Tempestades de Outubro levaram estufas, mas não deixaram muita água

As fortes chuvadas do último fim-de-semana deixaram nas albufeiras nacionais um acréscimo de 252 hectómetros cúbicos. No Sul do país o aumento foi quase imperceptível.

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Os danos causados às estufas, principalmente nos plásticos e estruturas metálicas, obrigam à sua reposição total na região de Huelva GettyImages
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Pode dizer-se que das chuvas copiosas deixadas pelas tempestades Aline e Bernard em quase todas as regiões da Península Ibérica, não resultou até esta terça-feira num acréscimo significativo nas reservas de água tanto em Espanha como em Portugal. Resta esperar pelo benefício da chuva que ainda vai cair nos próximos dias.

Com efeito, observando os boletins semanais de armazenamento dos dois países, a chuva intensa que se verificou no último fim-de-semana veio beneficiar, em Espanha, as regiões do Cantábrico, Galiza e País Basco. Em Portugal a mãe natureza voltou a privilegiar as regiões a norte do Tejo onde a precipitação atmosférica é sempre mais acentuada.

No Sul e sobretudo no Sudoeste da Península Ibérica, as tempestades Aline e Bernard, alimentaram, sobretudo, as expectativas dos agricultores que saíram, de novo, goradas. Em vez de engordar as albufeiras, as tempestades deixaram um rasto de destruição.

Mais complicada ainda ficou a vida dos produtores de framboesa e morango na região de Huelva, no Sul de Espanha, que nas últimas semanas têm reclamado água de Alqueva para garantir as suas produções. A tempestade Bernard foi de tal forma devastadora que muitos agricultores admitem que teve consequências “catastróficas” para algumas culturas, especialmente para as framboesas.

“Está tudo destruído”, desabafou um produtor de framboesa ao diário regional Huelva Información. Os danos causados às estufas, principalmente aos plásticos e às estruturas metálicas, obrigam à sua reposição total.

A campanha já está perdida, não se recupera, é impossível, garantiu outro agricultor ao mesmo jornal. “Basta dar uma olhada para ver que todas as fazendas foram afectadas, umas um pouco mais e outras um pouco menos, mas praticamente ficou tudo destruído”. E “não foi uma tempestade de vento qualquer, foi um verdadeiro furacão que devastou tudo”, acentua, convicto de que as perdas podem ser praticamente cem por cento”. Então isso é uma ruína total”.

Numa primeira análise aos prejuízos causados, a Freshuelva, Interfresa, Associação de Citrinos da Província de Huelva, UPA, Asaja, Cooperativas Agro-Alimentarias Huelva e a Associação de Comunidades de Irrigação de Huelva, num comunicado conjunto, anunciaram que “a tempestade afectou 2000 hectares de framboesas, bem como a produção do sector de morango”.

E a água da chuva para onde foi?

As albufeiras espanholas na bacia do Guadiana em território espanhol registaram no dia 23 de Outubro um acréscimo global de apenas 74 hectómetros cúbicos (hm3) comparativamente com os dados verificados antes do temporal do fim-de-semana. Na bacia do Douro, também no outro lado da fronteira, houve um aumento de 103hm3 e na bacia do Tejo o volume de água subiu mais 175hm3.

A reserva de água espanhola está nos 35,6% da sua capacidade total. E os reservatórios apresentam actualmente 19.945 hectómetros cúbicos (hm3) de água, mais 577hm3 em relação à semana anterior, ou seja, apenas 1,0% da capacidade total actual nos níveis de armazenamento.

Nas 82 barragens públicas portuguesas supervisionadas pelo Serviço Nacional de Informação de Recursos Hídricos registava-se na segunda-feira o aumento no volume de água armazenado em 14 bacias hidrográficas e a diminuição numa.

Das albufeiras monitorizadas, 31% apresentavam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 24% tinham disponibilidades inferiores a 40% da sua capacidade máxima de enchimento. Os armazenamentos apresentavam-se por bacia hidrográfica, inferiores às médias de armazenamento do mês de Outubro, excepto para as bacias dos rios Lima, Cávado/ribeiras costeiras, Douro, Vouga, ribeiras do Oeste, Tejo e Guadiana.

Depois da tempestade, venha mais chuva para o Sul

No Sul do país e nas 27 barragens das bacias do Sado, Guadiana, Arade, Barlavento e Sotavento algarvio, apenas seis têm uma reserva de água acima dos 50%.

Nas barragens de Campilhas e Monte da Rocha (bacia do Sado) Vigia (bacia do Guadiana), Arade (bacia do Arade) e Bravura (Barlavento algarvio) o nível de armazenamento manteve-se inalterado e no vermelho. A albufeira da Barragem de Santa Clara de onde segue a água para irrigar o perímetro de rega do Mira, o volume de armazenamento não sofreu alteração. Mantém-se nos 31% e muito abaixo do nível que define o caudal morto desta problemática reserva de água que dá suporte à produção de frutos vermelhos nos concelhos de Odemira e Aljezur.

O volume de água que foi acrescentado à cota global das barragens públicas portuguesas foi de 252hm3, (1,9%).

Apesar de a região de Huelva ter sido uma das mais fustigadas pela tempestade Bernard, o nível das albufeiras das barragens de Andévalo e do Chança – as duas maiores reservas de água que abastecem o regadio, o consumo humano e a indústria mineira na bacia hidrográfica dos rios Tinto, Odiel e Piedras teve um aumento insignificante no volume de água armazenada: apenas 7hm3. Neste cenário continua a justificar-se o apelo de Espanha ao transvase de água a partir de Alqueva, pois o volume de água armazenado nas duas albufeiras, é de 29,9%.

Espera-se que nos próximos dias as escorrências resultantes do encharcamento dos solos e da eventual reposição de muitos aquíferos subterrâneos se traduzam em maiores escorrências para as linhas de água que transportarão as afluências geradas para as albufeiras. Contudo, só na próxima semana é que será possível fazer uma leitura mais precisa do nível de armazenamento existente nas reservas de água da Península Ibérica.