O primeiro laboratório português vocacionado para a análise da saúde e das funções dos solos foi inaugurado, na sexta-feira, em Arruda dos Vinhos. Trata-se, também, do segundo laboratório com estas características na Península Ibérica (existe um na cidade espanhola de Valhadolid) e, segundo os seus responsáveis, há já uma lista de espera de amostras, nacionais e internacionais, que vão começar agora a ser avaliadas neste novo espaço científico.

Criado no âmbito do ArrudaLab, projecto mais amplo dedicado à investigação e formação na área da agro-indústria que contempla também uma incubadora de empresas, o novo laboratório de saúde e funções dos solos está instalado num espaço dos antigos Paços do Concelho de Arruda dos Vinhos, cuja obra de requalificação foi inaugurada numa cerimónia presidida pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva. Neste projecto foram investidos cerca de 1 milhão de euros, comparticipados pelo Programa Operacional do Centro, no âmbito do Portugal 2020.

Helena Vazão, responsável pelo funcionamento do laboratório, explicou que as análises que ali podem ser realizadas permitem perceber e avaliar as características e o estado dos solos, os problemas que os afectam e as suas condições de sustentabilidade e de adaptação às diferentes culturas. “Podemos ajudar os agricultores a melhorarem os seus solos. Portugal não tinha nenhum laboratório com estas características. Vamos ter capacidade para trabalhar para Portugal e para o estrangeiro e já temos muitas amostras em lista de espera”, afiançou Helena Vazão, admitindo que a maior parte delas são internacionais, mas que esta é uma área que vai crescer também entre os agricultores portugueses.

O ArrudaLab resulta também de parcerias com o Instituto Politécnico de Santarém e com a Food4Sustainability, associação com sede em Idanha-a-Nova dedicada à inovação na produção alimentar sustentável, que contribui com 250 mil euros para o projecto global e para a instalação do laboratório. Nuno Serra, representante da Food4Sustainability, salientou que, com a inauguração deste laboratório “somos pioneiros em Portugal” e que esta localização é também fruto de um conjunto de parcerias que foi possível desenvolver em Arruda dos Vinhos.

“O ArrudaLab, para nós, começou em Maio de 2021. Foi-nos apresentado como uma folha em branco na qual iríamos escrever e vimos logo que não era só um sonho. Não só para nós enquanto laboratório colaborativo, mas também para outros parceiros. Temos todos uma grande responsabilidade na transição da agricultura para projectos mais sustentáveis”, observou Nuno Serra, vincando que o ArrudaLab será um importante pólo de investigação, de inovação e de conhecimento para as empresas do sector agro-alimentar.

Já André Rijo, presidente da Câmara de Arruda dos Vinhos, frisou que a recuperação do antigo edifício dos paços do concelho por si só já tinha valor, mas que poder criar ali um “centro de inovação para a agro-indústria” e um pólo de dinamização do centro histórico da vila é ainda mais significativo. “Os jovens deste concelho têm que ter um futuro e o ArrudaLab é mais uma peça para que isso possa acontecer. Hoje temos o primeiro laboratório de saúde e funções dos solos do nosso país e o segundo da Península Ibérica. É importante para o concelho e para o país. É isso que queremos continuar a desenvolver. Precisamos de perceber que a base da nossa alimentação começa nos solos”, salientou o autarca arrudense, considerando que é preciso olhar mais para esta área. “O mais fácil está feito, que era a obra. Agora é importante pôr a máquina a funcionar”, rematou.

Mariana Vieira da Silva observou, por seu turno, que Portugal tem tido uma evolução e um crescimento da sua economia por vezes até considerado surpreendente. “Esta lógica virtuosa está também muito visível neste local, que é muito aquilo que tem sido o caminho seguido no nosso país, em que a inovação, o conhecimento, as exportações e as mais-valias não estão só nas grandes cidades, mas podem estar também um pouco por todo o lado, para que possamos continuar a crescer, sempre mais e com mais qualificação”, frisou a governante, destacando o desenvolvimento deste projecto pioneiro em Arruda dos Vinhos e destacando a forma como o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) também apoia as chamadas “agendas mobilizadoras”, que “podem impulsionar a nossa economia”.

“É para isto que servem e que têm servido os fundos europeus. Aqui estamos a preparar o futuro, de Arruda dos Vinhos para o mundo”, concluiu Mariana Vieira da Silva.

O edifício do ArrudaLab agora inaugurado tem capacidade para incubar quatro ou cinco empresas do sector agro-industrial (candidaturas abertas) e contempla também uma parceria com a aceleradora de base tecnológica Building Global Innovators. Dispõe, igualmente, de salas para formação e palestras. A Câmara de Arruda dos Vinhos vai ainda celebrar acordos com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com o Instituto Superior Técnico (Lisboa) e com o Instituto Politécnico de Santarém, com vista à “cooperação técnico-científica” e à “colaboração nos processos de investigação e desenvolvimento de projectos”.