Na Minha Estante: Helena Magalhães
O desafio era simples: diz-nos o que andas a ler, que livro marcou a tua vida ou que autor compras sem hesitar. Estas são as escolhas de Helena Magalhães, escritora.
Qual o teu livro favorito?
É impossível para mim ter só um livro favorito. Eu gosto de histórias de mulheres que me façam pensar, histórias de mulheres resilientes, como por exemplo, Lições de Química, de Bonnie Garmus, ou os livros de Valérie Perrin. A minha lista é infindável, por isso eu não consigo dizer um livro favorito. Todos os que estão na estante são favoritos. Os livros de que eu não gosto não estão na minha estante.
Qual o livro que releste mais vezes?
Eu releio muitos livros, mas há dois que eu reli muitas vezes quando era mais nova, As Raparigas de Riade, de Rajaa Al-Sanea. Acho que este livro já nem está publicado em Portugal, eu li há muitos anos. E o Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides, foi um livro que eu reli imensas vezes também. No caso do Abelhas e Trovoada ao Longe, temos este grupo de mulheres árabes a tentar fugir das convenções, o que na altura me fascinou imenso. No Virgens Suicidas, que eu acho que não há ninguém que não conheça, nem que seja por ter visto o filme, temos estas irmãs e tudo o que está na cabeça de cada uma delas, que sempre me fascinou muito.
Qual foi o último livro que leste?
O último livro que eu li foi o Abelhas e Trovoadas Ao Longe, de Riku Onda. Este livro é de uma autora japonesa e é fascinante. Gosto destes livros que nos mostram e nos dão a conhecer outros universos e este livro leva-nos para o universo da música clássica. É um livro cheio de musicalidade, que nos mostra outra cultura, mas também um livro que nos transporta para um mundo que eu acho que a maioria de nós não conhece.
Qual a tua série de livros favorita?
Não tenho uma série favorita, mas eu tenho uma coisa que eu faço que pode ser boa ou pode ser má. Quando gosto de uma autora e descubro uma autora, eu compro tudo o que houver dessa autora. Se formos a ver a minha colecção, eu tenho todos os livros que existem em Portugal de uma série de autoras, como Leïla Slimani, Elizabeth Strout, Meg Wolitzer, Ali Smith.
Tens uma sugestão de um livro para se ler nas férias?
Vou sugerir A Medida, de Nikki Erlick. Este livro é fascinante, leva-nos para uma realidade, não vou dizer alternativa porque é estranho, mas em que toda a gente sabe quando é que vai morrer. E esta autora pegou nesta questão filosófica que é a questão da morte e criou este livro absolutamente inteligente e fascinante onde nós vemos como o mundo mudaria se todos nós soubéssemos à partida o dia da nossa morte. De que forma é que isso ia mudar a sociedade? O que é que será mais essencial para nós quando sabemos exactamente quando é que vamos morrer? Que género de preconceitos vão acontecer no mundo entre as pessoas que têm uma vida curta ou uma vida longa? É um livro que nos faz pensar em tudo à nossa volta.
Há uma personagem de livro com quem te identifiques?
Eu acho que eu não me identifico com nenhuma personagem, porque para mim os livros não são espelhos. Eu não gosto de ler livros com personagens iguais a mim ou que eu acho que sejam parecidas comigo. Eu gosto de ler livros com personagens absolutamente diferentes porque para mim os livros são portas. Mas, assim de repente, dois livros que eu li e que as personagens me fizeram pensar e ver um mundo com outros olhos posso dizer O Meu Ano de Repouso e de Relaxamento, de Ottessa Moshfegh, que nos faz pensar sobre o mundo em que nós vivemos hoje em dia, acelerado, e o impacto que isso vai ter na nossa saúde mental. Também posso destacar Os Otimistas, de Rebecca Makkai. Este foi daqueles livros que eu acabei de ler e eu só pensava como é que estas personagens saíram de dentro desta autora, como é que ela criou todas estas pessoas e como é que as histórias delas me tocaram tanto, apesar de não terem nada a ver comigo.
Consegues seleccionar um livro que te fez chorar?
Acho que a pergunta certa seria um livro que não me fez chorar, porque eu choro com tudo, choro imenso. Estou a lembrar-me de dois em que eu chorei horrores. A Última Livraria de Londres, de Madeline Martin. Este livro fez-me chorar convulsivamente. É passado em Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, e há uma pequena livraria que vai sobrevivendo às bombas e que vai salvar um grupo de pessoas nos tempos de maiores crises. Quando eu li As Mensageiras da Esperança, de Jojo Moyes, achei que era um livro de que não iria gostar. Este livro leva-nos para os anos 30 e conta a história destas personagens femininas que levavam livros a cavalo pelas montanhas às famílias mais isoladas.
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