Com o aquecimento climático a conduzir a uma maior utilização de ar condicionado em todo o mundo, dezenas de países, incluindo a China, a Índia e os Estados Unidos, estão a ser chamados para um compromisso global que exige uma redução de, pelo menos, 68% das emissões relacionadas com a refrigeração até 2050, disseram fontes à Reuters.
O Compromisso Global de Refrigeração - que deverá ser anunciado na próxima cimeira das Nações Unidas sobre o clima, COP28 - representa um pedido difícil, dado que se prevê que a indústria da refrigeração continue a crescer.
As emissões tanto dos sistemas de refrigeração como da energia utilizada no arrefecimento representam actualmente cerca de 7% das emissões globais de gases com efeito de estufa, prevendo-se que tripliquem até 2050, à medida que as temperaturas continuam a subir.
Além dos cerca de dois mil milhões aparelhos de ar condicionado actualmente existentes, serão instalados mais três mil milhões de aparelhos em todo o mundo, afirmou Noah Horowitz, director do programa da organização sem fins lucrativos Clean Cooling Collaborative. "Não podemos simplesmente manter o business as usual".
A Presidência da COP28, assumida pelos Emirados Árabes Unidos, está a liderar o compromisso juntamente com a Coligação para o Arrefecimento do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA).
Impossível sobreviver sem ar condicionado?
Com a temperatura global actualmente 1,2 graus Celsius mais quente, em média, do que durante a era pré-industrial, o mundo está a assistir a ondas de calor mais intensas. Com um aquecimento de 1,5 graus Celsius, centenas de milhões de pessoas poderão enfrentar todos os anos pelo menos uma semana de calor húmido mortal, que será impossível de sobreviver sem acesso a equipamentos de refrigeração.
A concretização dos compromissos assumidos exigirá grandes investimentos na instalação de tecnologias de arrefecimento mais sustentáveis, com a ajuda de incentivos governamentais e de fornecimentos em grande escala, segundo os especialistas.
Será também necessário que as redes eléctricas passem a utilizar energias renováveis, uma vez que, actualmente, a utilização de ar condicionado e de ventoinhas para se manterem frescas representa quase 20% do consumo mundial de electricidade, de acordo com a Agência Internacional da Energia.
"Precisamos de refrigeração, mas ela tem de se tornar mais eficiente", afirmou Lily Riahi, coordenadora mundial da Coligação para o Arrefecimento do PNUA.
Emissões de carbono, mas não só
O compromisso, que marcaria o primeiro esforço colectivo mundial em matéria de emissões de energia provenientes do sector do arrefecimento, apela aos países para que reduzam as suas emissões relacionadas com o arrefecimento em pelo menos 68% até 2050, em comparação com o valor de referência de 2022, de acordo com o texto negociado do compromisso visto pela Reuters. Este compromisso incluiria a luta contra os hidrofluorocarbonetos (HFC) utilizados na refrigeração, mas também o consumo de electricidade.
O compromisso vem juntar-se aos esforços iniciados no âmbito da Emenda de Kigali ao Protocolo de Montreal em 2016, que apela a uma redução gradual da produção e do consumo de HFC - um dos gases com efeito de estufa mais potentes - nas tecnologias de refrigeração.
Outros 13 compromissos delineados no projecto de compromisso incluem o estabelecimento de normas mínimas de desempenho energético para o ar condicionado até 2030 e a inclusão das emissões de refrigeração nos planos de acção climática dos países, chamados de Contribuições Nacionalmente Determinadas.
Os signatários terão também de publicar até 2026 os seus próprios planos de acção nacionais para climatização e comprometer-se a apoiar a instalação de tecnologias de ar condicionado mais eficientes.
Cidades e sector privado
Ainda não é claro quais dos 40 ou mais países até agora consultados sobre o compromisso irão aderir ao pacto na cimeira de duas semanas da COP28, que começa a 30 de Novembro no Dubai.
Um porta-voz da COP28 disse que os organizadores do compromisso também ainda estão a tentar perceber como abordar no compromisso o papel dos governos subnacionais, principalmente das cidades. O envolvimento do sector privado para apoiar o compromisso também está a ser analisado.
O PNUA estima que os esforços globais para combater as emissões de gases com efeito de estufa poderão ter um impacto significativo até 2050, evitando a libertação de até 86 mil milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono equivalente. Em comparação, as emissões de CO2 relacionadas com a energia ascendem a cerca de 37 mil milhões de toneladas métricas por ano.