circunstâncias em que decorreu a festa. Até agora, ninguém foi acusado de qualquer crime, mas o padre é suspeito de “recusar prestar assistência a uma pessoa que tinha a vida em risco”, disse um procurador, citado pelo National Catholic Reporter.

Na carta que enviou ao Papa Francisco e que divulgou aos fiéis, Grzegorz Kaszak não especificou as razões pelas quais decidiu abandonar a diocese de Sosnowiec, que liderava desde 2009. Mas o bispo estava sob pressão desde a revelação do escândalo, que foi parcialmente confirmado por uma comissão de inquérito diocesana que o próprio Kaszak instituiu com carácter de urgência.

“O padre Tomasz Z., conjuntamente com outras duas pessoas leigas, cometeu uma violação muito grave das normas morais, que a Igreja não consente e condena fortemente”, dizia um comunicado dessa comissão, no início de Outubro. O sacerdote era acusado de “violar gravemente as obrigações decorrentes da sua condição de clérigo” e, “tendo em conta o grande escândalo entre os fiéis”, a comissão informava que o bispo tinha decidido abrir um processo “no qual as mais severas punições eclesiásticas, incluindo a expulsão do clero, podem ser aplicadas”.

Inicialmente, o padre Tomasz reagiu às notícias com um comunicado em que rejeitou que o termo “orgia” se pudesse aplicar à festa. “Entendo isto como um ataque óbvio à igreja, incluindo aos clérigos e aos fiéis, com o intuito de humilhar a sua posição, tarefas e missões”, escreveu o sacerdote, entretanto suspenso de todas as suas funções, incluindo a de editor local da revista católica Niedziela.

Grzegorz Kaszak já tinha escrito uma carta aos crentes da diocese em que pedia desculpas “a todos os que ficaram afectados ou tristes, ou até escandalizados, com a situação” e em que pedia orações “pela conversão do irmão que cometeu um acto escandaloso”.

Esta não foi a primeira vez que a diocese de Sosnowiec se viu envolvida em polémicas durante a liderança deste bispo. Em 2010, segundo a agência de notícias PAP, o reitor de um seminário envolveu-se numa briga num clube gay e só foi afastado do cargo por intervenção directa do Vaticano. Já este ano, um diácono foi assassinado por um padre que depois se suicidou.

Andrzej Kobyliński, um padre e filósofo que se tem dedicado a estudar a Igreja Católica na Polónia, comentou a vários meios de comunicação que a demissão de Kaszak peca por tardia. “Foi uma muito boa decisão do Papa Francisco, embora tenha demorado”, disse ao jornal Onet, comentando que a situação “foi demasiado longe” porque “há vários anos que havia muitos sinais” de que eram precisas “mudanças específicas na diocese”. Kobyliński disse ainda duvidar que a renúncia tenha sido da iniciativa do próprio bispo, acreditando mais que tenha havido pressões de Varsóvia ou do próprio Vaticano. Para o lugar de Kaszak foi nomeado temporariamente o arcebispo de Katowice, Adrian Galbasa, que se encontra precisamente em Roma a participar no sínodo dos bispos.

Embora a percentagem tenha decrescido em mais de dez pontos percentuais numa década, a Polónia continua a ser um dos países da Europa em que mais pessoas se declaram católicas (71%, segundo os últimos censos, de 2021). Um relatório da própria Igreja, divulgado há menos de um mês, revelou que um número crescente de fiéis se está a afastar da prática religiosa regular, sobretudo entre as pessoas com menos de 40 anos.

A aparente proximidade entre a hierarquia da Igreja e o Partido Lei e Justiça (PiS), que tem governado o país desde 2015 e tomou algumas decisões muito polémicas, como a proibição quase total do aborto, foi um dos motivos que levou ao afastamento de muitos crentes. A Igreja polaca atravessa, ainda, uma grave crise de credibilidade devido aos sucessivos casos de abusos sexuais de menores que têm sido revelados nos últimos anos.

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